A morte da turista brasileira Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, lançou luz sobre sérias deficiências na estrutura do turismo de aventura no país asiático. A situação reacendeu o debate sobre a segurança em trilhas remotas, a resposta das autoridades locais e o suporte diplomático brasileiro em casos de emergência no exterior.
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Quem era Juliana Marins?
Juliana era uma jovem publicitária do Rio de Janeiro, com histórico de viagens solo por diversos países asiáticos. Estava na Indonésia desde o início de junho de 2025 e decidiu realizar a desafiadora subida ao Monte Rinjani, um dos pontos turísticos mais procurados do país por aventureiros e trilheiros.
No dia 21 de junho, Juliana participava de uma expedição guiada quando se separou do grupo e sofreu uma queda de centenas de metros em uma área de difícil acesso. Quatro dias depois, seu corpo foi encontrado por drones operados por voluntários.
Entenda o que aconteceu no Monte Rinjani
O momento da queda
Segundo relatos de outros integrantes da trilha, Juliana havia demonstrado sinais de cansaço ao longo do percurso e se distanciou do grupo principal. A suspeita é de que tenha escorregado em uma área íngreme e caído por uma ribanceira com mais de 300 metros de profundidade, em uma zona montanhosa com acesso extremamente difícil.
Localização e resgate
O corpo da brasileira foi avistado por drones civis no dia 24 de junho. Apesar disso, o resgate só foi concluído no dia seguinte, após diversos obstáculos logísticos, como neblina intensa, risco de novos deslizamentos e falta de equipamentos adequados para alcançar a área com segurança.
A demora no resgate e a condição do corpo geraram críticas por parte da família, que considerou que as autoridades locais poderiam ter agido com mais agilidade.
Família denuncia negligência
A família de Juliana, em contato com a imprensa e autoridades brasileiras, denunciou a atuação da equipe de resgate da Indonésia. Para os parentes, houve descaso e despreparo por parte das autoridades locais. Eles afirmam que a operação falhou em fornecer um socorro eficiente e que, se o resgate tivesse sido mais rápido, talvez ela pudesse ter sido salva.
A irmã da vítima, Mariana Marins, usou as redes sociais para relatar a experiência traumática, criticar a ausência de suporte imediato da embaixada brasileira e cobrar um posicionamento firme do Itamaraty diante do que consideram negligência internacional.
Falhas estruturais no turismo da Indonésia
Ausência de protocolos padrão
Um dos principais pontos levantados por especialistas em turismo de aventura é a ausência de um plano padronizado de resgate nas trilhas indonésias. Embora o Monte Rinjani receba milhares de visitantes por ano, não há rotas bem mapeadas para ações emergenciais, nem estrutura suficiente de socorro em áreas isoladas.
Equipamentos insuficientes
Os equipamentos disponíveis à equipe de resgate não incluíam drones de transporte, helicópteros para remoção rápida nem comunicação via satélite, o que atrasou o envio de mantimentos e retardou o contato com a vítima. Além disso, o número de agentes especializados foi considerado pequeno para a dimensão do desafio.
Histórico de acidentes
Este não é o primeiro incidente com vítimas no Monte Rinjani. Em anos anteriores, turistas de outras nacionalidades também enfrentaram problemas durante a trilha, incluindo mortes por exaustão e quedas. A recorrência de casos aponta para uma falha recorrente no gerenciamento da segurança no local.
Resposta das autoridades locais
O governo indonésio, por meio da agência nacional de busca e salvamento (Basarnas), alegou que o resgate foi dificultado pelas condições climáticas adversas e pela geografia da região. A entidade afirmou que priorizou a segurança dos próprios agentes e que seguiu os protocolos disponíveis.
Apesar disso, o episódio gerou comoção pública e levou o governo local a suspender temporariamente o acesso à trilha do Monte Rinjani para avaliação de riscos e revisão dos procedimentos de segurança.
O papel do Itamaraty
Falta de assistência imediata
A família da brasileira afirmou que não recebeu apoio imediato do consulado nem da embaixada brasileira na Indonésia. Eles relataram dificuldade para obter informações, falta de suporte na liberação do corpo e ausência de comunicação sobre os trâmites legais locais.
Envio de representantes ao local
Somente após pressão da mídia e mobilização nas redes sociais, representantes da diplomacia brasileira foram enviados à região de Lombok para acompanhar as investigações. Ainda assim, familiares e especialistas apontam falhas na atuação diplomática diante de situações de emergência com cidadãos brasileiros no exterior.
Turismo de aventura exige mais responsabilidade
Especialistas em turismo de aventura e gestão de riscos avaliam que o episódio deve servir de alerta não só para a Indonésia, mas para todos os países que oferecem trilhas, esportes radicais ou ecoturismo em áreas de difícil acesso.
Capacitação de guias e socorristas
O preparo técnico de guias, condutores e agentes de resgate precisa ser aprimorado. Cursos de primeiros socorros, orientação em áreas remotas e uso de tecnologias modernas são fundamentais para garantir um turismo seguro.
Criação de rotas seguras
Mapas detalhados, pontos de apoio, sinalização em áreas de risco e planos de evacuação são medidas básicas que devem estar presentes em qualquer destino de ecoturismo responsável.
Regulamentação e fiscalização
É necessário haver legislação mais rígida para agências de turismo que operam em áreas de risco, além de fiscalização constante para garantir que equipamentos estejam atualizados e que todos os profissionais estejam devidamente certificados.
O impacto na imagem da Indonésia

A tragédia envolvendo Juliana Marins repercutiu em diversos veículos internacionais, afetando a imagem da Indonésia como destino turístico seguro. O país, que recebe mais de 15 milhões de visitantes por ano, tem no ecoturismo uma de suas maiores fontes de receita externa.
Para minimizar os danos à reputação internacional, o governo local anunciou a criação de uma força-tarefa para revisar as políticas de segurança nos principais pontos turísticos, começando por Lombok e Bali.
Considerações finais
A morte de Juliana Marins, uma jovem brasileira apaixonada por viagens, escancarou deficiências que vão além de uma tragédia isolada. Ela expôs um sistema turístico despreparado para lidar com emergências, desorganizado em suas rotinas de socorro e pouco transparente em sua comunicação.
Sua história deixa um alerta: destinos exóticos e deslumbrantes também exigem responsabilidade, investimento e preparo para que não se tornem palco de tragédias anunciadas. Cabe agora às autoridades locais e brasileiras agirem para que episódios como esse não voltem a se repetir.













