Lázaro Ramos é, sem dúvidas, um dos homens mais competentes do Brasil. Hoje, com 38 anos, ele escreveu sua primeira biografia que conta detalhes de sua vida íntima. Mas tudo ganha um grau de emoção mais intenso quando o ator lembra da mãe e do racismo que viveu sua vida toda.
Quando era criança, o ator sempre visitava a mãe, que morava na casa onde trabalhava como doméstica mas não pertencia a ela, e brincava com os netos da patroa, que sempre fez questão de lembrá-lo de que não ele fazia parte dali.
Lázaro também estudei em um colégio particular que só tinha uma menina negra, que não queria andar com ele. Tudo isso compõe o laço sem fim do racismo.
Mas, no fundo, o assunto que mais mexe com o ator é falar de sua mãe, Célia. Em entrevista recente à revista Marie Claire, ele conta o quanto ela era bem-humorada e sonhadora, com um jeito de falar encantador e muito bonita.
Entretanto, a coisa que mais o irritava em relação a ela era o fato de ser completamente ingênua, a ponto de emprestar dinheiro a todo mundo e ficar sem nada.
A fase mais difícil de sua vida foi quando ela faleceu com apenas 45 aos vítima de uma doença rara, chamada paraparesia espástica. Foi perdendo os movimentos, usou muleta, cadeira de rodas, até ficar na cama. “Minha mãe é uma incógnita: como uma pessoa pode oferecer tanta coisa boa vivendo numa situação tão precária?”, diz o ator.
Já seu pai, Ivan, sempre foi calado. Seu afeto era expressado em ações. “Eu, ao contrário, falo muito ‘eu te amo’ para meus filhos. Meu pai não fazia isso, mas, há uns seis anos, ele e eu tivemos pela primeira vez uma briga e, no meio da discussão, ele soltou: ‘Você nunca me abraça’. Foi lindo. Só consegui responder: ‘Você queria abraço? Nem sabia que você gostava de abraço!’. Chorei demais e o enchi de abraço”, conta.
A família é o bem mais precioso e Lázaro sabe bem disso, principalmente após construir sua família com a atriz Taís Araújo. No entanto, o que aprendeu com sua mãe e seu pai ainda está presente em sua vida e prova que todos nós, seres humanos, somos iguais em relação a falta que sentimos daqueles que mais amamos.
O racismo no país tornou-se algo decorrente de anos e anos, infelizmente, mas o ator, apesar de sempre lutar contra isso, leva a vida com levez e humor, algo que todos nós deveríamos aprender a fazer também.
Fotos: Arquivo Pessoal, Bob Wolfenson