Um olhar sensível para quem cuida de quem mais precisa
Em um país onde grande parte do cuidado com crianças com deficiência recai sobre as mães, a criação de políticas públicas que atendam essas mulheres é uma demanda crescente e urgente. Nesse contexto, o deputado federal Duarte Jr. (PSB-MA) apresentou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1018/2025, que propõe a criação do programa “Casa da Mãe Atípica”. A proposta visa a instalação de espaços estruturados em diversas regiões do país para acolher e oferecer suporte emocional, psicológico e físico a mães que dedicam suas vidas ao cuidado integral de filhos com deficiência.
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Por que criar um programa voltado para mães atípicas?
O peso invisível do cuidado
Mães de crianças com deficiência — chamadas de mães atípicas — enfrentam uma rotina marcada por consultas médicas, sessões de terapia, demandas escolares e cuidados domésticos. Essa sobrecarga constante afeta a saúde mental e física dessas mulheres, que muitas vezes não contam com uma rede de apoio suficiente para dividir responsabilidades.
Carência de políticas públicas específicas
Apesar da luta diária, poucas iniciativas são voltadas diretamente às necessidades dessas mães. O projeto apresentado por Duarte Jr. surge como resposta a esse vazio na política social brasileira, reconhecendo a exaustão materna como uma questão de saúde pública.
O que prevê o PL 1018/2025?
Objetivo central: acolhimento humanizado
A proposta prevê a criação de uma rede nacional de unidades batizadas de “Casa da Mãe Atípica”, onde mulheres cuidadoras possam encontrar acolhimento, descanso e acompanhamento psicológico. A ideia é que esses espaços funcionem como ambientes de respiro, escuta e apoio mútuo, valorizando o cuidado com quem cuida.
Infraestrutura pensada para as necessidades reais
Cada unidade deverá contar com:
- Salas de atendimento individual com psicólogos e terapeutas
- Espaços para descanso e relaxamento
- Ambientes de convivência coletiva
- Áreas com recursos de leitura, música e atividades culturais
- Apoio jurídico e assistencial, quando necessário
Localização e acesso
As casas devem ser instaladas próximas a centros de atendimento para crianças com deficiência, como clínicas de reabilitação e instituições de ensino especializado. A localização estratégica visa facilitar a ida das mães ao local após ou entre compromissos com os filhos.
Critérios de acesso
O atendimento será prioritário para mães que comprovarem estar em situação de sobrecarga física ou emocional decorrente do cuidado contínuo de filhos com deficiência, transtornos do desenvolvimento ou doenças crônicas.
Gestão do programa
Coordenação federal com apoio local
O projeto estabelece que a gestão do programa fique sob responsabilidade do Ministério das Mulheres, que coordenará sua implementação e supervisionará as unidades em conjunto com as secretarias de políticas para mulheres nos estados e municípios.
Financiamento previsto
Os recursos para custear as unidades deverão vir do orçamento da União, com possibilidade de suplementação por meio de parcerias com instituições privadas, organizações não governamentais e emendas parlamentares.
Tramitação na Câmara
O PL 1018/2025 está em tramitação e será avaliado por comissões temáticas antes de seguir para o plenário. As principais comissões que devem analisar a matéria são:
- Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher
- Comissão de Finanças e Tributação
- Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)
- Comissão de Saúde
Há expectativa de que o projeto ganhe celeridade em função da forte mobilização de coletivos de mães atípicas nas redes sociais e em audiências públicas.
Repercussão e apoio popular
Vozes das mães
Mães de crianças com deficiência têm expressado apoio ao projeto, destacando que a proposta finalmente reconhece, de forma concreta, a sobrecarga emocional e física que enfrentam diariamente. Nas redes sociais, a hashtag #CasaDaMãeAtípica tem ganhado força, reunindo depoimentos e mobilizando apoio à aprovação da proposta.
Entidades e organizações
Diversas organizações da sociedade civil, como associações voltadas ao autismo, paralisia cerebral, síndrome de Down e outras condições do neurodesenvolvimento, declararam apoio formal à proposta, afirmando que ela supre uma lacuna histórica na proteção de mães cuidadoras.
Impactos esperados com a aprovação

Saúde mental como prioridade
Um dos principais ganhos com a criação das unidades será o acesso facilitado a suporte psicológico e emocional. Isso pode reduzir quadros de depressão, ansiedade e burnout materno, tão comuns entre mães que não possuem tempo para cuidar de si mesmas.
Redução do isolamento social
Outro efeito positivo será o fortalecimento da rede de apoio entre as mães. Muitas mulheres relatam que não têm com quem conversar sobre suas dificuldades. Ao promover convivência e troca de experiências, o programa pode reduzir a sensação de solidão e desamparo.
Melhoria na qualidade de vida de famílias atípicas
Com mães mais acolhidas e emocionalmente equilibradas, o cuidado com os filhos tende a se tornar mais leve e humanizado. Isso pode impactar positivamente a rotina das crianças com deficiência, promovendo um ambiente familiar mais estável e saudável.
Um modelo que pode inspirar outras políticas
Precedente para outras iniciativas
O projeto Casa da Mãe Atípica pode abrir caminho para outras políticas públicas voltadas ao universo das famílias atípicas, como iniciativas de inclusão profissional das mães cuidadoras, oferta de creches inclusivas e programas de formação para profissionais de saúde e educação.
Exemplo de política de escuta
Ao propor uma solução construída com base em relatos reais e na escuta ativa de mães atípicas, o projeto se destaca como exemplo de política sensível às necessidades do cotidiano. Isso pode servir de inspiração para outras iniciativas que pretendem tratar com seriedade temas ligados à deficiência e ao cuidado.
Considerações finais
O Projeto de Lei 1018/2025, que institui a Casa da Mãe Atípica, representa um avanço significativo na construção de políticas públicas mais humanas e inclusivas. Ao reconhecer a exaustão e a solidão que tantas mães enfrentam ao cuidar de seus filhos com deficiência, o programa propõe mais que acolhimento: oferece dignidade, escuta e valorização a quem está na linha de frente do cuidado.
Se aprovado, o projeto poderá transformar a realidade de milhares de famílias brasileiras, promovendo saúde emocional, solidariedade e melhores condições de vida para mães e filhos. É um passo importante para que nenhuma mãe precise enfrentar sozinha os desafios de ser atípica em um país que começa, aos poucos, a enxergá-las.













