A saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser um tema secundário para se tornar um dos maiores desafios do mercado corporativo. Uma pesquisa recente mostrou que a maior parte dos profissionais brasileiros, incluindo líderes e liderados, tem recorrido ao uso de medicamentos psiquiátricos para lidar com sintomas de estresse, ansiedade e até burnout. Os números revelam uma tendência preocupante: o remédio está se transformando em um mecanismo comum de enfrentamento diante de pressões que ultrapassam os limites da produtividade.
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O retrato da saúde mental no trabalho
Crescimento acelerado do uso de medicamentos
O levantamento indica que mais da metade dos profissionais no Brasil relatou fazer uso de psicofármacos em 2025, um aumento expressivo em comparação ao ano anterior. Entre gestores, o índice passou dos 50%, enquanto entre colaboradores o percentual chegou perto de 60%. Essa escalada sugere que os desafios emocionais se tornaram universais, atingindo todos os níveis da hierarquia corporativa.
Causas estruturais
O estresse relacionado ao trabalho é apontado como o principal fator que leva os profissionais a buscar apoio químico. Metas elevadas, prazos reduzidos e sobrecarga de tarefas são apontados como os maiores gatilhos. Além disso, relações de trabalho marcadas por falta de diálogo, ambientes tóxicos e pressão contínua reforçam a sensação de esgotamento.
Diagnósticos em crescimento
Outro dado relevante é o número de diagnósticos formais de transtornos mentais associados ao trabalho. Estresse crônico, ansiedade generalizada e burnout aparecem entre as condições mais frequentes. Isso mostra que não se trata apenas de um desconforto passageiro, mas de um quadro clínico que já exige acompanhamento médico.
Impactos do uso frequente de remédios
Alívio imediato, mas não solução definitiva
Embora o uso de medicamentos ofereça alívio rápido para sintomas como insônia, irritabilidade e crises de ansiedade, especialistas alertam que essa não deve ser a única estratégia de cuidado. A dependência química ou o uso prolongado sem acompanhamento adequado pode trazer novos riscos à saúde.
Efeitos no desempenho profissional
O uso contínuo de psicofármacos pode afetar a concentração, a memória e até a produtividade. Muitos profissionais continuam presentes fisicamente no ambiente de trabalho, mas apresentam rendimento reduzido, um fenômeno conhecido como presenteísmo. Isso gera impacto indireto na economia e no funcionamento das empresas.
Estigma e silêncio
Outro ponto é o estigma que ainda envolve a saúde mental. Muitos trabalhadores escondem que fazem uso de remédios por medo de julgamento. Esse silêncio acaba reforçando uma cultura em que os problemas emocionais são vistos como fraqueza, em vez de serem tratados como questão de saúde pública.
A saúde mental no Brasil além das empresas

Consumo nacional de psicofármacos
Dados de estudos anteriores já mostravam que o Brasil está entre os países que mais consomem antidepressivos e ansiolíticos no mundo. Mulheres e pessoas entre 20 e 59 anos são os grupos que mais utilizam essas medicações, principalmente nas regiões Sudeste e Sul.
Limites do sistema público
O Sistema Único de Saúde conta com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), responsável por atender pessoas com transtornos mentais. No entanto, há déficit de profissionais, recursos limitados e desigualdade no acesso aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Esse cenário leva muitas pessoas a recorrerem ao remédio como solução mais rápida e acessível, mesmo sem acompanhamento terapêutico adequado.
Caminhos para enfrentar a crise da saúde mental no trabalho
Investimento em programas corporativos
Empresas que criam iniciativas voltadas para bem-estar psicológico, como palestras, apoio psicológico interno e incentivo a pausas, conseguem reduzir o nível de adoecimento. Políticas de flexibilidade, jornadas equilibradas e valorização do descanso são alternativas que diminuem a dependência por medicamentos.
Terapia e acompanhamento especializado
Além da prescrição médica, a psicoterapia é considerada fundamental para lidar com as causas emocionais e comportamentais dos transtornos. A combinação entre medicamentos e terapia é vista como a forma mais eficaz e segura de tratamento.
Pausas e equilíbrio entre vida pessoal e profissional
Uma das principais queixas dos profissionais é a falta de tempo para cuidar de si. Incentivar intervalos reais, respeitar o horário de descanso e promover ambientes de desconexão são medidas que podem mudar a realidade de quem se sente constantemente sobrecarregado.
Uso consciente dos remédios
Para os que já fazem uso de psicofármacos, especialistas reforçam a importância do acompanhamento médico, da revisão periódica da dosagem e do monitoramento de efeitos colaterais. O medicamento deve ser parte de uma estratégia integrada, não a única solução.
Perspectivas futuras
Necessidade de mudanças estruturais
O aumento do uso de remédios entre profissionais é um alerta que não pode ser ignorado. Se empresas e gestores não atuarem em conjunto com políticas públicas de saúde mental, a tendência é que o problema se agrave, gerando mais afastamentos, queda de produtividade e custos sociais.
Valorização do bem-estar como prioridade
A discussão sobre saúde mental no trabalho precisa ir além da aparência de produtividade. Cuidar de pessoas significa investir em condições de trabalho mais humanas, que reconheçam os limites individuais e estimulem a qualidade de vida como valor central.
Considerações finais
O dado de que a maioria dos profissionais no Brasil recorre a medicamentos para lidar com problemas de saúde mental reflete um cenário preocupante. O fenômeno mostra a urgência de políticas mais robustas tanto no ambiente corporativo quanto no setor público. Mais do que tratar sintomas, é preciso atacar as causas: excesso de pressão, falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e ausência de suporte adequado. A saúde mental não deve ser vista como um luxo ou como fraqueza, mas como elemento essencial para o futuro do trabalho e da sociedade brasileira.













