Diante de fortes chuvas que têm atingido diversas regiões do país, ressurgem práticas populares que apelam à fé para pedir tempo bom. Uma das mais conhecidas é a simpatia dedicada a Santa Clara, que, segundo a tradição popular, teria o poder de “clarear o céu” e afastar a chuva. Com raízes profundas no catolicismo popular brasileiro, esse tipo de ritual é passado de geração em geração, preservando símbolos e crenças ligados à religiosidade simples do povo
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Quem é Santa Clara e por que ela é associada ao tempo?
A santa da luz
Santa Clara de Assis foi uma religiosa italiana do século XIII, fundadora da Ordem das Clarissas e seguidora de São Francisco de Assis. É conhecida por sua devoção à pobreza e à contemplação, sendo lembrada por diversos milagres relacionados à luz, o que inspirou sua associação ao “clarear” do tempo. No Brasil, a cultura popular transformou essa simbologia em uma forma de pedir que o tempo melhore, especialmente quando as chuvas ameaçam eventos ao ar livre ou atividades do cotidiano.
Fé popular e sincretismo
Assim como outros santos católicos são invocados para causas específicas — como São Pedro para controlar as chuvas ou Santo Antônio para unir casais —, Santa Clara ganhou fama como intercessora quando o céu está carregado. A tradição muitas vezes mistura elementos da religião formal com práticas simbólicas e orações que fogem da liturgia tradicional, mas mantêm forte apelo emocional.
Como funciona a simpatia para Santa Clara?
Simpatia do ovo no telhado
A versão mais conhecida da simpatia envolve um ovo cru, colocado inteiro e com casca sobre um telhado, muro ou janela, enquanto se faz uma oração pedindo que o céu fique limpo. A prática remete ao símbolo do ovo como representação do sol e da esperança de um dia claro.
Passo a passo
- Pegue um ovo cru (sem rachaduras);
- Coloque-o com cuidado sobre um local alto (como um telhado ou beiral);
- Reze a seguinte frase com fé:
“Santa Clara, clareai o céu. Afasta essa chuva com o vosso véu.” - Aguarde com confiança. Segundo a crença, o tempo deve abrir em breve.
Simpatia da roupa com sabão
Outra prática bastante comum consiste em lavar uma peça de roupa, ensaboá-la bem e deixá-la exposta ao ar livre. A ideia é “enganar” a chuva: se a roupa secar, o tempo permanece firme.
Como fazer
- Escolha uma peça clara, como uma camisa branca;
- Esfregue sabão até que forme bastante espuma;
- Pendure em local visível ao céu, como um varal no quintal;
- Faça uma prece a Santa Clara, pedindo para que a chuva vá embora.
Simpatia com sal
Essa versão é feita para interromper chuvas rápidas, como em festas, casamentos ou viagens. O sal simboliza purificação e resistência.
Ritual simples
- Pegue uma pequena porção de sal;
- Vá até uma janela de onde se vê o céu;
- De costas, jogue o sal por cima do ombro esquerdo;
- Faça um pedido com fé, dizendo:
“Santa Clara, traga o sol com seu poder. Que a chuva vá embora e não volte a descer.”
O valor simbólico e emocional dessas práticas

Tradições que resistem ao tempo
Apesar de não possuírem base científica, simpatias como essas continuam vivas no cotidiano de muitas pessoas. Elas representam a tentativa humana de se conectar com o divino em momentos de incerteza, como quando a natureza se mostra imprevisível.
Entre o misticismo e a espiritualidade
Muitos estudiosos da cultura popular apontam que essas práticas são formas de lidar com o desconhecido. Ao fazer uma simpatia, a pessoa cria uma sensação de controle diante de uma situação fora do seu alcance. Mesmo quem não acredita plenamente, costuma “fazer por via das dúvidas”.
A influência da meteorologia e da fé no cotidiano
Quando a previsão falha, entra a devoção
Com a popularização de aplicativos de previsão do tempo, satélites e radares meteorológicos, a ciência tem ampliado sua capacidade de prever eventos climáticos. No entanto, mesmo com essas ferramentas, as surpresas acontecem — e é nesses momentos que a fé popular volta à cena.
As simpatias não substituem a ciência, mas convivem com ela
Especialistas reforçam que simpatias não substituem ações práticas de prevenção, como monitoramento de áreas de risco e planejamento urbano. Contudo, elas desempenham um papel cultural importante, ao acolher emocionalmente quem sofre com as consequências do clima.
A simpatia como herança cultural brasileira
Raízes no interior e nas zonas rurais
Em comunidades rurais e cidades do interior, é comum encontrar moradores que aprenderam essas práticas com avós, vizinhos e líderes religiosos. Muitas vezes, elas são realizadas de forma coletiva, como nas festas juninas, batizados ou até mesmo durante períodos de seca ou enchentes.
Expressão de identidade regional
O modo como cada região pratica suas simpatias varia. Em alguns lugares, Santa Clara é chamada durante novenas; em outros, é invocada em versos ou cantigas. Essa diversidade mostra como a fé se adapta ao contexto e à linguagem local.
Curiosidades sobre Santa Clara e o tempo
Dia da santa e origem da tradição
Santa Clara é celebrada em 11 de agosto. A associação entre ela e o tempo provavelmente vem da ideia de “clareza” e do fato de seu nome remeter à luz. Na tradição italiana, ela também é invocada para proteção contra tempestades.
Outras figuras associadas à chuva
Além de Santa Clara, outras figuras religiosas também são lembradas em rituais relacionados ao clima. São Pedro, por exemplo, é chamado para mandar ou parar a chuva. Já São José aparece em algumas simpatias que pedem o retorno da chuva para períodos de seca.
Fé e natureza: entre a crença e o cuidado
Não basta acreditar: é preciso agir
A fé pode aliviar a ansiedade e renovar a esperança, mas não deve substituir medidas de segurança diante de desastres climáticos. Em tempos de mudanças climáticas, a ação coletiva e o planejamento público são essenciais para reduzir os danos causados por fenômenos extremos.
Espiritualidade como ferramenta de resiliência
A prática de simpatias, orações e rituais religiosos ajuda muitas pessoas a lidar com perdas e dificuldades trazidas por eventos climáticos. Essa dimensão espiritual pode ser um importante apoio emocional em momentos de crise.
Considerações finais
A simpatia de Santa Clara é mais do que uma tentativa de “parar a chuva”. Ela é parte do imaginário coletivo, da memória afetiva e da fé de um povo que, mesmo diante de dificuldades, encontra na religiosidade uma forma de resistência e conexão com o sagrado. Em tempos de extremos climáticos e incertezas, gestos como colocar um ovo no telhado ou fazer uma oração à santa revelam o quanto cultura e espiritualidade ainda caminham juntas no Brasil.
Mesmo que não se possa comprovar sua eficácia meteorológica, o valor simbólico dessas práticas permanece firme — como o desejo ancestral de conversar com o céu.













