Você já sentiu como se alguém estivesse ao seu lado, mesmo estando completamente sozinho? Essa experiência misteriosa, muitas vezes descrita como uma “presença invisível”, desperta curiosidade, medo e até interpretações sobrenaturais. No entanto, para a ciência, esse fenômeno tem explicações racionais — e envolve o modo como o cérebro humano processa informações sensoriais e emocionais.
Pesquisas recentes em neurociência indicam que a sensação de presença pode ocorrer por falhas momentâneas na integração cerebral, especialmente em situações de estresse, privação de sono ou doenças neurológicas. O que sentimos como “alguém por perto” pode, na verdade, ser uma ilusão criada por nosso próprio sistema nervoso.
Neste artigo, você vai entender por que essa sensação acontece, quais condições favorecem o fenômeno, como o cérebro reage nesses momentos e quando é importante procurar ajuda médica.
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O que é a sensação de presença
A ilusão de uma companhia invisível
Os cientistas chamam essa experiência de “sensação de presença” (ou felt presence, em inglês). Ela ocorre quando uma pessoa percebe que há alguém ao seu redor, mesmo sem qualquer estímulo visual, sonoro ou tátil que comprove isso.
Essa percepção é tão vívida que o indivíduo pode sentir a posição da “presença” — atrás, ao lado ou até observando à distância. Em alguns casos, a sensação é reconfortante; em outros, causa medo intenso, especialmente quando surge durante a noite ou em locais isolados.
Por que o cérebro cria essa sensação

Nosso cérebro é um grande integrador de informações. Ele combina sinais dos sentidos — visão, audição, tato e equilíbrio — para criar uma percepção coerente da realidade. Quando há uma falha nessa integração, o cérebro tenta preencher a lacuna, e a mente pode interpretar o próprio corpo ou sombra como uma outra pessoa.
Esse tipo de erro perceptivo é uma alucinação não visual, semelhante às ilusões que ocorrem em sonhos ou durante a paralisia do sono.
A ciência por trás do fenômeno
Pesquisas em neurociência revelam a origem cerebral
Cientistas da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, realizaram experimentos com voluntários usando robôs que imitavam o toque humano com atraso milimétrico. O resultado? Muitos participantes relataram sentir “alguém” atrás deles, mesmo sabendo que estavam sozinhos.
Esses estudos mostraram que a sensação está ligada à junção temporoparietal — uma região do cérebro responsável pela percepção corporal e pela consciência espacial. Quando essa área é “enganada”, o cérebro projeta uma presença imaginária para justificar o descompasso sensorial.
Casos em doenças neurológicas
A sensação de presença é comum em pessoas com doença de Parkinson, epilepsia, esquizofrenia e distúrbios do sono. Nessas condições, os circuitos neurais que controlam a autopercepção e o equilíbrio são afetados, aumentando a chance de o cérebro criar percepções equivocadas.
Segundo o neurologista suíço Olaf Blanke, que lidera estudos sobre o tema, “a sensação de presença é uma ilusão do próprio corpo. É como se o cérebro duplicasse a percepção do ‘eu’ e criasse uma sombra sensorial”.
Fatores que favorecem o fenômeno
Cansaço extremo e privação de sono
A privação de sono afeta áreas do cérebro responsáveis pela atenção e percepção, tornando mais provável que estímulos neutros sejam interpretados como ameaças ou presenças. É comum que pessoas em turnos noturnos, caminhantes solitários e motoristas cansados relatem esse tipo de sensação.
Estresse e adrenalina
Em situações de medo intenso, o corpo libera adrenalina e cortisol, aumentando o estado de alerta. Essa hiperativação sensorial pode gerar falsos sinais, fazendo o cérebro interpretar ruídos, sombras ou movimentos involuntários como indícios de outra pessoa.
Isolamento e solidão
O isolamento social também tem impacto. Em longos períodos de solidão, o cérebro tende a simular interações sociais para compensar a falta de contato humano. Isso explica por que exploradores, marinheiros e astronautas relatam sentir “companhias invisíveis” em missões solitárias.
Paralisia do sono
Durante a paralisia do sono — quando a mente desperta, mas o corpo ainda está imobilizado —, muitas pessoas relatam sentir uma presença no quarto. Nesses momentos, o cérebro está em um estado híbrido entre sonho e vigília, gerando imagens e sensações extremamente realistas.
Quando a sensação se torna um sintoma
O limite entre o normal e o patológico
Ocasionalmente sentir que há alguém por perto é normal, especialmente em situações de cansaço, estresse ou escuridão. Porém, quando essa sensação é recorrente, intensa ou acompanhada de outros sintomas — como ouvir vozes, ver figuras ou sentir toques inexistentes —, pode ser sinal de um distúrbio neurológico ou psiquiátrico.
Quando procurar ajuda médica
Especialistas recomendam buscar avaliação se:
- As sensações forem frequentes ou causarem ansiedade e insônia.
- Forem acompanhadas por alucinações visuais ou auditivas.
- Houver histórico familiar de doenças neurológicas ou mentais.
O médico poderá solicitar exames neurológicos e psiquiátricos para identificar se há causas clínicas associadas, como epilepsia, distúrbios do sono ou alterações hormonais.
O que fazer quando isso acontece
Cuide do sono e reduza o estresse
Manter uma boa higiene do sono é essencial. Evite cafeína à noite, reduza a exposição a telas e estabeleça uma rotina regular de descanso. Práticas de relaxamento, como meditação e respiração profunda, ajudam a diminuir o estado de alerta que contribui para esse tipo de percepção.
Mantenha estímulos sensoriais equilibrados
Ambientes muito escuros, silenciosos ou isolados favorecem ilusões sensoriais. Ligar uma luz suave ou um som ambiente pode ajudar o cérebro a recalibrar sua percepção.
Busque apoio emocional
Conversar com familiares ou profissionais de saúde sobre a experiência reduz o medo e a sensação de anormalidade. O apoio psicológico também ajuda a identificar possíveis gatilhos emocionais relacionados ao episódio.
Mitos e verdades sobre a sensação de presença
Mitos
- “Sentir uma presença significa que há algo sobrenatural.” Falso: a ciência mostra que é um fenômeno do cérebro, não uma manifestação espiritual.
- “Apenas pessoas com doenças mentais sentem isso.” Também falso: qualquer pessoa pode ter a sensação, especialmente sob estresse, cansaço ou medo.
Verdades
- O fenômeno é comum e não indica necessariamente doença.
- O cérebro humano pode criar sensações realistas a partir de estímulos mínimos.
- Em alguns casos, a sensação pode estar ligada a condições médicas e requerer avaliação profissional.
Considerações finais
Sentir que há alguém por perto quando se está sozinho pode ser assustador, mas na maioria das vezes é apenas uma resposta do cérebro a desequilíbrios sensoriais ou emocionais. Essa “presença invisível” revela como nosso sistema nervoso é complexo e, ao mesmo tempo, vulnerável a ilusões.
Compreender o fenômeno ajuda a afastar interpretações sobrenaturais e a lidar com ele de forma racional. Caso a sensação se repita com frequência ou venha acompanhada de outros sintomas, procurar orientação médica é fundamental. Em muitos casos, cuidar do sono, reduzir o estresse e manter hábitos saudáveis é suficiente para evitar que o cérebro crie essas falsas presenças.













