Terra está girando mais rápido: o que isso significa para os dias e a tecnologia
Nos últimos anos, cientistas do mundo inteiro têm observado um fenômeno inusitado: a Terra está girando em torno de si mesma de forma ligeiramente mais rápida. Esse aumento na velocidade de rotação resulta em dias um pouco mais curtos do que o padrão de 24 horas — uma mudança imperceptível para a maioria das pessoas, mas que já levanta preocupações em setores que dependem de precisão extrema no controle do tempo.
O fenômeno foi detectado com maior clareza em 2020 e, desde então, tem se intensificado gradualmente. Em 2025, diversos institutos de pesquisa divulgaram que o planeta atingiu algumas das rotações mais rápidas já registradas desde o início da medição atômica do tempo.
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Como sabemos que a Terra está acelerando?
A rotação da Terra sempre variou levemente ao longo dos séculos, influenciada por fatores geológicos e atmosféricos. No entanto, desde a implementação dos relógios atômicos, em meados do século XX, tornou-se possível medir com precisão microscópica o tempo de cada rotação do planeta.
Essas medições revelaram que alguns dias recentes foram até 1,5 milissegundos mais curtos do que os tradicionais 86.400 segundos. Embora esse número pareça pequeno, ele é significativo para sistemas que sincronizam dados, como satélites, redes de internet, e sistemas bancários globais.
Possíveis causas para o aumento de velocidade
A ciência ainda busca respostas definitivas para o que está causando essa aceleração. Contudo, existem algumas hipóteses plausíveis:
Alterações no núcleo da Terra
Uma das possibilidades estudadas é a movimentação do núcleo líquido do planeta, que pode estar redistribuindo a massa terrestre de maneira a reduzir o momento de inércia — o que, pela conservação do momento angular, faria o planeta girar mais rapidamente.
Recuo de geleiras e redistribuição de peso
O derretimento acelerado de geleiras em virtude das mudanças climáticas também pode estar influenciando a rotação da Terra. À medida que grandes volumes de gelo desaparecem, a massa do planeta se redistribui, movendo-se em direção ao centro e aumentando a velocidade de rotação.
Atividades sísmicas e vulcânicas
Eventos geológicos, como terremotos de grande magnitude e erupções vulcânicas, também afetam a rotação terrestre ao provocar deslocamentos de placas tectônicas e alteração na distribuição de massa.
Efeitos da Lua e marés gravitacionais
A Lua exerce força gravitacional sobre a Terra, gerando as marés oceânicas e influenciando a rotação do planeta. A posição da Lua em relação ao equador pode acelerar ou desacelerar ligeiramente a rotação ao longo de determinados ciclos.
O que muda com dias mais curtos?
Impactos em sistemas tecnológicos
Para a maioria das pessoas, um dia com milissegundos a menos não traz qualquer diferença perceptível. Mas para sistemas de precisão extrema, como os que regulam GPS, bolsas de valores e telecomunicações, esse desvio pode gerar falhas de sincronia se não for corrigido.
Por isso, cientistas e engenheiros monitoram constantemente essas variações para ajustar os sistemas de tempo utilizados em todo o mundo.
Possibilidade de um “leap second negativo”
Desde os anos 1970, quando o tempo atômico passou a ser a base dos sistemas globais, foram adotados os chamados “leap seconds” — segundos adicionais inseridos ocasionalmente no Tempo Universal Coordenado (UTC) para compensar o desaceleramento natural da Terra.
No entanto, com a Terra girando mais rápido, pela primeira vez na história moderna, pode ser necessário retirar um segundo do relógio oficial. Esse ajuste seria o oposto do que se costuma fazer e é chamado de leap second negativo.
A introdução desse tipo de correção pode representar um desafio técnico significativo, pois sistemas globais não estão preparados para “pular para trás” no tempo, algo que pode causar falhas ou erros de operação em softwares e equipamentos.
Quando essa mudança pode ocorrer?
Com base nas projeções mais recentes, especialistas estimam que o primeiro leap second negativo possa ser necessário até 2029, caso a tendência de aceleração continue. Esse ajuste, se confirmado, precisará ser amplamente comunicado e testado com antecedência, especialmente em sistemas digitais sensíveis à contagem exata de segundos.
A decisão sobre o uso do leap second cabe ao IERS (Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra), que monitora a rotação do planeta em tempo real e determina a necessidade de correções no UTC.
Quais foram os dias mais curtos já registrados?
Desde o início das medições atômicas, diversos recordes de rotação rápida foram observados. Em 2020, por exemplo, o dia 19 de julho foi 1,46 milissegundos mais curto que o padrão. Em 2025, cientistas já projetam que 5 de agosto poderá ser ainda mais breve, com até 1,51 milissegundos de redução.
Essas medições são feitas por observatórios e institutos internacionais com o auxílio de relógios atômicos de altíssima precisão e sensores espalhados por satélites e estações terrestres.
Aceleração da rotação pode continuar?
É possível. A rotação da Terra está sujeita a influências contínuas de diversos fatores. Enquanto algumas variações são cíclicas, outras podem ser impulsionadas por fenômenos imprevisíveis, como grandes eventos geológicos ou mudanças climáticas extremas.
Por esse motivo, o monitoramento constante se torna essencial para garantir a estabilidade de sistemas dependentes do tempo.
Existem consequências físicas para os seres humanos?
Não. A aceleração atual é extremamente sutil e não tem qualquer impacto direto na saúde ou no cotidiano das pessoas. A gravidade, por exemplo, não é afetada de maneira significativa. A noite e o dia continuam com duração praticamente igual, com alterações que não são percebidas pelos sentidos humanos.
O maior impacto real está nos bastidores da tecnologia — em como computadores, redes, satélites e bancos funcionam em sincronia com a rotação do planeta.
O que está sendo feito para lidar com a mudança?
Ajustes em sistemas de tempo
Empresas e instituições responsáveis por sistemas globais de tempo já estão atualizando seus protocolos para lidar com a possível necessidade de um leap second negativo. Isso inclui o desenvolvimento de mecanismos de fallback, atualizações em servidores e testes em ambientes controlados.
Debate sobre o fim dos leap seconds
Diante da complexidade técnica, há discussões em andamento sobre a extinção dos leap seconds no futuro. Alguns especialistas defendem que seria mais seguro permitir que o UTC se afaste gradualmente do tempo solar real, adotando correções maiores — como minutos — apenas após muitos séculos, o que facilitaria a adaptação tecnológica.
A União Internacional de Telecomunicações (UIT) e a União Astronômica Internacional (IAU) já consideram essa possibilidade em debates técnicos.
Considerações finais
A aceleração da rotação da Terra é um fenômeno curioso, com causas ainda em investigação, mas que já desperta atenção global por suas implicações no sistema de medição do tempo. Se os dias seguirem encurtando, será necessário adotar pela primeira vez um leap second negativo, o que representará um marco histórico para a ciência e a tecnologia.
Mais do que uma curiosidade astronômica, o fato de que nosso planeta gira um pouco mais rápido nos lembra de que vivemos em um sistema dinâmico e em constante transformação — mesmo quando os efeitos não são visíveis a olho nu.
