Uma joia escondida no catálogo da Netflix
Entre centenas de produções disponíveis na Netflix, algumas obras notáveis passam despercebidas. Esse é o caso de O cerco de Jadotville, uma produção de 2016 que, embora tenha uma narrativa intensa e embasada em fatos históricos, não recebeu o destaque merecido. Trata-se de um filme de guerra eletrizante e reflexivo, que mergulha o espectador em um episódio real e pouco conhecido da história militar moderna.
Leia Mais:
O drama coreano da Netflix que mistura romance e segredos familiares no período Joseon
Contexto histórico: a crise no Congo e a intervenção da ONU
A Guerra Fria e os interesses econômicos na África
Em 1961, o Congo enfrentava uma grave crise política após conquistar sua independência da Bélgica. O vácuo de poder, somado à disputa por recursos minerais valiosos, atraiu o envolvimento de potências estrangeiras. A Organização das Nações Unidas (ONU), preocupada com a instabilidade e a ameaça de influência soviética, enviou tropas de paz para o país — incluindo um contingente da Irlanda.
O batalhão irlandês cercado em Jadotville
O filme retrata um grupo de 155 soldados irlandeses que foram enviados a Jadotville (atualmente Likasi), uma cidade rica em minerais no sudeste do Congo. A missão, liderada pelo comandante Pat Quinlan, tinha como objetivo proteger civis e manter a paz. No entanto, os soldados acabaram sendo surpreendidos por forças muito maiores, compostas por mercenários belgas, tropas congolesas e milícias locais apoiadas por interesses estrangeiros.
Durante cinco dias, os irlandeses resistiram bravamente a ataques incessantes, mesmo com armamento inferior e sem reforços. Sem água potável e com munição limitada, eles foram obrigados a se render — mas não sem antes infligir grandes baixas aos adversários.
O filme: direção, elenco e fidelidade histórica
A produção e o olhar do diretor Richie Smyth
Dirigido por Richie Smyth e baseado no livro de Declan Power, o filme mistura cenas de ação com momentos de tensão moral e política. Smyth opta por uma abordagem que valoriza a integridade dos soldados irlandeses e expõe a negligência política que levou ao isolamento do batalhão.
Jamie Dornan no papel principal
Jamie Dornan, mais conhecido por seu trabalho na franquia Cinquenta Tons de Cinza, interpreta o comandante Pat Quinlan com surpreendente sobriedade. Sua atuação dá vida a um líder racional, estrategista e preocupado com o bem-estar de seus homens. Dornan entrega um personagem que equilibra autoridade e humanidade, sem recorrer a exageros.
Destaques técnicos e ambientação
A reconstituição histórica é um ponto forte do longa. Os figurinos, os cenários e o armamento usados são fiéis ao período retratado. As cenas de combate são tensas, bem coreografadas e filmadas com realismo. A trilha sonora contribui para manter o clima de urgência e tensão.
A injustiça do esquecimento
O silêncio das autoridades irlandesas
Após o retorno dos soldados para a Irlanda, a rendição em Jadotville foi vista como motivo de vergonha. Durante décadas, os combatentes foram ignorados, e suas ações heroicas não foram reconhecidas oficialmente. A política preferiu silenciar a bravura do grupo, temendo admitir erros estratégicos e diplomáticos da ONU.
Foi somente nos anos 2000 que a narrativa começou a mudar. O governo irlandês passou a reavaliar os acontecimentos e homenagear os veteranos. Em 2017, mais de 50 anos após o episódio, os soldados sobreviventes receberam medalhas de reconhecimento.
Uma história necessária de ser contada
O filme contribui para reparar essa injustiça histórica. Ao dar visibilidade a uma missão esquecida, ele resgata a dignidade dos soldados e expõe as limitações da diplomacia internacional. O cerco de Jadotville não é apenas uma obra cinematográfica — é também um documento de memória.
Por que você deveria assistir hoje

Uma trama envolvente e com propósito
O longa não é apenas mais um filme de guerra. Ele trata de honra, dever, sacrifício e o preço da lealdade em um contexto onde decisões são tomadas muito acima dos campos de batalha. O roteiro prende o espectador não apenas pela ação, mas pelas questões morais e éticas que suscita.
Uma chance de redescobrir um episódio pouco conhecido
Poucas pessoas fora da Irlanda tinham conhecimento do cerco antes do lançamento do filme. Assistir a essa produção é uma oportunidade de aprender sobre um capítulo da história mundial que raramente aparece nos livros escolares ou nos grandes noticiários.
Disponível na Netflix
Facilmente acessível, o filme continua disponível no catálogo da Netflix, embora não figure entre os mais recomendados pela plataforma. Isso o torna ainda mais uma “joia oculta” para quem gosta de explorar narrativas reais e bem contadas.
Comparações com outras obras do gênero
Sem heroísmo exagerado
Diferente de produções hollywoodianas como Falcão Negro em Perigo ou Sniper Americano, que focam no heroísmo unilateral, O cerco de Jadotville apresenta um retrato mais equilibrado e humano do conflito. O inimigo não é demonizado gratuitamente, e os soldados não são super-heróis, mas sim homens comuns em uma situação extrema.
Estilo próximo de 1917 e Dunkirk
O estilo de filmagem lembra obras como 1917 e Dunkirk, embora com orçamento menor. A câmera foca nos detalhes do cotidiano dos soldados e nos pequenos gestos que revelam sua humanidade — antes, durante e após os combates.
Reconhecimento tardio, mas merecido
Em 2017, os soldados do cerco de Jadotville finalmente receberam uma condecoração oficial, encerrando décadas de negligência. O filme teve papel fundamental nessa mudança de perspectiva. Ainda que não tenha vencido prêmios importantes, ganhou relevância como instrumento de reparação histórica.
Considerações finais
O cerco de Jadotville é mais do que um bom filme — é uma aula de história, um tributo à bravura silenciosa e uma crítica à burocracia internacional. Ignorado por muitos, mas celebrado por quem assiste, ele representa o tipo de cinema que merece ser redescoberto.
Se você busca uma produção envolvente, com base real, e que oferece mais do que entretenimento, este é o filme certo. Prepare-se para conhecer uma história de coragem que ficou esquecida por tempo demais — e que agora encontra, finalmente, o seu público.