O remake de Vale Tudo e sua importância cultural
O remake de Vale Tudo, exibido em 2025 pela TV Globo, retoma uma das novelas mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira. A trama original, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988, ficou marcada pela crítica social e pela famosa pergunta: “vale a pena ser honesto no Brasil?”.
Na nova versão, adaptada por Manuela Dias, o enredo ganha roupagem contemporânea sem perder a essência. A atualização busca não apenas revisitar o impacto cultural da história, mas também lançar luz sobre dilemas que permanecem atuais: corrupção, impunidade, desigualdade e a disputa entre ética e ambição.
Entre os elementos mais aguardados do remake estão os desfechos de seus vilões, figuras que dão o tom da narrativa e representam, cada um à sua maneira, diferentes faces da ambição desmedida.
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Quem são os grandes vilões de Vale Tudo?
Maria de Fátima – a vilã ambiciosa
Interpretada por Bella Campos na nova versão, Maria de Fátima é a personagem que simboliza a busca incessante por ascensão social. Filha de Raquel (Taís Araújo), ela não mede esforços para conquistar status e dinheiro, ainda que isso implique trair sua própria família.
Odete Roitman – o rosto da arrogância
Odete Roitman, eternizada por Beatriz Segall na primeira versão, volta como uma das grandes antagonistas. A personagem representa a elite que despreza o povo e age com frieza em nome do poder.
Marco Aurélio e César – oportunistas modernos
Na trama original, Marco Aurélio e César se destacaram como figuras masculinas que se aproveitaram de brechas e alianças obscuras. No remake, esses personagens ganham contornos atualizados, reforçando o retrato de uma elite que se mantém impune mesmo diante de escândalos.

O que acontece com Maria de Fátima no final?
O desfecho de Maria de Fátima é marcado por um colapso de sua trajetória. No remake, a vilã engravida e acredita que poderá manipular as circunstâncias a seu favor. No entanto, seu plano falha. Ela é expulsa da mansão Roitman, perde o apoio do amante César e se vê sozinha, sem teto e sem prestígio.
Em uma das cenas mais emocionantes, Fátima procura a mãe em busca de apoio. Desesperada, implora por perdão, admitindo seus erros e reconhecendo a fragilidade que sempre tentou esconder. O momento não apenas simboliza a queda da personagem, mas também abre espaço para reflexão sobre a força dos laços familiares e os limites do arrependimento.
O papel de Raquel nesse desfecho
Raquel, protagonista da novela, é o contraponto ético de Maria de Fátima. Trabalhadora e honesta, construiu sua vida enfrentando preconceito e deslealdade. No final, ela é colocada diante da difícil escolha de perdoar ou não a filha.
O encontro entre mãe e filha se transforma no ponto alto da narrativa. A novela não entrega um perdão imediato, mas deixa em aberto a possibilidade de reconciliação, reforçando a complexidade da relação materna e a dureza da consequência dos erros.
Odete Roitman e a expectativa sobre seu destino
Na primeira versão da novela, a morte de Odete Roitman se tornou um dos maiores mistérios da teledramaturgia nacional. O remake não poderia ignorar esse momento icônico. O destino da vilã, no entanto, é tratado com nuances, de forma a surpreender tanto os fãs antigos quanto o público atual.
A mensagem central permanece: a arrogância e a crueldade de Odete a colocam em rota de colisão com sua própria queda, seja pela violência ou pelo isolamento.
Marco Aurélio e César: a impunidade em debate
Na obra original, Marco Aurélio e César escaparam sem grandes punições, um reflexo da crítica social de que os poderosos raramente enfrentam justiça. No remake, embora seus caminhos também sugiram impunidade, a narrativa se preocupa em mostrar os custos emocionais e éticos dessa escolha. Ambos terminam destituídos de credibilidade, revelando que a ausência de punição legal não os livra da ruína moral.
Vilania em 1988 e em 2025: as diferenças
Vilões no Brasil dos anos 80
Em 1988, a novela trouxe à tona a discussão sobre corrupção em um momento de redemocratização. Os vilões simbolizavam não apenas pessoas ambiciosas, mas também um sistema que permitia que elas prosperassem.
Vilões no Brasil de hoje
No remake de 2025, os antagonistas ganham novos contornos. Maria de Fátima, por exemplo, não apenas representa a busca por status, mas também reflete questões de juventude, fragilidade emocional e redes sociais como instrumentos de vaidade e manipulação. Já personagens como César e Marco Aurélio dialogam com escândalos corporativos recentes e a percepção de que o poder econômico ainda garante privilégios.
O simbolismo do final para o público
A escolha de mostrar Maria de Fátima grávida, sozinha e sem poder é simbólica. Não há castigo sangrento, mas sim uma punição social e emocional. O público contemporâneo, acostumado com finais de vilões que sofrem quedas trágicas, é convidado a refletir sobre formas mais sutis de consequência.
O desfecho também questiona a relação entre justiça e perdão. Raquel pode ou não acolher a filha, mas a novela deixa claro que o verdadeiro julgamento já foi feito: a própria vida se encarregou de mostrar que ambição desmedida cobra um preço alto.
Considerações finais: a força crítica de Vale Tudo
O remake de Vale Tudo consegue equilibrar nostalgia e atualização. Mantém a essência da crítica social, mostrando que a corrupção e a desigualdade ainda são feridas abertas no Brasil, ao mesmo tempo em que renova os personagens para dialogar com um público atual.
Os vilões, tão centrais na trama, não terminam como vencedores. Maria de Fátima perde tudo, Odete enfrenta sua derrocada e César e Marco Aurélio são desmascarados moralmente. A novela reforça que, embora a impunidade ainda seja parte da realidade brasileira, a ficção pode expor seus efeitos e provocar debate.
Mais do que uma simples história de vilania, Vale Tudo permanece como um espelho do país, um convite para refletir sobre até que ponto o poder e a ambição podem conduzir ao abismo.













