Considerando que, hoje em dia, cada vez menos os pais têm tempo para ficar em casa e cuidar de seus filhos, muitos problemas passam despercebidos. Dentre eles, um dos mais graves certamente é o bullying. Você já notou, por exemplo, alguma mudança de comportamento nas crianças ou nos adolescentes? O rendimento escolar deles caiu? Se sim, você sabe o que motivou isso?
De acordo com informações de especialistas entrevistados pelo G1, os pais devem ter uma atenção especial a quatro tópicos para serem capazes de identificar se o filhos sofrem com o problema ou até mesmo se são eles quem o provocam.
- Ouvir os filhos e transmitir confiança a eles;
- Prestar atenção em mudanças súbitas de comportamento;
- Ter conhecimento sobre quais são os perfis mais típicos de bullying;
- Saber que o bullying não se limita a violência física.
Ouvir os filhos e passar confiança a eles
A colunista do G1 e especialista em educação, Andrea Ramal, diz que é importante os pais oferecerem uma relação de diálogo aberto com os filhos, de forma que eles se sintam confiantes em falar sobre seus problemas. Andrea reforça a importância dos responsáveis terem sensibilidade e a capacidade de compreender a situação a qual está lidando. “Jamais se deve, em casa, reforçar o comportamento de sofrer calado porque ‘todo mundo passa por isso’, nem mostrar orgulho porque o filho é ‘o valentão da escola’ e todos o temem”, diz.

A jornalista e escritora Vanessa Bencz chama a atenção para o fato de ser importante os pais monitorarem as interações virtuais das crianças e dos jovens: “Os pais falam ‘não quero entrar, invadir a intimidade do meu filho’. A internet é tão perigosa quanto qualquer rua da cidade. Tem que olhar sim, tem que fiscalizar sim”.
Se atentar às mudanças de comportamento
De acordo com a professora e especialista em bullying Cleo Fante, “o calar é o mais fatal no bullying“. O silêncio se torna um perigo real à medida que a vítima se fecha e se isola cada vez mais. É comum que crianças e adolescentes que encaram o problema de perto apresentem mudanças em seu comportamento, o que envolve uma menor interação com a família. Muitas vezes, por vergonha.
“O silêncio é a pior arma. Quanto mais a vítima silencia, mais infernizam a vida. Quando há a aceitação, agrava mais a situação. Se o apelido não faz efeito, podem partir para a agressão”, conta Cleo.
Outro fator comum em quem sofre com o bullying é o comportamento agressivo. “É importante prestar atenção nos comentários quando assiste TV, quando está na internet, comentários pejorativos, mais fortes”, alerta Vanessa.

Da mesma maneira, os efeitos do bullying podem comprometer consideravelmente o rendimento escolar e as faltas de quem está envolvido com ele. Estar diante da grave situação pode causar resistência dos filhos ao ambiente escolar, além de comportamentos como desanimo, desinteresse e pedidos para ir embora mais cedo. “Se isso é constante, não descobre o que é, pode levar à investigação de bullying. (…) A criança reluta em ir para a escola, diz que é chata, que não gosta dos amigos. Tem dores, pesadelos, transtornos alimentares, de sono, ansiedade, transtornos compulsivos, depressivos”, afirma a jornalista.
Conhecer os perfis do bullying
É de fundamental importância que os pais se atentem a alguns fatores no que diz respeito aos perfis mais típicos de bullying. O principal alvo, segundo Cleo, costumam ser as crianças enxergadas como diferentes ou que não se encaixem nos padrões sociais: “Aquelas que são diferentes costumam ser alvo: obesas, muito magras, com manchas, marcas, cicatrizes, que usam óculos, homossexuais, muito sensíveis ou muito irritadas”. A dificuldade em se enturmar é algo que não pode ser ignorado pelos pais.
No caso dos agressores, um detalhe a ser observado é sua dificuldade para seguir regras. Crianças ou jovens que costumam brigar, são desobedientes ou exercem liderança e comportamento negativos são perfil comum de quem provoca. “Os pais precisam conversar abertamente, orientar para o respeito nas relações, para a não discriminação, para a tolerância de quem é diferente”, ressalta Cleo. E assim que o agressor é identificado, a especialista diz que o melhor caminho é uma “responsabilização de acordo a ação cometida. Elas precisam ser chamadas à razão, tanto em casa quanto na escola”.

Vale a ressalva também de que, muitas vezes, as plateias que se formam durante as agressões são um problema muito sério. Não existe normalidade em achar graça em humilhar uma outra pessoa. A ‘plateia’ contribui com o agressor. “Em torno daquele que agride e daquele que é atacado, costuma haver uma turminha que ri e aplaude. Sem esse sucesso, os agressores costumam desistir. Quando houver alguém sofrendo atos de crueldade, cabe a denúncia”, afirma Vanessa.
Bullying não é só violência física
De acordo com uma lei que entrou em vigor no início de 2016, o bullying não somente se restringe às agressões físicas. Ele também é, de acordo com o G1:
- Verbal: insultos, xingamentos e apelidos pejorativos;
- Moral: difamação, calúnias e rumores disseminados;
- Sexual: assédio, indução e/ou abuso;
- Social: ignorar, excluir e isolar;
- Psicológico: perseguir, aterrorizar, intimidar, manipular e chantagear;
- Físico: socos, chutes, agressões;
- Material: furtos, roubos, destruição de pertences alheios;
- Virtual: depreciar, enviar mensagens que intrudem a intimidade, adulterar ou expor dados e fotos pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de causar constrangimento psicológico e social.
O que fazer?
De acordo com os especialistas, o caminho para solucionar o problema deve ser trilhado em conjunto entre a família, a escola e os amigos. E as principais medidas a serem tomadas são: reconhecer a existência do bullying; Ter conhecimento da lei de combate ao problema e cumprir as orientações; Transformar os valores dos alunos dentro das escolas; Engajar os professores; Envolver mais os pais na vida escolar dos filhos; Nunca subestimar o cyberbullying (bullying virtual).












