Cirurgia bariátrica supera medicamentos e se destaca como solução mais eficaz e econômica contra a obesidade
O desafio global da obesidade
A obesidade é uma das doenças crônicas que mais cresce no mundo, afetando a qualidade de vida de milhões de pessoas e sobrecarregando os sistemas de saúde pública. No Brasil, a situação é igualmente preocupante: mais da metade da população está com sobrepeso e cerca de 20% é considerada obesa, segundo dados do Ministério da Saúde.
Com os avanços da medicina, diversas alternativas de tratamento vêm sendo desenvolvidas para combater esse problema. Entre elas, destacam-se os medicamentos de última geração, como semaglutida e tirzepatida, e os procedimentos cirúrgicos como a cirurgia bariátrica. Mas afinal, qual abordagem oferece melhores resultados a longo prazo?
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Estudo compara cirurgia e novos medicamentos
Eficiência de longo prazo
Diversos estudos científicos recentes vêm reforçando o papel da cirurgia bariátrica como o método mais eficaz para tratar a obesidade grave. Pesquisas apontam que, após um ano da realização da cirurgia, a perda de peso dos pacientes pode chegar a cerca de 30% do peso total, dependendo da técnica empregada, como o bypass gástrico ou a gastrectomia vertical (sleeve).
Além da redução do peso corporal, a cirurgia também contribui para a remissão ou melhora significativa de diversas comorbidades associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia do sono, dislipidemia e problemas articulares.
Resultados dos medicamentos
Já os medicamentos semaglutida e tirzepatida, que atuam como agonistas do receptor de GLP-1, mostram bons resultados de curto a médio prazo. Em ensaios clínicos, pacientes que utilizaram tirzepatida alcançaram uma perda de até 22,5% do peso corporal em 18 meses. Com a semaglutida, esse índice gira em torno de 15% no mesmo período.
Contudo, os efeitos desses medicamentos tendem a ser temporários caso o tratamento seja interrompido. Muitos pacientes que suspendem o uso apresentam reganho de peso nos meses seguintes.
Análise de custo-benefício
Custo da cirurgia versus medicamentos
Um dos principais argumentos favoráveis à cirurgia bariátrica é seu impacto econômico positivo a longo prazo. Embora o custo inicial da cirurgia seja elevado — em média entre R$ 20 mil e R$ 50 mil no Brasil, dependendo da clínica e da técnica utilizada — os gastos futuros com medicamentos, internações e tratamentos de doenças associadas são significativamente reduzidos.
Por outro lado, os novos medicamentos injetáveis para obesidade ainda têm custo elevado no mercado. Em muitos casos, o tratamento mensal ultrapassa os R$ 1.000, o que representa um desafio para pacientes que precisam de uso contínuo por anos. Além disso, a cobertura por planos de saúde é limitada e nem sempre contempla esses tratamentos.
Economia para o sistema de saúde
Estudos realizados em diversos países mostram que pacientes submetidos à cirurgia bariátrica tendem a realizar menos consultas, exames e internações nos anos seguintes. Isso significa menos pressão sobre o sistema de saúde público e privado, além de maior qualidade de vida e produtividade para os pacientes.
A longo prazo, a cirurgia representa uma forma mais sustentável de tratar a obesidade grave, tanto para o indivíduo quanto para o Estado.
Qual abordagem é melhor? Depende do caso

Perfil do paciente é determinante
Especialistas em endocrinologia e cirurgia metabólica são unânimes ao afirmar que não existe uma única abordagem ideal para todos os casos. A escolha entre cirurgia ou uso de medicamentos depende de vários fatores, como o grau de obesidade, a presença de doenças associadas, a idade, o histórico clínico e o acompanhamento psicológico.
Em pacientes com obesidade moderada ou com contraindicação cirúrgica, os medicamentos modernos podem representar uma alternativa eficaz para controlar o peso. Já para quem apresenta obesidade grave ou não obteve resultados satisfatórios com métodos clínicos, a cirurgia ainda é a estratégia mais indicada.
Abordagem integrada é o futuro
Muitos profissionais de saúde defendem o uso combinado das duas estratégias. Medicamentos podem ser utilizados como preparação para a cirurgia, ajudando o paciente a perder peso antes do procedimento. Também podem ser úteis no pós-operatório, principalmente para evitar o reganho de peso em casos mais difíceis.
Essa integração entre farmacoterapia e cirurgia reforça a ideia de que o tratamento da obesidade deve ser contínuo e adaptado às particularidades de cada indivíduo.
Cirurgia ainda enfrenta estigmas
Apesar de sua comprovada eficácia, a cirurgia bariátrica ainda é vista com certo preconceito por parte da população. Há quem associe o procedimento à “solução fácil” ou à falta de força de vontade para emagrecer por métodos convencionais.
No entanto, trata-se de um procedimento sério, com riscos e exigência de compromisso permanente com mudanças de estilo de vida. Além disso, o acompanhamento multidisciplinar com nutricionistas, psicólogos e endocrinologistas é fundamental para o sucesso a longo prazo.
Números crescentes no Brasil
O número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) indicam que, entre 2011 e 2022, o número de procedimentos praticamente dobrou, reflexo do aumento da obesidade e da aceitação gradual da cirurgia como ferramenta terapêutica válida.
Com a pandemia, houve uma leve redução nos procedimentos devido às restrições hospitalares, mas os números voltaram a subir em 2023. A tendência é que essa demanda aumente ainda mais com o reconhecimento da obesidade como uma doença crônica de alto impacto.
Considerações finais
A cirurgia bariátrica se consolida, mais uma vez, como o tratamento mais eficaz e financeiramente viável para pacientes com obesidade grave. Enquanto medicamentos inovadores como semaglutida e tirzepatida representam avanços importantes no controle da obesidade, ainda enfrentam desafios de custo, acesso e manutenção dos resultados.
É fundamental que o tratamento da obesidade seja encarado como um processo contínuo e individualizado. Cirurgia e medicamentos não são inimigos — são aliados que, combinados a hábitos saudáveis e acompanhamento médico, podem transformar vidas.

