O avanço da tecnologia trouxe benefícios indiscutíveis, mas também levantou importantes alertas, especialmente sobre o uso de celulares por crianças. Um estudo recente, realizado pela organização internacional Sapien Labs, revelou uma ligação preocupante entre o uso de smartphones antes dos 13 anos e o aumento de sintomas relacionados à saúde mental em jovens adultos. A pesquisa envolveu mais de 100 mil participantes, de 18 a 24 anos, de 168 países, oferecendo uma amostra abrangente dos efeitos de longo prazo da tecnologia na juventude.
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O que o estudo investigou
Metodologia
O levantamento perguntou aos participantes com que idade eles ganharam o primeiro smartphone e comparou esses dados com indicadores de saúde mental registrados na vida adulta jovem. Foram considerados sintomas como ansiedade, tristeza profunda, pensamentos suicidas, alterações de humor, despersonalização e até alucinações.
Resultados gerais
Os dados mostram que quanto mais cedo o celular foi introduzido na vida da criança, maiores foram os relatos de problemas psicológicos anos depois. A comparação entre aqueles que receberam o aparelho antes dos 13 anos e os que passaram a usá-lo mais tarde revelou diferenças significativas na frequência de sintomas como depressão, instabilidade emocional e dificuldades de socialização.
Impacto na saúde mental: principais sintomas associados
1. Pensamentos suicidas
A ocorrência de pensamentos suicidas foi maior entre jovens que começaram a usar celulares ainda na infância. Entre as mulheres que receberam smartphones entre 5 e 6 anos, quase metade relatou pensamentos suicidas recorrentes na fase adulta jovem. Entre os homens, o percentual foi menor, mas ainda alarmante.
2. Baixa autoestima e insegurança
Outro ponto observado foi a redução na autoestima. Jovens adultos que tiveram contato com celulares desde muito cedo relataram mais frequentemente sentimentos de inadequação, fracasso e falta de valor próprio, em comparação com os que começaram o uso mais tarde.
3. Sintomas graves e complexos
Além de sentimentos comuns de ansiedade ou tristeza, o estudo também identificou casos de sintomas mais severos, como delírios, desconexão com a realidade e dificuldade de distinguir entre fantasia e mundo real. Esses sintomas apareceram com maior intensidade entre os que começaram a usar smartphones antes dos 10 anos.
Diferenças entre meninos e meninas
O impacto do uso precoce do celular não foi uniforme entre os sexos. As meninas apresentaram maior propensão à depressão, baixa autoestima e problemas relacionados à imagem corporal, especialmente devido à influência das redes sociais. Já os meninos mostraram índices mais altos de comportamentos impulsivos, agressividade e descontrole emocional.
Por que o celular precoce pode causar danos?

1. Excesso de estímulos digitais
O cérebro infantil ainda está em desenvolvimento e não está preparado para lidar com o volume de informações, notificações, vídeos e estímulos visuais que os celulares oferecem. Essa exposição contínua pode causar sobrecarga cognitiva e emocional.
2. Redução da interação presencial
Crianças que usam celulares por muito tempo tendem a reduzir o contato com familiares, colegas e professores, perdendo oportunidades essenciais de socialização e desenvolvimento de habilidades emocionais.
3. Sono prejudicado
O uso de telas à noite atrasa o sono e prejudica a qualidade do descanso, afetando diretamente o equilíbrio mental e físico. A falta de sono adequado está relacionada ao aumento da irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração.
4. Comparações nas redes sociais
O acesso a plataformas como Instagram e TikTok antes dos 13 anos expõe as crianças a padrões de beleza, sucesso e comportamento irreais, incentivando a comparação constante e a sensação de insuficiência.
Especialistas comentam
Psicólogos e psiquiatras que acompanham crianças e adolescentes ressaltam que o estudo confirma uma tendência observada nos consultórios: a relação entre o uso precoce de tecnologia e a piora no bem-estar emocional dos jovens.
Segundo especialistas, a introdução de smartphones antes do momento adequado pode “roubar” experiências fundamentais da infância, como o brincar, o contato com a natureza e o convívio familiar mais próximo.
O que pais e responsáveis devem considerar
1. Adiar ao máximo o acesso a smartphones
A recomendação principal é que os pais posterguem o fornecimento de smartphones até que a criança tenha, pelo menos, 13 anos — preferencialmente mais. Se houver necessidade de contato, recomenda-se o uso de celulares simples, apenas para chamadas e mensagens.
2. Supervisionar o conteúdo acessado
Mesmo após os 13 anos, o uso de redes sociais, aplicativos e jogos deve ser acompanhado de perto. O ideal é estabelecer horários para uso e discutir sobre os riscos de exposição, bullying virtual e dependência digital.
3. Incentivar atividades offline
Pais e responsáveis devem promover momentos em que os filhos fiquem longe das telas, incentivando atividades ao ar livre, esportes, leitura e conversas presenciais. Essas experiências são fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável.
4. Dialogar abertamente
A comunicação constante entre pais e filhos pode prevenir muitos problemas. Conversar sobre o que acontece nas redes sociais, entender os sentimentos da criança e estar disponível para acolher dúvidas e inseguranças é essencial.
Escolas e governos também têm papel importante
Além das famílias, escolas e autoridades públicas também podem contribuir para minimizar os riscos do uso precoce dos smartphones. Algumas iniciativas vêm sendo adotadas em outros países, como:
- Proibição do uso de celulares em salas de aula;
- Campanhas de conscientização para pais e alunos;
- Regras claras sobre o uso de tecnologia nas escolas.
Tais medidas ajudam a criar um ambiente mais saudável para o desenvolvimento dos estudantes e podem ser adaptadas à realidade brasileira.
Limitações do estudo
Apesar da grande amostra e abrangência internacional, os próprios autores do estudo admitem que a pesquisa tem limitações. Por se basear em autorrelatos e ser de natureza observacional, não é possível afirmar com 100% de certeza que o celular foi o único fator causador dos problemas relatados. No entanto, a forte correlação entre o uso precoce e os sintomas chama atenção para a necessidade de cautela.
Considerações finais
O estudo reforça o alerta que muitos especialistas já vinham fazendo: permitir o uso de smartphones antes dos 13 anos pode trazer consequências negativas sérias para a saúde mental. Embora a tecnologia seja uma ferramenta valiosa, seu uso deve ser equilibrado, consciente e adequado à idade. Cabe aos pais, escolas e sociedade como um todo garantir que as crianças cresçam em um ambiente que valorize o desenvolvimento emocional, o contato humano e o bem-estar mental.













