O mal-estar silencioso causado pelo uso excessivo do celular
Você já sentiu dor de cabeça, náusea ou tontura após ficar muito tempo usando o celular? Esses sintomas, embora pareçam desconexos, podem estar ligados a um fenômeno cada vez mais comum: o ciberenjoo, também chamado de enjoo digital. Essa condição é resultado do uso intenso de telas e pode afetar a rotina de milhões de pessoas, mesmo sem que elas percebam a origem do problema.
Estudos recentes e relatos médicos apontam que o excesso de tempo em frente a dispositivos móveis pode provocar desconfortos físicos reais, muitas vezes confundidos com outras doenças. A boa notícia é que o problema tem solução — desde que seja identificado corretamente.
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O que é o ciberenjoo?
O ciberenjoo é uma condição física causada pela exposição prolongada a imagens em movimento em dispositivos digitais. Ele ocorre por um conflito entre o que os olhos veem na tela e o que o corpo sente em relação ao movimento, resultando em sintomas semelhantes aos de um enjoo de viagem.
A reação ocorre quando há desequilíbrio entre os estímulos visuais e sensoriais. O cérebro interpreta que o corpo está em movimento (por causa das imagens aceleradas na tela), mas o sistema vestibular — responsável pelo equilíbrio — percebe que o corpo está parado. Esse descompasso provoca o desconforto.
Entre os sintomas mais comuns estão:
- Tontura leve ou moderada
- Dor de cabeça, especialmente na região frontal
- Sensação de náusea ou enjoo
- Visão embaçada ou dificuldade de foco
- Cansaço mental e físico após o uso do aparelho
Por que isso está acontecendo com mais frequência?

O aumento dos casos de ciberenjoo está relacionado à intensificação do uso de celulares e tablets, especialmente após a pandemia, quando o trabalho remoto, o ensino à distância e o uso recreativo dos aparelhos se tornaram ainda mais frequentes.
Além disso, o design dos aplicativos modernos, com rolagem infinita, vídeos curtos em sequência e animações rápidas, exige esforço visual constante e prolongado, o que favorece o surgimento dos sintomas.
O papel da luz azul
Outro fator importante é a luz azul emitida pelas telas. Essa luz pode afetar diretamente a retina, causando fadiga ocular, ressecamento dos olhos e perturbações no ritmo circadiano — o que compromete o sono e pode intensificar os sintomas de desconforto e cansaço visual.
Embora os fabricantes incluam opções de “filtro de luz azul” nos aparelhos mais modernos, nem todos os usuários sabem como ativar esse recurso, o que agrava o problema.
Quem está mais vulnerável?
Nem todas as pessoas desenvolvem os sintomas de forma igual. No entanto, alguns grupos têm maior propensão a sofrer os efeitos do ciberenjoo:
- Usuários intensivos de celular e computador: pessoas que passam mais de 4 horas por dia em frente a uma tela têm maior risco.
- Indivíduos com histórico de enjoos em viagens: o enjoo digital é similar ao cinetose (enjoo por movimento).
- Pessoas com problemas visuais não corrigidos: como astigmatismo, miopia ou hipermetropia.
- Trabalhadores em home office ou estudantes remotos: uso contínuo da tela sem pausas contribui para o surgimento dos sintomas.
Como identificar que o mal-estar vem do celular?
Nem sempre é fácil reconhecer que o celular é o vilão. Os sintomas podem ser confundidos com estresse, problemas digestivos ou até mesmo pressão baixa. No entanto, se o desconforto surge após longos períodos de exposição às telas e melhora após pausas ou descanso visual, é um sinal de alerta.
Outro indicativo é a piora dos sintomas ao usar determinados aplicativos, como redes sociais de rolagem rápida (Instagram, TikTok) ou jogos com gráficos intensos.
Como prevenir o ciberenjoo?
Felizmente, é possível evitar ou reduzir significativamente os efeitos do ciberenjoo com hábitos simples:
Faça pausas frequentes
A regra 20-20-20 é uma das mais recomendadas por oftalmologistas: a cada 20 minutos de uso de tela, olhe para algo a 20 pés (cerca de 6 metros) de distância por 20 segundos. Essa pausa ajuda a relaxar os músculos oculares e reduzir o cansaço.
Use o filtro de luz azul
Ativar o modo noturno ou o filtro de luz azul no celular reduz o impacto da iluminação artificial sobre os olhos, especialmente à noite. Isso também melhora a qualidade do sono.
Ajuste o brilho e o contraste
Evite usar o celular com o brilho no máximo, principalmente em ambientes escuros. O excesso de contraste entre a tela e o ambiente pode sobrecarregar a visão.
Mantenha distância adequada
Segurar o celular muito próximo ao rosto força os olhos. Tente manter o aparelho a pelo menos 40 cm de distância dos olhos e posicione-o na altura dos olhos sempre que possível.
Use fontes maiores
Se você precisa apertar os olhos para ler, está forçando sua visão. Aumentar o tamanho da fonte e reduzir o tempo de leitura contínua pode diminuir a fadiga ocular.
Quando procurar um especialista?
Se os sintomas forem persistentes, intensos ou interferirem na sua rotina, é hora de buscar ajuda médica. Um oftalmologista pode avaliar a saúde dos seus olhos e recomendar óculos com filtro de luz azul, exercícios visuais ou até mesmo acompanhamento especializado com um neurologista, caso haja suspeita de outro distúrbio.
Além disso, é importante verificar se o uso do celular está afetando o sono ou contribuindo para sintomas de ansiedade, insônia ou depressão, o que pode exigir abordagem multidisciplinar com psicólogos ou psiquiatras.
Qual o impacto do ciberenjoo no cotidiano?
Embora muitos não reconheçam a origem do desconforto, o ciberenjoo tem potencial de afetar profundamente a rotina de quem o enfrenta:
- Diminuição da produtividade: dificuldade de concentração e fadiga constante comprometem o rendimento.
- Afeta o lazer: assistir vídeos ou usar redes sociais deixa de ser prazeroso.
- Prejudica o sono: o uso noturno do celular intensifica os sintomas e atrapalha o descanso.
- Interfere nas relações sociais: isolamento digital pode ocorrer como forma de evitar o mal-estar.
Existe tratamento?
Não há um tratamento específico para o ciberenjoo, pois ele está mais relacionado ao comportamento e ao tempo de exposição. No entanto, a adoção de práticas saudáveis, o uso consciente da tecnologia e a organização de pausas regulares são extremamente eficazes.
Em alguns casos, profissionais indicam óculos com proteção contra luz azul, lubrificantes oculares para quem sofre com olho seco e até fisioterapia ocular, com exercícios para relaxamento dos músculos visuais.
Tecnologia e equilíbrio: o caminho é o uso consciente
O celular se tornou uma ferramenta indispensável para o trabalho, estudo e lazer. No entanto, é preciso usá-lo de forma consciente. Reconhecer os limites do corpo e respeitar os sinais de cansaço visual é fundamental para evitar que um aliado se transforme em um problema de saúde.
A tecnologia deve servir ao bem-estar — e não o contrário.













