A crença de que relações sexuais antes de eventos esportivos podem prejudicar a performance física é antiga e bastante difundida entre atletas, técnicos e torcedores. Durante décadas, a abstinência foi considerada uma estratégia de preparação, sob a ideia de que o sexo poderia drenar energia, reduzir a agressividade e comprometer o foco. Mas será que essa ideia se sustenta diante das evidências científicas?
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A origem do mito da abstinência sexual no esporte
A recomendação de evitar o sexo nos dias que antecedem uma competição não surgiu por acaso. Por muitos anos, acreditava-se que o ato sexual provocava uma queda nos níveis de testosterona — hormônio essencial para o desempenho físico e mental — e que isso poderia afetar negativamente a força, velocidade e concentração dos atletas.
Na prática esportiva, essa orientação foi amplamente adotada em diversos esportes de alto rendimento, incluindo o boxe, futebol e atletismo. Alguns treinadores mais conservadores ainda seguem essa linha, pedindo que seus atletas mantenham distância de atividades sexuais antes de uma disputa.
O que a ciência realmente mostra sobre sexo e performance?
Revisões científicas e conclusões recentes
Estudos recentes, conduzidos em diferentes partes do mundo, mostram que essa ideia pode estar ultrapassada. De acordo com a maioria das pesquisas, não há evidências concretas de que manter relações sexuais antes de uma competição, especialmente com antecedência de algumas horas ou na noite anterior, prejudique o rendimento físico.
Por exemplo, revisões científicas apontam que:
- O desempenho físico não apresenta alterações significativas após relações sexuais realizadas até 10 horas antes da prova;
- Em alguns casos, a atividade sexual pode ajudar a reduzir o estresse pré-competitivo;
- Não foram observadas quedas em indicadores como força muscular, resistência ou tempo de reação.
Ou seja, a prática sexual antes de um evento esportivo, desde que respeite o tempo de descanso e não atrapalhe a preparação geral, não compromete a performance.
Efeitos psicológicos: o papel do bem-estar
Mais do que o aspecto físico, o sexo pode ter efeitos emocionais positivos. Muitos atletas relatam que se sentem mais relaxados, tranquilos e confiantes após a atividade sexual. A liberação de endorfinas e a sensação de prazer podem contribuir para uma noite de sono de melhor qualidade — algo essencial para qualquer atleta em fase de competição.
Contudo, o impacto psicológico é subjetivo. Para alguns, a ansiedade pode aumentar, especialmente se houver culpa ou preocupação em estar “quebrando regras”. Nesses casos, a recomendação é respeitar a individualidade.
O tempo entre o sexo e a prova importa?
Sim, o intervalo entre a atividade sexual e a competição pode fazer diferença. O consenso entre médicos do esporte é que o sexo logo antes de uma prova — por exemplo, nas duas horas anteriores — pode comprometer o foco e até atrapalhar o aquecimento adequado.
No entanto, se o ato for realizado com várias horas de antecedência (como na noite anterior), e não envolver esforço físico excessivo, não há motivos fisiológicos para imaginar uma queda de rendimento.
Além disso, o estilo de vida e a rotina do atleta são fatores importantes. Aqueles que estão acostumados a manter relações sexuais com frequência provavelmente não sentirão impacto negativo — e podem até se beneficiar de manter seus hábitos normais.
O que dizem os profissionais da medicina esportiva?
Médicos e fisiologistas consultados por universidades e instituições esportivas reforçam que o desempenho atlético está muito mais ligado a outros fatores, como:
- Qualidade do treino;
- Nível de preparo físico;
- Sono e descanso adequados;
- Nutrição;
- Estabilidade emocional.
Assim, impor uma regra rígida de abstinência pode ser mais prejudicial do que benéfica. O ideal é que o atleta esteja confortável, tranquilo e confiante antes da competição, mantendo seus próprios rituais e práticas.
Há diferença entre modalidades esportivas?

A exigência física de cada esporte pode influenciar essa análise. Em modalidades de resistência prolongada, como maratonas, ou de alta intensidade, como lutas e crossfit, o foco nas horas anteriores ao evento é essencial. Nessas situações, uma boa noite de sono e uma rotina controlada podem fazer mais diferença que qualquer prática sexual em si.
Já em esportes menos desgastantes ou em provas que acontecem mais tarde no dia, o impacto da atividade sexual é ainda menos relevante. O importante é que o atleta esteja física e mentalmente preparado — o que pode, inclusive, incluir o sexo em sua rotina.
Casos históricos: atletas que desafiaram o tabu
Alguns atletas famosos já declararam publicamente que não acreditam na necessidade de abstinência. Entre eles:
- Muhammad Ali, por exemplo, era conhecido por evitar sexo antes das lutas, mas a decisão vinha de convicções pessoais, não médicas;
- Mike Tyson, por outro lado, admitiu ter mantido relações até pouco antes de lutas importantes;
- Diversos jogadores de futebol, como Ronaldinho Gaúcho e outros ícones, sempre mantiveram uma vida sexual ativa mesmo às vésperas de grandes partidas.
Esses relatos mostram que a resposta ao tema não é única: cada atleta tem uma rotina e uma resposta física e mental diferente.
Considerações finais: mitos caem, ciência avança
A ideia de que sexo antes de uma competição compromete o desempenho físico é cada vez mais vista como um mito. Evidências científicas atuais não sustentam a necessidade de abstinência sexual como regra geral para atletas de alto rendimento.
Pelo contrário, o bem-estar emocional proporcionado por uma vida sexual ativa — com equilíbrio e responsabilidade — pode até beneficiar o atleta no momento da competição. O mais importante é o autoconhecimento, o planejamento e o respeito às preferências pessoais.
Portanto, antes de proibir ou seguir cegamente tradições antigas, vale a pena ouvir o próprio corpo, conversar com profissionais da saúde esportiva e encontrar o equilíbrio ideal para alcançar o máximo rendimento.













