A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou relatórios recentes que revelam um dado alarmante: mais de 1 bilhão de pessoas em todo o planeta vivem com algum tipo de transtorno mental. A informação reforça a urgência de ampliar os serviços de saúde mental, que ainda estão longe de atender a real demanda global.
Os documentos destacam que ansiedade e depressão continuam entre as condições mais comuns, mas também incluem distúrbios relacionados ao uso de substâncias, esquizofrenia e transtornos do desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os números expõem um problema estrutural: em média, apenas 2% do orçamento de saúde dos países é destinado à saúde mental, o que torna o acesso a cuidados insuficiente e desigual.
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A dimensão global da saúde mental
Prevalência em números
O levantamento da OMS mostra que 1 em cada 8 pessoas no mundo enfrenta algum tipo de transtorno mental. O problema atinge todas as faixas etárias, mas se manifesta com maior intensidade na adolescência e no início da vida adulta, fases marcadas por profundas transformações emocionais e sociais.
Transtornos mais comuns
Ansiedade é considerada a condição mental mais prevalente, com impacto direto no desempenho escolar, profissional e social.
Depressão aparece como a segunda condição mais frequente, associada a altos índices de incapacidade e risco de suicídio.
O uso de substâncias, como alcoolismo e dependência química, está em crescimento, sobretudo em países em desenvolvimento.
Transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, exigem acompanhamento especializado e de longo prazo.
Impacto na incapacidade
Os transtornos mentais estão entre as principais causas de anos de vida perdidos por incapacidade. Isso significa que, mesmo sem causar morte imediata, comprometem a funcionalidade e a qualidade de vida de milhões de pessoas.
Consequências sociais e econômicas

Sofrimento humano e desigualdade
Além da dor psíquica, os transtornos mentais intensificam o estigma social. Muitas pessoas deixam de procurar ajuda por medo de preconceito. Esse fator, somado à falta de serviços acessíveis, amplia a desigualdade entre quem pode e quem não pode receber tratamento.
Peso econômico
Estudos apontam que o custo do não tratamento é altíssimo. Milhões de pessoas deixam de trabalhar ou têm produtividade reduzida por causa da depressão, ansiedade e outros transtornos. Para os governos, isso se traduz em gastos extras com aposentadorias precoces, programas sociais e internações hospitalares.
Suicídio como problema de saúde pública
O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, especialmente entre jovens. Em 2021, aproximadamente 727 mil pessoas perderam a vida dessa forma, número que demonstra falhas nos sistemas de prevenção.
Desigualdades entre países e grupos sociais
Diferença entre nações ricas e pobres
O relatório mostra que países de baixa e média renda possuem menos de 1 profissional de saúde mental para cada 100 mil habitantes, enquanto em países ricos essa proporção é várias vezes maior. Isso significa que grande parte da população mundial depende de sistemas frágeis, sem infraestrutura adequada.
Questão de gênero
Mulheres apresentam índices mais altos de depressão e ansiedade. Pesquisadores associam esse dado a múltiplos fatores, incluindo violência de gênero, sobrecarga de responsabilidades familiares e desigualdade no mercado de trabalho.
Vulnerabilidade dos jovens
Metade dos transtornos mentais se manifesta antes dos 20 anos de idade. A ausência de diagnóstico precoce e suporte em escolas e comunidades faz com que muitos adolescentes convivam com sintomas graves sem tratamento, comprometendo o futuro.
Desafios estruturais para os sistemas de saúde
Falta de investimento adequado
Apesar do crescimento da demanda, os países continuam destinando apenas 2% do orçamento de saúde para a área de saúde mental. Especialistas alertam que esse percentual é insuficiente diante do impacto global dos transtornos.
Carência de profissionais
Psicólogos, psiquiatras e terapeutas ainda são escassos em muitas regiões, sobretudo nas zonas rurais e em países com baixa renda. Isso obriga famílias a buscar tratamentos caros no setor privado ou a conviver sem acompanhamento.
Estigma e preconceito
Ainda hoje, muitas pessoas evitam falar sobre saúde mental por medo de julgamento. Esse tabu afasta os pacientes dos serviços e dificulta campanhas de prevenção.
Serviços concentrados em hospitais
Em diversos países, o modelo de atenção à saúde mental é hospitalocêntrico, o que restringe o acesso e dificulta a integração dos cuidados na atenção primária. A OMS defende a ampliação de centros comunitários para que o suporte seja mais próximo e acessível.
Caminhos para mudar o cenário
Reforço das políticas públicas
A OMS recomenda que governos desenvolvam planos nacionais de saúde mental, com metas de financiamento, expansão da rede de serviços e integração da saúde mental na atenção básica.
Aumento de investimentos
Ampliar a fatia do orçamento destinada à saúde mental é considerado passo essencial para reduzir a lacuna entre demanda e oferta de serviços.
Formação de profissionais
É urgente investir na capacitação de profissionais de saúde para lidar com transtornos mentais, incluindo médicos de família, enfermeiros e professores, que podem identificar sinais precoces.
Programas de prevenção
Campanhas educativas, apoio psicológico em escolas e ambientes de trabalho, além de políticas de prevenção ao suicídio, são estratégias apontadas como prioritárias.
Redução do estigma
Promover debates públicos, investir em campanhas de conscientização e incluir saúde mental como parte do cuidado integral à saúde são medidas que ajudam a reduzir preconceitos.
Exemplos de avanços pelo mundo
Centros comunitários de saúde mental
Alguns países já adotam modelos de atendimento comunitário que oferecem terapia, grupos de apoio e atendimento multidisciplinar próximo da população.
Programas escolares
Iniciativas em escolas buscam ensinar jovens a lidar com emoções, identificar sinais de ansiedade e depressão e buscar ajuda profissional quando necessário.
Investimento internacional
Organismos multilaterais vêm direcionando recursos para países de baixa renda, ajudando a estruturar serviços básicos de saúde mental.
Consequências da falta de ação
Sofrimento humano ampliado
Sem mudanças significativas, a tendência é que o número de pessoas com transtornos mentais continue aumentando, ampliando o sofrimento silencioso e invisível de milhões de famílias.
Custos econômicos crescentes
Governos e empresas enfrentarão maior perda de produtividade, elevação de gastos médicos e pressão sobre sistemas de seguridade social.
Comprometimento de metas globais
A redução do suicídio até 2030, estabelecida como meta pela ONU, dificilmente será alcançada sem investimentos substanciais na saúde mental.
Considerações finais
A constatação de que mais de 1 bilhão de pessoas convivem com transtornos mentais revela a magnitude de um problema que vai além da esfera individual: trata-se de um desafio coletivo, social, econômico e político.
A OMS enfatiza que a saúde mental precisa deixar de ser tratada como um tema secundário e ganhar centralidade nas políticas públicas de saúde. Investir em prevenção, ampliar o acesso a serviços de qualidade, reduzir o estigma e priorizar os grupos mais vulneráveis são passos essenciais para transformar o futuro da saúde mental global.
Enquanto isso não acontece, milhões de pessoas seguem vivendo com sofrimento psíquico sem acesso ao cuidado necessário.













