O filme de ficção científica que demorou 20 anos para chegar ao streaming
Lançado em 2019, o filme Projeto Gemini (Gemini Man) foi uma das produções mais comentadas daquele ano, não apenas por seu elenco estrelado, mas pela ousadia tecnológica. Dirigido pelo premiado Ang Lee, vencedor do Oscar por As Aventuras de Pi e O Segredo de Brokeback Mountain, o longa chamou atenção por utilizar técnicas avançadas de efeitos visuais e filmagem em altíssima taxa de quadros.
Protagonizado por Will Smith, que interpreta duas versões de si mesmo em idades diferentes, o longa enfrentou uma trajetória curiosa: foi planejado desde a década de 1990, mas só pôde ser realizado mais de 20 anos depois devido à limitação tecnológica da época. Apesar do investimento pesado — o orçamento ultrapassou os US$ 130 milhões —, o filme não teve o retorno financeiro esperado e recebeu críticas divididas. Hoje, encontra no streaming uma nova oportunidade de ser revisitado, despertando debates sobre cinema, tecnologia e narrativa.
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A origem de Projeto Gemini
Uma ideia antiga de Hollywood
O conceito de Projeto Gemini nasceu nos anos 1990. Estúdios como a Disney chegaram a desenvolver versões do roteiro, mas o projeto foi engavetado repetidas vezes. A razão era simples: a tecnologia ainda não permitia recriar digitalmente um ator de forma convincente em diferentes idades.
O renascimento com Ang Lee
Somente em 2016 o roteiro foi retomado com força, quando a Paramount e a Skydance acreditaram que os avanços no CGI tornariam o filme possível. Coube a Ang Lee conduzir a produção, apostando em inovação e na ideia de desafiar os limites do cinema tradicional.
O enredo de Projeto Gemini
A trama gira em torno de Henry Brogan (Will Smith), um assassino profissional que decide se aposentar após anos de serviço em missões secretas. Contudo, ele passa a ser caçado por uma versão mais jovem de si mesmo, conhecida como Junior, criada através de clonagem e programada para eliminar o original.
O embate entre o homem experiente e seu “eu” rejuvenescido levanta discussões sobre identidade, ética científica e até o sentido da vida, ainda que de forma mais voltada à ação do que à filosofia.
Inovações técnicas do filme
A tecnologia de rejuvenescimento digital
Um dos grandes marcos do longa foi a criação de Junior, a versão jovem de Will Smith feita totalmente por computação gráfica. Diferente de filmes que utilizam apenas maquiagem digital ou retoques de cena, Projeto Gemini desenvolveu o personagem a partir de um modelo 100% virtual.
Filmagem em 120 quadros por segundo
Ang Lee optou por rodar o filme em 120 fps e resolução 4K 3D. Essa decisão tinha como objetivo aumentar a nitidez das cenas de ação e dar ao público uma experiência mais imersiva. Porém, poucas salas de cinema estavam equipadas para exibir a produção nesse formato, o que limitou a percepção de sua inovação.
Realismo das cenas de ação
Além dos efeitos digitais, o filme apostou em sequências de ação coreografadas em cenários reais, mescladas com computação gráfica. A perseguição de motos, ambientada na Colômbia, é um dos pontos altos e foi elogiada pela intensidade e pela fluidez.
O desempenho comercial

Custos elevados
Com um orçamento estimado em US$ 138 milhões, sem incluir gastos de marketing, Projeto Gemini precisava arrecadar pelo menos o dobro para ser considerado financeiramente viável.
Bilheteria abaixo do esperado
Apesar de estrear em mais de 100 países, o longa arrecadou cerca de US$ 173 milhões, um valor considerado decepcionante frente ao investimento. A crítica especializada apontou que os efeitos visuais impressionavam, mas a narrativa era previsível e o roteiro pouco original.
Críticas divididas
No agregador Rotten Tomatoes, o filme teve aprovação inferior a 30%. Muitos críticos elogiaram o aspecto técnico, mas criticaram a falta de profundidade no enredo. Por outro lado, parte do público destacou que o longa cumpriu bem sua proposta de entretenimento de ação.
Projeto Gemini e o papel de Will Smith
Um desafio duplo de atuação
Interpretar duas versões de si mesmo em fases diferentes da vida foi um dos grandes desafios da carreira de Will Smith. O ator precisou gravar cenas com expressões e movimentos específicos, que depois foram utilizados como base para a criação de Junior.
O carisma do protagonista
Mesmo diante de críticas ao roteiro, a presença de Smith foi considerada um dos pontos fortes. Seu carisma e versatilidade ajudaram a sustentar a narrativa e deram credibilidade a um filme fortemente apoiado em tecnologia.
A recepção no streaming
Uma segunda chance
Com a estreia em serviços de streaming, Projeto Gemini ganhou nova vida. Plataformas digitais permitem que filmes com desempenho fraco no cinema encontrem público posteriormente. Muitos espectadores, curiosos com a inovação técnica, passaram a assistir ao longa para conferir a ousadia de Ang Lee.
Redescoberta pelo público
O tempo também ajudou a suavizar algumas críticas. Hoje, há quem veja no filme não apenas suas falhas narrativas, mas também o esforço em abrir espaço para novas experiências cinematográficas, ainda que arriscadas.
Lições de Projeto Gemini
Persistência criativa
A longa gestação do projeto mostra como Hollywood insiste em apostar em ideias visionárias, mesmo que elas fiquem décadas aguardando avanços tecnológicos.
O equilíbrio entre técnica e narrativa
O caso de Projeto Gemini reforça a importância de equilibrar inovação visual e força narrativa. Mesmo obras tecnicamente ousadas podem enfrentar resistência se não conseguirem envolver emocionalmente o público.
O papel do streaming no resgate de produções
Ao chegar às plataformas digitais, o filme ganhou uma sobrevida e hoje é analisado de forma mais equilibrada. O streaming tornou-se espaço para redescobrir obras que, nas bilheteiras, não tiveram o mesmo reconhecimento.
Considerações finais
Projeto Gemini é um exemplo emblemático de como o cinema pode ser ousado e ao mesmo tempo arriscado. A proposta de recriar um ator digitalmente em duas fases distintas da vida, filmado em altíssima taxa de quadros, marcou um momento de experimentação técnica. Porém, a recepção morna da crítica e a bilheteria abaixo do esperado mostraram que a inovação tecnológica, sozinha, não garante sucesso.
Ainda assim, o filme deixou uma marca na história recente do cinema, sendo lembrado como uma obra que abriu discussões sobre os limites do digital, a atuação e o futuro da indústria. E graças ao streaming, Projeto Gemini encontrou uma segunda oportunidade para ser visto e avaliado sob novas perspectivas, provando que, em alguns casos, o tempo é capaz de transformar fracassos de bilheteria em curiosidades cinematográficas de grande relevância.

