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Silvio Tendler morre aos 75 anos e deixa legado marcante no cinema documental brasileiro

O documentarista Silvio Tendler, considerado um dos nomes mais influentes do cinema político no Brasil, faleceu nesta sexta-feira (5 de setembro de 2025), aos 75 anos, no Rio de Janeiro. A causa da morte foi uma infecção generalizada. Ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana. A informação foi confirmada por sua filha, Ana Rosa Tendler, e pela produtora Caliban, fundada pelo cineasta.

Apelidado de “cineasta dos sonhos interrompidos”, Tendler ficou conhecido por retratar figuras políticas e intelectuais que marcaram a história nacional. Sua morte representa o fim de uma trajetória de mais de cinco décadas dedicadas à preservação da memória brasileira.

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Formação e primeiros passos

Nascido em 1950 no Rio de Janeiro, Tendler iniciou sua relação com o cinema ainda jovem, participando de cineclubes nos anos 1960. Durante o período da ditadura militar, exilou-se no Chile e posteriormente na França, onde concluiu sua graduação em História na Universidade Paris VII e fez mestrado em Cinema e História na Sorbonne.

Essa vivência no exterior foi essencial para moldar sua visão crítica e a escolha por um cinema voltado à política, à memória e à justiça social. Ao retornar ao Brasil em meados da década de 1970, fundou a Caliban Produções Cinematográficas, empresa dedicada à produção de documentários que se tornaria referência no setor.

Obras que marcaram gerações

“Os Anos JK – Uma Trajetória Política”

Lançado em 1980, o documentário sobre Juscelino Kubitschek foi um marco na carreira de Tendler. Com cerca de 800 mil espectadores, tornou-se um dos filmes documentais mais assistidos da história do Brasil.

“Jango”

Quatro anos depois, em 1984, Tendler apresentou ao público um retrato contundente de João Goulart e dos acontecimentos que levaram ao golpe de 1964. O filme foi um sucesso de público e crítica, atraindo aproximadamente um milhão de espectadores.

“O Mundo Mágico dos Trapalhões”

Em 1981, Tendler surpreendeu ao lançar um documentário sobre o grupo humorístico Os Trapalhões. O filme alcançou 1,8 milhão de ingressos vendidos, consolidando-se como o documentário mais visto do país até hoje.

Outras produções

Entre suas mais de 70 obras, também se destacam Tancredo – A Travessia (2011), Josué de Castro – Cidadão do Mundo (1994), Milton Santos – Pensador do Brasil (2001), Glauber, o Filme – Labirinto do Brasil (2003) e Utopia e Barbárie (2009). Em paralelo, Tendler produziu mais de 100 trabalhos audiovisuais e séries para televisão, sempre com foco em temas sociais, culturais e políticos.

Doença, falecimento e despedida

Nos últimos anos, o cineasta convivia com complicações de saúde decorrentes de uma neuropatia diabética. A condição fragilizou seu organismo e contribuiu para a infecção generalizada que causou sua morte.

O velório de Silvio Tendler será realizado no domingo, 7 de setembro, às 11h, no Cemitério Comunal Israelita do Caju, no Rio de Janeiro. Amigos, familiares, colegas de profissão e admiradores devem se reunir para prestar as últimas homenagens.

Reconhecimento e homenagens

Diversas instituições e personalidades ligadas à cultura lamentaram a perda. A produtora Caliban destacou que Tendler deixa “um legado de utopias e de luta por justiça social”. A Casa Rui Barbosa ressaltou sua coragem ao retratar personagens e episódios centrais da história brasileira.

Ao longo da carreira, Tendler recebeu importantes condecorações, como a Ordem de Rio Branco (2006) e a Ordem do Mérito Cultural (2025). Também foi reconhecido em festivais nacionais e internacionais, consolidando seu nome entre os grandes documentaristas da América Latina.

O legado do “cineasta dos sonhos interrompidos”

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Imagem: Christian Rodrigues/Flickr…

Silvio Tendler construiu um cinema que ultrapassou o campo artístico para se tornar também um instrumento de memória e de resistência. Suas obras preservam a trajetória de líderes políticos e pensadores que, muitas vezes, tiveram seus projetos de país interrompidos por golpes, perseguições ou injustiças históricas.

Seu estilo mesclava rigor acadêmico, emoção e uma narrativa acessível, aproximando a história das pessoas comuns. Essa combinação fez de seus documentários importantes ferramentas pedagógicas, utilizadas em escolas e universidades, além de peças fundamentais na formação de consciência política no Brasil.

Considerações finais

A morte de Silvio Tendler representa uma grande perda para a cultura brasileira, mas sua obra continuará viva como testemunho de um país em constante luta por memória e justiça. O cineasta deixou filmes que emocionam, provocam reflexão e permanecem atuais diante dos desafios democráticos do presente.

Ao transformar a história em cinema, Tendler eternizou personagens e ideais que poderiam ter mudado os rumos do Brasil. O “cineasta dos sonhos interrompidos” se despede, mas sua arte seguirá inspirando novas gerações.

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