Cabeça da múmia que causava curiosidade tem mistério desvendado com a ajuda da polícia
Tudo aconteceu nos Estados Unidos, onde uma história de mistério que envolve múmias e a polícia tem tudo para se tornar um roteiro de cinema de tão surreal.
Se alguém nos contasse que um grupo de ladrões invadiu uma tumba para saquear tesouros antigos de uma múmia e no processo, sem querer, derrubaram a cabeça de uma delas, nós provavelmente julgaríamos a situação como se tratasse de uma ficção.
Mas foi exatamente isso que aconteceu, antes da cabeça da múmia ter sido descoberta por arqueólogos em 1921.
“Ela foi encontrada no caixão do governador, mas nunca tivemos certeza se era a cabeça dele ou de sua mulher”, disse Rita Freed, curadora do museu.
O resto do corpo continuou no Egito, mas a cabeça ficou famosa e passou a ser exposta em outros lugares. O que mais chamava a atenção nela eram as suas sobrancelhas pintadas, uma expressão sombria e cabelos castanhos ondulados e seu olhar espreita por meio das ataduras esfarrapadas.
Para descobrirem se a cabeça se tratava do governador ou de sua esposa, os pesquisadores precisavam de um teste de DNA. “O problema foi que, naquele momento, em 2009, não era possível extrair com sucesso o DNA de uma múmia de quatro mil anos”, disse Freed.
Atualmente, já é possível decifrar a identidade desta e de outras múmias famosas, graças ao exame feito com as células tronco.
“Eu honestamente não esperava que desse certo. Na época, havia a crença de que não era possível obter o DNA de restos egípcios antigos”, disse Odile Loreille, cientista forense do FBI.
Identidades
Eles concluíram que Djehutynakht e sua esposa viveram cerca de dois mil anos a.C. e que diversos hieróglifos valiosos tinham sido retirados de suas tumbas, já que era um costume que governadores fossem embalsamados desta forma. Os dois governaram uma província no Egito.
“Esse caixão é uma obra-prima clássica da arte do Reino Médio. Ele tem elementos de um tipo raro de realismo”, disse Marleen De Meyer, diretora assistente de Arqueologia e Egiptologia no Instituto Holandês no Cairo, que entrou novamente na tumba em 2009.
Algumas partes do rosto da múmia também estavam faltando. Isso porque existia em ritual que dizia que a mandíbula dos mortos deviam ser retiradas para facilitar a alimentação das múmias após a morte.
“Do lado de fora, não dava para dizer que a múmia tinha sido tão remexida internamente”, disse o Dr. Rajiv Gupta, neurorradiologista no hospital. “Todos os músculos envolvidos na mastigação e no mecanismo de fechamento da boca e os pontos de fixação desses músculos, tinham sido retirados”.
Resultado
Em 2016 a coroa do dente da múmia sem cabeça foi enviada ao laboratório do FBI em Quantico, Virgínia, para ser examinado por uma mulher chamada Loreille.
Loreille possui mais de 20 anos de experiência em identificar DNA antigo. Ela já trabalhou identificando vitimas da guerra na Coréia e até mesmo pessoas que se afogaram no naufrágio do Titanic.
Ela perfurou o núcleo do dente e transformou aquele pó que saiu de lá em uma biblioteca de DNA. Isso ampliou a quantidade de DNA com a qual estava trabalhando, como uma máquina fotocopiadora, para conseguir níveis detectáveis.
Com isso, afirmou que a cabeça era de fato de Djehutynakht.
“Conseguir coletar dados de múmias egípcias é um dos cálices sagrados do DNA antigo. Foi emocionante ver que Odile conseguiu um material que parecia realmente ser DNA antigo autêntico”, disse Pontus Skoglund, geneticista no Instituto Francis Crick, em Londres, que ajudou a confirmar a exatidão da constatação enquanto era um pesquisador de Harvard.
Fonte: Uol