Já imaginou se lembrar de absolutamente tudo da sua vida? Incluindo os seus primeiros anos de vida? Parece meio louco e assustador, não?! Acredite ou não, essa é a realidade de Rebecca Sharrock.
A australiana de 27 anos, diagnosticada com autismo, conta com uma síndrome, a chamada ‘Memória Autobiográfica Altamente Superior’, ou HSAM, em inglês. Mas o que significa isso? Basicamente, sua condição neurológica faz com que ela se lembre de absolutamente tudo, como datas específicas, eventos, a roupa que estava usando neles e até como se comportou na época de berço.
Durante sua infância, as coisas foram um pouco complicadas para a menina. Sharrock sempre achou que todos fossem iguais à ela até ver uma matéria passando na televisão sobre pessoas com a síndrome. “Quando aquelas pessoas começaram a lembrar de suas memórias, os repórteres diziam ‘é incrível’. Eu disse aos meus pais ‘por que eles dizem que isso é incrível, não é normal?'”.

Australiana de 27 anos que se lembra de absolutamente tudo sobre sua vida.
Logo, os pais disseram à ela que sentiam que ela tinha a mesma condição e não demorou até que recebesse o diagnóstico. Na época, apenas 60 pessoas tinham a síndrome.
Mas por que existe essa supermemória?
Segundo alguns estudos, o lobo temporal (que ajuda no processamento da memória) é maior nos cérebros com a HSAM. Além disso, o núcleo caudado também pode ser maior; ele ajuda no aprendizado, porém pode influenciar na síndrome obsessivo-compulsivo.
Infelizmente, a síndrome causa um certo desespero nessas pessoas. Para Sharrock, reviver as memórias lhe causa dores de cabeça e insônia. Além disso, ela já sofreu depressão e ansiedade. ”Se eu estou lembrando de algo que aconteceu quando eu tinha três anos, minha resposta emocional à situação é semelhante à de uma criança de três anos, mesmo que minha mente e consciência sejam de adulta”, revela.

Com o tempo, porém, Sharrock aprendeu a ver o lado bom das coisas. “No começo de todo mês, eu escolho todas as melhores memórias que tive naquele mês em outros anos”, conta. Assim, ela passa a reviver apenas os momentos bons para se desvencilhar dos ruins.
Ela quando bebê
O mais interessante disso tudo é poder enxergar a percepção das crianças. Quero dizer, as memórias de Sharrock quando era bebê trazem esse novo olhar.
“Eu estava no meu berço, virei a cabeça e vi coisas ao meu redor, como o ventilador. Fiquei fascinada por aquilo. Só quando eu tinha um ano e meio que me antenei, ‘por que não me levanto e vou explorar o que deve ser aquilo?'”, conta.
“Quanto eu tinha mais ou menos uma semana de idade eu lembro de estar enrolada em um cobertor rosa de algodão”, lembra Sharrock. “Por algum motivo, eu sempre sabia quando era a minha mãe que estava me pegando no colo, eu sempre soube instintivamente disso e ela era minha pessoa preferida”.


A mulher também é capaz de controlar alguns sonhos dela, por exemplo. “Eu posso controlar meus sonhos e raramente tenho pesadelos porque eu penso que se alguma coisa assustadora acontecer eu posso mudar a sequência”, diz. Quando era bebê, porém, não foi exatamente assim. “É por isso que eu chorava à noite”, descreve, “mas eu não conseguia verbalizar.”
A única coisa que ela não se lembra é o dia de seu nascimento. “É o único aniversário que eu não lembro”, diz. “Eu não tenho memórias do útero ou de estar saindo da minha mãe, nada disso. Mas eu não acho que gostaria de lembrar disso”.
Agora, Sherrock participa de dois programas de pesquisa da Universidade de Queensland e da Universidade da Califórnia para assim, quem sabe, ajudar as pessoas que sofrem de Mal de Alzheimer.
Fotos: Reprodução/Edouard Taufenbach
Fonte: BBC.