Jessica Tauane, criadora do Canal das Bee e do Gorda de Boa fez uma publicação em seu Facebook contra o sexismo nas escolas pelo Brasil que envolvia a proibição do uso de shortinhos por meninas em um colégio de Porto Alegre.
Ela disse: “vai ter shortinho sim, e se não gostar a gente vai de calcinha mesmo!”.
Mas o que ninguém esperava era que nos comentários um professor reagiria contra sua opinião de maneira tão grotesca.
Ele escreveu: “poxa, isso é covardia, sou professor, ganho pouco e tenho que aturar aluno mal educado. Agora vou ter que ficar olhando para orca de shortinho”.
Jessica não se fez de vítima e respondeu à altura do professor, dando a ele uma verdadeira aula.

Confira trechos da carta:
[CARTA A UM PROFESSOR]
Oi Renildo, tudo bom? Proibiram as meninas sob o pretexto de que “os alunos e professores poderiam se distrair” – e, você deve concordar comigo, isso é um absurdo. Num país tropical, tão quente quanto o Brasil, é um absurdo querermos que mulheres usem roupas de frio em vez de simplesmente educarmos os meninos a não as assediarem. É um absurdo, inclusive, meninas – em pleno 2016 – terem que fazer um movimento para pedirem autorização para usarem tal tipo de roupa em algum lugar.
Sabe, Renildo, é muito importante saber rir das mazelas da vida. O riso é uma arma poderosa para quem tem que lidar com ódio o tempo todo.
Como um professor fala isso, ainda exaltando seu papel de educador na frase? Como um professor, que pra mim é a profissão mais nobre da humanidade, pode não pensar socialmente antes de se posicionar publicamente?
Sabe, Renildo, além de tudo, você como negro deve saber a tristeza que é ter sua humanidade tirada de ti apenas por uma característica sua. Quando te olham e veem uma ameaça, quando o racismo te poda, deve doer. E saiba que quando me olham e me veem apenas como uma “orca”, isso também é difícil.
Não que eu não tenha orgulho de quem sou. Imagina. Morro de orgulho de ser assim, nunca tive muito grilo com minha aparência física, sempre achei o conteúdo muito mais interessante que a capa. Eu brado o amor sempre, e acho que se a mulher for gorda e se amar assim, ótimo; se ela não gosta muito disso e quer mudar, ótimo também; mas em ambos os casos, acho que ela deve ter liberdade para ser como quiser e, principalmente, ter a chance de se amar.
E acho que ninguém, ninguém mesmo, deveria tentar acabar com o amor próprio de alguém.
Então, professor, vamos tentar tirar uma lição disso tudo? A sua brincadeira gerou violência. Gerou combustível pra um tipo de gente que você deve até tentar lutar contra.
Sabe qual a lição que podemos tirar disso, professor? Vamos tentar olhar pro outro com mais humanidade. Vamos tentar pensar antes de falar, porque a palavra tem poder demais. E vamos ponderar se a gente quer rir de quem tá aí, na luta pelo amor e pelo respeito, ou se a gente quer rir justamente de quem merece deboche – e pra mim, o que é motivo de piada é o preconceito, o ódio, o desamor.
Desamor esse que eu não tenho. Nem com tudo isso que aconteceu. Sério mesmo. Sei que o ódio vai continuar, mas eu tenho tanto amor aqui que isso nunca vai me abalar.
Eu desejo muito amor pra você, também. E saiba que, no fim, a graça ainda prevalece aqui: a comparação com orcas foi ótima porque a orca é conhecida como “baleia assassina”, mas na verdade é um tipo de golfinho. E assim sou eu: super dócil, mas não mexe comigo, que eu não ando só.
Com carinho, Jessica.


