Por que algumas seleções usam cores que não aparecem nas bandeiras nacionais?
Quando a camisa não combina com a bandeira: o que está por trás das cores das seleções
O futebol é carregado de símbolos: escudos, hinos, mascotes e, claro, as cores dos uniformes. Em muitos casos, essas cores estão diretamente ligadas aos tons da bandeira nacional. Porém, algumas seleções optam por seguir caminhos diferentes, utilizando camisas que não representam diretamente suas bandeiras — mas que têm significados profundos. Por trás dessas escolhas estão histórias antigas, influências políticas, tradições culturais e homenagens nacionais.
Neste artigo, vamos explorar os principais exemplos de seleções que adotam uniformes com cores diferentes de suas bandeiras e entender os motivos que justificam essas decisões que, para muitos torcedores, podem parecer curiosas à primeira vista.
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Uniformes fora do padrão: tradição, cultura e história
O caso da Itália: o azul que homenageia a realeza
A seleção italiana de futebol é conhecida mundialmente como “Gli Azzurri” — ou seja, “Os Azuis”. A cor é inconfundível e tradicional, mas não aparece em nenhum lugar da bandeira nacional, composta por verde, branco e vermelho.
A explicação está na história da unificação italiana. O azul era a cor da Casa de Saboia, dinastia que liderou o processo de unificação no século XIX. Como forma de homenagear essa origem histórica, o tom azul se tornou uma espécie de símbolo nacional esportivo. Até hoje, todas as seleções italianas, em diferentes esportes, adotam a cor como uniforme principal.
Holanda: o laranja da Casa de Orange
A seleção dos Países Baixos (Holanda) também é facilmente reconhecida por seu uniforme laranja vibrante. No entanto, a bandeira holandesa tem vermelho, branco e azul. Então, por que o laranja?
A resposta está na família real. O país é historicamente vinculado à Casa de Orange-Nassau, e a cor laranja passou a ser um símbolo da monarquia e da identidade nacional holandesa. O uniforme é uma forma de reverência à linhagem real e também de afirmar a nacionalidade com um símbolo único e autêntico.
Japão: o azul dos “Samurais Azuis”
O Japão tem uma das bandeiras mais minimalistas do mundo: fundo branco com um círculo vermelho no centro. Apesar disso, a seleção nacional usa o azul como cor principal do uniforme, o que surpreende muita gente.
Historicamente, o azul foi escolhido porque era a cor da equipe da Universidade Imperial de Tóquio, de onde saíram muitos dos primeiros jogadores da seleção nacional. Com o passar do tempo, o azul foi consolidado como a cor da equipe, associando-se ao mar que cerca o país e ao espírito de união e disciplina dos “Samurais Azuis”.
Alemanha: branco e preto da tradição prussiana
A bandeira atual da Alemanha é composta por faixas horizontais preta, vermelha e dourada. Mesmo assim, a seleção joga tradicionalmente de branco com detalhes pretos. O motivo remete ao Reino da Prússia, cuja bandeira era branca e preta e que teve papel fundamental na unificação da Alemanha.
Essa combinação de cores se manteve mesmo após transformações políticas e permanece como um símbolo clássico do futebol alemão, adotado também em outras modalidades esportivas.
Casos emblemáticos em outras partes do mundo

Austrália: verde e dourado em vez do azul, vermelho e branco
A bandeira australiana tem o azul como fundo, além das cores vermelha e branca na representação da Union Jack. Mesmo assim, as seleções da Austrália utilizam uniformes verde e amarelo (ou dourado), inclusive no futebol.
Essas cores são associadas à flor símbolo do país, a acácia-dourada (Golden Wattle). O verde e dourado se tornaram os tons nacionais para o esporte e são adotados por praticamente todas as seleções australianas, inclusive nas Olimpíadas.
Irlanda do Norte: verde no lugar do vermelho e branco
A bandeira usada para representar a Irlanda do Norte (quando não há uso do símbolo do Reino Unido) é vermelha com cruz branca. No entanto, a seleção de futebol atua tradicionalmente com uniformes verdes.
O verde é uma cor fortemente associada à ilha da Irlanda e à cultura celta. Também remete a São Patrício, padroeiro da Irlanda. Por isso, mesmo sem aparecer na bandeira oficial, a cor verde carrega forte significado identitário para a equipe.
Seleções que podem mudar suas cores tradicionais
Brasil e a camisa vermelha: hipótese ou provocação?
Recentemente, o tema ganhou espaço no debate esportivo brasileiro após especulações sobre a possibilidade da seleção canarinho adotar um uniforme vermelho como alternativo. Isso representaria uma mudança ousada em relação às tradicionais camisas verde-amarelas (cores que só foram adotadas após a Copa de 1950).
A inspiração para o vermelho viria do pau-brasil, árvore nativa que deu nome ao país e cuja madeira tem coloração avermelhada. Embora seja apenas uma ideia, ela levanta o debate sobre até que ponto é possível mudar a estética de uma seleção sem afetar sua identidade visual construída ao longo de décadas.
Por que as cores dos uniformes são tão importantes?
As cores de uma seleção nacional não são apenas elementos estéticos — elas carregam simbolismo, geram identificação com o povo e se tornam parte da cultura de um país. Mudanças bruscas podem causar reações fortes por parte da torcida, como se o time estivesse traindo suas origens.
No entanto, também é possível criar ou reforçar laços culturais com escolhas bem fundamentadas, como no caso do Japão, Itália ou Holanda. Quando a cor do uniforme conta uma história ou conecta o povo à sua herança, ela se torna um instrumento poderoso de expressão nacional.
Outras seleções com cores inesperadas
| País | Cor do uniforme | Cores da bandeira | Justificativa |
|---|---|---|---|
| Itália | Azul | Verde, branco e vermelho | Homenagem à Casa de Saboia |
| Holanda | Laranja | Vermelho, branco e azul | Ligação com a Casa de Orange |
| Japão | Azul | Branco e vermelho | Tradição universitária e simbolismo nacional |
| Alemanha | Branco e preto | Preto, vermelho e dourado | Herança do Império Prussiano |
| Austrália | Verde e dourado | Azul, vermelho e branco | Referência à flora nacional |
| Irlanda do Norte | Verde | Vermelho e branco | Tradição cultural da ilha |
Considerações finais
A escolha das cores de um uniforme vai muito além da paleta da bandeira. Envolve fatores históricos, culturais, simbólicos e até políticos. Em alguns casos, as cores reforçam laços com a tradição e identidade de um país. Em outros, criam distinção visual e marcam posição dentro do esporte internacional.
Entender o porquê dessas escolhas nos ajuda a compreender mais sobre a história de cada nação — e, claro, a torcer com mais consciência e respeito pelas cores que representam algo maior do que apenas o jogo.


