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Talibã proíbe pensamento feminino até nos livros

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O governo Talibã publicou um novo decreto que intensifica a censura no sistema educacional do Afeganistão. A medida determina que universidades não podem mais utilizar livros escritos por mulheres, além de proibir disciplinas voltadas a temas como direitos humanos, igualdade de gênero e assédio sexual. O anúncio representa mais um retrocesso na já limitada liberdade acadêmica do país e acentua a exclusão feminina do ensino superior.

Desde que retomou o poder em 2021, o Talebã vem restringindo gradativamente a participação das mulheres na sociedade. Com este novo decreto, o regime elimina não apenas o acesso das alunas à universidade, mas também a presença intelectual das autoras nos currículos acadêmicos.

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O conteúdo do decreto

Livros considerados “inadequados”

Um comitê formado por religiosos e acadêmicos aliados ao Talebã analisou obras utilizadas em cursos de graduação e listou cerca de 680 títulos como contrários às normas estabelecidas pelo regime. Dentre eles, aproximadamente 140 foram identificados como de autoria feminina, tornando-se automaticamente proibidos em salas de aula. Entre os livros citados está Segurança no Laboratório Químico, usado em disciplinas científicas.

Disciplinas vetadas

Além da censura a livros, o decreto elimina 18 matérias de diferentes áreas do conhecimento. Pelo menos seis delas abordam diretamente questões relacionadas às mulheres, como “gênero e desenvolvimento”, “sociologia feminina” e “comunicação das mulheres”. O governo alega que esses conteúdos não estão de acordo com seus “princípios religiosos e culturais”.

Impacto imediato

A ordem atinge tanto universidades públicas quanto privadas. Professores foram instruídos a revisar planos de aula e substituir materiais. O risco de descumprimento é alto: quem insistir em manter as obras banidas ou disciplinas eliminadas pode enfrentar punições severas, que vão desde suspensão até prisão.

Consequências para a educação feminina

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Imagem – Bestofweb/Freepik

Exclusão em duas frentes

As mulheres já enfrentam proibições de acesso direto às universidades em boa parte do país. Agora, mesmo os conteúdos produzidos por autoras ou sobre questões de gênero são eliminados. O resultado é uma exclusão dupla: não podem frequentar os cursos e tampouco ter contato com produções intelectuais de mulheres.

Formação profissional comprometida

Cursos voltados para áreas de saúde e assistência social, como enfermagem e obstetrícia, foram descontinuados ou severamente limitados. Com a ausência desses programas, cresce a carência de profissionais mulheres, fundamentais em uma sociedade que restringe a interação feminina com médicos homens.

Perda de diversidade intelectual

Ao retirar obras de autoras da bibliografia acadêmica, o Talebã apaga perspectivas essenciais para a formação crítica. A ausência de vozes femininas prejudica a diversidade de pensamento e o pluralismo, pilares fundamentais de qualquer sistema de ensino superior.

Reações e críticas

Vozes femininas silenciadas

Ex-integrantes do governo afegão, como Zakia Adeli, ex-vice-ministra da Justiça, afirmaram que a proibição confirma o objetivo do Talebã de eliminar a presença das mulheres da vida pública. Segundo ela, não basta barrar o acesso feminino às universidades; o regime quer também apagar suas contribuições intelectuais.

Professores pressionados

Acadêmicos relatam incertezas sobre como reorganizar currículos diante da retirada massiva de livros e matérias. Muitos temem que a qualidade do ensino caia drasticamente, uma vez que parte do material censurado era fundamental em áreas científicas e sociais.

Condenação internacional

Organizações de direitos humanos e representantes de governos estrangeiros denunciaram o decreto como uma violação grave da liberdade acadêmica e um ataque sistemático aos direitos das mulheres. Para especialistas, a decisão representa um isolamento ainda maior do Afeganistão da comunidade científica global.

Contexto histórico

O retorno do Talebã

Após a saída das tropas internacionais em 2021, o Talebã reassumiu o controle do país e restabeleceu uma série de medidas de cunho religioso e conservador. Desde então, escolas para meninas foram fechadas, mulheres foram impedidas de trabalhar em diversos setores e agora enfrentam mais esse bloqueio no acesso ao conhecimento.

O uso da religião como justificativa

O Talebã baseia suas restrições em uma interpretação rígida da sharia, a lei islâmica. A censura a livros e disciplinas é apresentada como uma forma de proteger a moralidade e os valores do Islã, embora estudiosos independentes afirmem que se trata de uma distorção usada como ferramenta de controle social.

Implicações para o futuro do ensino superior

Enfraquecimento acadêmico

Com a remoção de títulos importantes, muitas universidades ficam sem alternativas adequadas para suprir o conteúdo. Isso compromete a formação de profissionais e reduz a credibilidade dos diplomas emitidos no país.

Isolamento internacional

O banimento de obras de autoras estrangeiras, especialmente iranianas, agrava o afastamento do Afeganistão da produção acadêmica global. Parcerias com universidades internacionais tendem a ser interrompidas, e o país perde espaço em projetos de pesquisa.

Reforço da desigualdade de gênero

Ao proibir tanto o acesso das mulheres às aulas quanto a circulação de suas obras, o Talebã aprofunda o fosso de desigualdade entre homens e mulheres. A medida prejudica não só as estudantes, mas todo o país, que deixa de contar com metade de sua população no processo de desenvolvimento.

Possíveis formas de resistência

Denúncias internacionais

Organizações multilaterais, como a ONU, podem reforçar pressões diplomáticas e sanções, denunciando a censura como violação de tratados internacionais sobre direitos humanos.

Educação alternativa

Mesmo diante da repressão, cresce o uso de plataformas digitais e grupos de estudo clandestinos para manter o contato com conteúdos proibidos. Alunos e professores buscam acessar bibliotecas digitais fora do país, apesar das dificuldades de conectividade.

Preservação da memória intelectual

Instituições estrangeiras e coletivos acadêmicos vêm trabalhando para digitalizar e arquivar obras de autoras afegãs e estrangeiras que foram banidas. A preservação é vista como uma forma de resistência cultural diante da tentativa de apagamento.

Considerações finais

O decreto do Talibã que proíbe o uso de livros escritos por mulheres nas universidades é um marco de retrocesso para a educação e para os direitos humanos no Afeganistão. A medida não só reforça a exclusão feminina do espaço acadêmico, como também empobrece a produção científica e intelectual do país. Ao vetar disciplinas, censurar autoras e impor currículos alinhados apenas à visão do regime, o governo inviabiliza qualquer perspectiva de pluralidade e inovação.

A reação internacional será crucial para pressionar por mudanças e apoiar alternativas que mantenham viva a produção intelectual feminina. Enquanto isso, o Afeganistão mergulha em um cenário de isolamento e desigualdade, onde o conhecimento é controlado e a diversidade de vozes, especialmente femininas, é silenciada.

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