Um estudo internacional que ganhou destaque em 2024 ao sugerir que o vinagre de maçã poderia contribuir para a perda de peso foi oficialmente despublicado após a detecção de erros graves em sua condução. O artigo havia sido divulgado na revista científica BMJ Nutrition, Prevention & Health e chegou a ganhar grande visibilidade na mídia, reforçando a percepção popular de que um ingrediente comum da cozinha seria capaz de atuar como aliado contra a obesidade. A revisão detalhada, porém, revelou inconsistências que levaram os editores a anular a publicação. O episódio reforça a importância do rigor metodológico e da cautela ao divulgar resultados científicos sobre nutrição.
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O estudo que virou manchete
O objetivo da pesquisa
A proposta da investigação era testar se o consumo diário de vinagre de maçã poderia gerar efeitos significativos na redução de peso, na diminuição da gordura corporal e em melhorias nos indicadores metabólicos de pessoas com sobrepeso. Os autores afirmavam tratar-se de um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, considerado um dos modelos mais robustos para esse tipo de análise.
Estrutura do experimento
O estudo contou com aproximadamente 120 voluntários, divididos em dois grupos distintos. Um deles recebeu doses diárias de vinagre de maçã diluído em água, enquanto o grupo controle consumia uma bebida semelhante, mas sem o ingrediente ativo. Após 12 semanas de acompanhamento, os resultados apresentados indicavam redução de peso, queda do índice de massa corporal e melhorias em colesterol, triglicerídeos e glicemia no grupo que utilizou vinagre.
A repercussão inicial
A publicação rapidamente se espalhou pela imprensa e pelas redes sociais, sendo tratada como uma evidência de que o vinagre de maçã poderia ser um recurso simples e barato no combate à obesidade. Blogs de saúde, influenciadores digitais e até mesmo profissionais da área chegaram a repercutir as conclusões, ampliando o alcance da suposta descoberta.
A descoberta das falhas
Críticas da comunidade científica
Após a divulgação, diversos especialistas começaram a levantar dúvidas sobre a consistência do trabalho. Entre os principais problemas estavam resultados considerados improváveis, análises estatísticas mal explicadas, a ausência de registro oficial do ensaio clínico em plataformas internacionais e contradições entre tabelas e gráficos apresentados. Esses pontos minaram a credibilidade dos resultados.
Revisão e retratação
Diante das críticas, a própria revista que publicou o estudo abriu uma investigação e solicitou os dados brutos aos autores. Estatísticos independentes participaram da reanálise, que confirmou a existência de erros metodológicos relevantes, tornando os achados pouco confiáveis. A decisão editorial foi pela retratação completa do artigo. No comunicado, a revista orientou que o estudo não fosse mais citado como referência científica. Os próprios autores admitiram inconsistências e afirmaram que os erros não foram intencionais, mas decorrentes de problemas na organização dos dados.
Consequências da despublicação

Para a ciência
Retratações fazem parte do processo científico, mas quando o tema envolve emagrecimento, o impacto é ainda maior devido ao interesse público. O episódio reforça a necessidade de maior rigor, exigindo registro prévio de ensaios, acesso transparente aos dados brutos e revisões independentes que garantam confiabilidade.
Para a imprensa e o público
A ampla divulgação inicial contrasta com a correção posterior, que recebe menor destaque. Muitas pessoas continuam acreditando que o vinagre de maçã emagrece, mesmo após a despublicação. Isso evidencia a importância da responsabilidade jornalística e da divulgação científica baseada em evidências sólidas, evitando a promoção de soluções simplistas ou milagrosas.
O vinagre de maçã realmente ajuda a emagrecer?
O que dizem outros estudos
Até o momento, não há comprovação científica consistente de que o vinagre de maçã provoque emagrecimento significativo. Algumas pesquisas menores sugeriram efeitos pontuais, como leve impacto na saciedade ou na regulação da glicemia, mas os resultados nunca foram conclusivos. A comunidade médica e científica afirma que não há base suficiente para recomendá-lo como tratamento de perda de peso.
Riscos e cuidados no consumo
Embora não seja comprovadamente eficaz para emagrecer, o vinagre de maçã pode ser usado como tempero ou complemento alimentar. Porém, seu consumo requer cautela. Ingerir a substância pura pode prejudicar o esmalte dentário e causar irritações no trato digestivo. Pessoas com problemas de refluxo, gastrite ou uso de certos medicamentos devem evitar exageros. O uso deve sempre estar inserido em uma dieta equilibrada e supervisionada por profissionais de saúde.
Considerações finais
A retirada do estudo que vinculava o vinagre de maçã ao emagrecimento mostra como a ciência está sujeita a revisões e correções. Essa dinâmica é essencial para evitar que resultados frágeis se consolidem como verdades. O caso evidencia a necessidade de cuidado na divulgação científica e reforça que não existem atalhos milagrosos para perder peso. Até agora, não há evidências robustas que sustentem o uso do vinagre de maçã como recurso para emagrecer. O produto pode continuar sendo utilizado como condimento, mas sem expectativas irreais.













