Síndrome de Estocolmo: por que algumas vítimas acabam se apaixonando por seus sequestradores
Poucos fenômenos psicológicos chamam tanto a atenção do público quanto a chamada síndrome de Estocolmo. Trata-se de uma condição em que vítimas de crimes violentos, como sequestros, acabam criando vínculos emocionais com seus agressores. Em alguns episódios, esses laços chegam a ser confundidos com afeto ou amor. A ideia de que uma pessoa, mantida sob ameaça e privação de liberdade, possa nutrir sentimentos por quem a prendeu parece absurda. Ainda assim, a psicologia documenta inúmeros casos em que isso ocorreu, tornando-se tema de debates médicos, jurídicos e sociais.
Leia Mais:
Forbes 2025: Conheça os 10 bilionários mais jovens do Brasil e como construíram suas fortunas
O que é a síndrome de Estocolmo?
Origem do termo
O conceito surgiu em 1973, após um assalto a banco na capital sueca. Durante seis dias, reféns foram mantidos dentro da agência. Quando libertados, surpreenderam a polícia ao defenderem publicamente os sequestradores e se recusarem a testemunhar contra eles. Esse episódio ficou conhecido como o caso que deu nome ao fenômeno.
Como o cérebro reage ao estresse extremo
De acordo com especialistas, a criação desse vínculo é resultado de um mecanismo de sobrevivência. Em situações traumáticas, a mente tenta reduzir a sensação de perigo buscando pontos de identificação com o agressor. A vítima, consciente ou não, enxerga nos pequenos gestos de “bondade” do sequestrador uma forma de segurança, confundindo medo e gratidão.
Condições que favorecem o vínculo
- Tempo de convivência prolongado entre vítima e agressor.
- Dependência total para alimentação, higiene e proteção.
- Isolamento do mundo exterior, que reforça a sensação de que apenas o sequestrador é fonte de contato humano.
- Alternância entre ameaças e gestos amistosos, criando uma relação de poder baseada em manipulação.
Casos emblemáticos ao redor do mundo

Patty Hearst – o caso mais famoso dos EUA
Na década de 1970, a herdeira americana Patty Hearst foi sequestrada por um grupo radical. Pouco tempo depois, apareceu armada ao lado dos criminosos em um assalto. O episódio gerou enorme repercussão e tornou-se um exemplo clássico de síndrome de Estocolmo.
Natasha Kampusch – cativeiro prolongado na Áustria
Sequestrada aos 10 anos, Natasha ficou oito anos em cativeiro. Após sua fuga, declarou ter desenvolvido sentimentos contraditórios em relação ao sequestrador. O caso gerou intensa discussão sobre como o isolamento pode alterar a percepção emocional da vítima.
Registros brasileiros
No Brasil, há relatos de vítimas que relataram empatia ou até afeto por sequestradores. Embora menos divulgados, psicólogos que atuam em investigações confirmam que a reação não é incomum e precisa ser compreendida dentro do contexto psicológico da vítima.
Afeto ou sobrevivência?
O papel dos hormônios
Em momentos de estresse, o corpo libera adrenalina e cortisol. Esses hormônios alteram a percepção da realidade e podem intensificar a ligação emocional. O que parece amor, muitas vezes é resultado da confusão entre medo, dependência e alívio.
Dependência psicológica
No cativeiro, o sequestrador é a única fonte de contato humano. Assim, gestos simples, como oferecer água ou permitir descanso, ganham valor simbólico enorme para a vítima, reforçando a dependência.
Relações de poder
Muitos criminosos usam alternância de violência e recompensas como estratégia de manipulação, levando a vítima a agradecer por pequenos atos de cuidado.
Estocolmo ou escolha pessoal?
Divergência entre especialistas
Alguns estudiosos veem esses casos como manifestações puras da síndrome de Estocolmo. Outros afirmam que, em determinadas situações, pode haver envolvimento emocional genuíno, decorrente de fatores individuais, como carência afetiva ou fragilidade emocional pré-existente.
Julgamento social
Vítimas que demonstram afeto pelos sequestradores costumam enfrentar críticas severas da sociedade. Muitas vezes são vistas como cúmplices ou frágeis, quando na realidade estão reagindo a um trauma.
A influência da mídia
Veículos de comunicação frequentemente exploram o tema de maneira sensacionalista, criando narrativas romantizadas que distorcem a violência sofrida e reforçam estigmas.
Consequências após o sequestro
Trauma persistente
Mesmo quando relatam sentimentos positivos pelo agressor, as vítimas carregam traumas profundos, que podem incluir transtorno de estresse pós-traumático, depressão e dificuldade em retomar relações de confiança.
A importância da terapia
O acompanhamento psicológico é fundamental para ajudar a vítima a compreender que os sentimentos foram moldados pela situação extrema, e não por uma escolha consciente.
Conflitos familiares
Muitas vezes, familiares e amigos não conseguem entender a relação afetiva desenvolvida no sequestro, o que pode gerar afastamento e agravar o sofrimento da vítima.
Amor verdadeiro ou ilusão psicológica?
Relatos de continuidade após a libertação
Existem casos em que vítimas e sequestradores mantiveram contato ou até relacionamentos depois da libertação. Para especialistas, a maioria dessas relações é consequência de dependência emocional prolongada, e não de amor genuíno.
A visão da Justiça
Para o sistema legal, o crime de sequestro continua existindo, independentemente do vínculo emocional estabelecido. O consentimento da vítima em manter relação após o cárcere não diminui a gravidade da infração.
Questão ética
Romantizar casos desse tipo é perigoso, pois pode normalizar a violência e reduzir a percepção da gravidade do crime.
O que podemos aprender com esses episódios
Necessidade de empatia
É essencial que a sociedade entenda que as vítimas não escolhem amar seus sequestradores. Esse comportamento é uma resposta psicológica complexa ao trauma.
Educação e conscientização
Campanhas educativas e explicações acessíveis podem ajudar a reduzir o estigma e incentivar as vítimas a buscar ajuda profissional.
Políticas públicas e prevenção
Apesar de os índices de sequestro terem diminuído em algumas regiões, o crime ainda existe. Investimentos em segurança, atendimento psicológico especializado e proteção às vítimas são fundamentais.
Considerações finais
Casos de vítimas que desenvolveram sentimentos por seus sequestradores parecem, à primeira vista, histórias de ficção. Contudo, são fenômenos documentados pela psicologia, explicados em parte pela síndrome de Estocolmo. Eles mostram como o ser humano pode reagir de maneiras inesperadas em situações de perigo extremo, transformando medo em aparente afeto.
Mais do que curiosidade, essas histórias trazem lições importantes sobre empatia, ciência do comportamento e necessidade de oferecer às vítimas suporte adequado para reconstruir suas vidas.


