Novo estudo revela: vinho era consumido por toda a população em Troia
Troia revela novos segredos: o vinho era parte da vida de todos
Uma descoberta recente realizada por arqueólogos europeus promete mudar o que sabemos sobre os hábitos alimentares da cidade de Troia, famosa na literatura por suas guerras e heróis mitológicos. Segundo uma análise química de vasos antigos encontrados em escavações, o vinho era amplamente consumido na cidade durante a Idade do Bronze, e não se restringia à elite ou a cerimônias religiosas.
Essa revelação ajuda a construir um retrato mais detalhado de como viviam os habitantes de Troia há mais de 3 mil anos. O consumo disseminado da bebida mostra que práticas antes atribuídas exclusivamente às classes dominantes também faziam parte da rotina da população comum.
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A descoberta científica que mudou tudo
O estudo foi conduzido por pesquisadores de instituições alemãs, que analisaram resíduos encontrados em copos e jarros cerâmicos escavados na região da antiga Troia, localizada na atual Turquia. Através de técnicas avançadas, como espectrometria de massa e cromatografia, os cientistas identificaram vestígios claros de substâncias associadas à fermentação do suco de uva.
Esses resíduos foram encontrados em diferentes tipos de recipientes: desde vasos simples até taças mais ornamentadas. Isso indica que o vinho não era algo exclusivo de banquetes aristocráticos, mas sim uma bebida comum nas refeições cotidianas de diversas camadas sociais.
O papel do vinho na sociedade troiana
Durante muito tempo, estudiosos acreditavam que o vinho era uma bebida reservada para ocasiões especiais ou para consumo da elite, especialmente por seu prestígio e seu valor simbólico. Em diversas culturas da Antiguidade, como Egito e Mesopotâmia, o vinho era tratado como produto de luxo. No entanto, o novo estudo mostra que em Troia, essa realidade era diferente.
A descoberta sugere que havia uma produção local e acessível de vinho, o que permitia sua distribuição em larga escala. Isso fortalece a hipótese de que o vinho era uma bebida socializada, acessível tanto a nobres quanto a camponeses.
Depas amphikypellon: o copo da Ilíada e da vida real
Um dos itens analisados foi o famoso “depas amphikypellon”, uma taça com duas alças mencionada nos versos da Ilíada, de Homero. Esse tipo de vaso era tradicionalmente associado a cerimônias religiosas e à aristocracia troiana. Mas ao identificar vestígios da bebida também em versões mais simples e menos decoradas, o estudo quebra o imaginário de que esse copo era restrito a rituais.
O depas, portanto, não era apenas um símbolo de poder ou devoção. Era também um utensílio presente nas casas dos moradores comuns, usados para apreciar uma bebida que hoje continua presente na cultura ocidental: o vinho.
Técnicas modernas revelam o que o olho não vê

O avanço da arqueologia química tem permitido aos pesquisadores irem além da estética dos artefatos. Em vez de apenas descrever a forma ou a função de um vaso, agora é possível entender o que ele carregava, o que foi consumido nele e até como isso se relacionava com o contexto social.
No caso da pesquisa em Troia, os resíduos indicaram a presença de ácidos orgânicos que são produzidos apenas durante o processo de fermentação alcoólica. A detecção dessas substâncias comprova que os vasos transportavam vinho ou alguma variação dele, e não apenas suco de uva.
As implicações sociais da descoberta
O fato de o vinho ter sido consumido por diferentes grupos sociais aponta para uma sociedade menos rígida do que se imaginava. Isso muda a forma como entendemos a distribuição de recursos, o acesso à agricultura e os hábitos alimentares de civilizações antigas.
Além disso, reforça a importância da uva como cultivo relevante naquela região, provavelmente com plantações voltadas para atender à demanda da cidade como um todo. Isso sugere que Troia não apenas consumia vinho, mas também o produzia em larga escala.
A viticultura no contexto da Idade do Bronze
Naquele período, o cultivo da uva e a fermentação de bebidas alcoólicas já eram práticas conhecidas em várias partes do Oriente Próximo. Mas a novidade em Troia está na democratização do acesso à bebida. O solo da região, fértil e banhado por um clima mediterrâneo, favorecia a produção de vinhos locais. Isso diminuía os custos e possibilitava o acesso amplo da população.
A partir dessa perspectiva, o vinho deixa de ser um luxo importado e passa a ser um elemento integrado à cultura alimentar local.
Comparações com outras civilizações
Enquanto no Egito o vinho era reservado à nobreza e aos templos, e na Grécia Antiga era tratado como elemento ritualístico, em Troia sua presença se assemelha mais à de um item cotidiano. A cultura troiana parece ter enxergado o vinho não apenas como bebida espiritual ou medicinal, mas também como parte da alimentação diária.
Isso cria uma linha de contraste entre o elitismo de outras regiões e a abordagem mais inclusiva dos troianos em relação à bebida fermentada.
O impacto da descoberta para a arqueologia
Esse estudo lança luz sobre a necessidade de repensar suposições históricas baseadas apenas em registros literários ou evidências visuais. A presença de vinho em contextos populares só foi possível de ser detectada graças ao uso de ferramentas científicas modernas.
A partir de agora, é possível que novos trabalhos se debrucem sobre a dieta das civilizações antigas, incluindo a presença de fermentados, temperos, grãos e outras substâncias em recipientes milenares.
Questões ainda em aberto
Apesar do avanço, ainda restam dúvidas:
- A frequência do consumo era diária ou apenas em datas específicas?
- O teor alcoólico do vinho era mais leve, como os fermentados naturais atuais, ou mais forte?
- Havia diferenças regionais no consumo dentro da própria cidade?
- O vinho era consumido puro ou misturado com ervas ou água?
Responder a essas perguntas pode ajudar a pintar um quadro ainda mais rico da vida em Troia.
O vinho como elo entre passado e presente
O estudo realizado em Troia mostra que o vinho não era apenas uma bebida nobre, mas um elo entre diferentes classes sociais. Ele unia a cidade em rituais, refeições e provavelmente celebrações familiares e coletivas. A bebida se confirma como um dos elementos mais duradouros da cultura mediterrânea, atravessando milênios e se adaptando a novos contextos sociais.
O que antes era visto apenas como símbolo de poder, agora se revela como um costume compartilhado por todos, do palácio ao campo.
Considerações finais
A arqueologia moderna nos mostra que o passado é mais diverso e acessível do que muitas vezes imaginamos. A descoberta de que o vinho era consumido amplamente em Troia não apenas corrige equívocos históricos, como também amplia nosso entendimento sobre como as sociedades antigas se organizavam em torno da comida, da bebida e da convivência.
Seja na Ilíada de Homero ou no copo de um cidadão comum, o vinho em Troia era mais do que uma bebida: era um traço cultural, uma prática coletiva e, agora, uma chave para decifrar um passado mais inclusivo.


