Em março de 2020, a coordenadora pedagógica Maria Tereza Alves Brauna, 50, ouviu uma notícia que mudaria para sempre sua vida: estava com o câncer de mama e metástase [que é quando o câncer se dissemina além do local onde começou] nos ossos. Ao lidar com as limitações da doença, Tereza tem lutado a cada dia e acredita que será curada. Após o diagnóstico, aos 49 anos, ela fez uma segunda faculdade e um curso de maquiagem para ajudar na sua autoestima.
A seguir, Tereza, que mora na zona rural de Cristalina, em Goiás, conta sua história:
“Em julho de 2018 fui à ginecologista para tentar descobrir por que tinha engordado 15 kg em três meses, imaginei que fosse alguma alteração na tireoide. No período de um mês, enquanto fazia os exames que a médica pediu, meus seios incharam muito, ficaram grandes, vermelhos, doloridos e quentes. Usava sutiã número 38 e passei a usar 48. Fiquei assustadíssima com as alterações e suspeitei que fosse câncer de mama.
Os exames solicitados pela médica estavam ok, mas ao ver meus seios e fazer o exame de toque, ela sentiu alguns nódulos na mama direita e pediu para eu procurar um mastologista com urgência.
Passei em uma clínica particular com uma mastologista, ela pediu uma mamografia e uma biópsia. O resultado da mamografia indicou que eu tinha uma lesão benigna e a biópsia deu negativo. A médica tratou meu quadro como mastite, me passou alguns remédios e me deu uma guia para eu fazer o acompanhamento pelo SUS.
A medicação surtiu efeito, meus seios voltaram ao normal, mas percebi que o mamilo direito ficou para dentro.
A primeira consulta com o mastologista pelo SUS demorou mais de seis meses para sair.
Nesse tempo, comecei a sentir uma dor muito forte e incapacitante no braço direito. Não conseguia movê-lo, levantá-lo, escovar o cabelo, os dentes, escrever na lousa, vestir roupa. Passei a usar uma tipoia e a fazer tudo com o braço esquerdo.

Procurei um ortopedista particular e fiz sete exames para tentar descobrir a origem dessa dor no braço. Após sair o resultado da ressonância da coluna e crânio, o médico disse que meus ossos aparentavam ser de uma pessoa de 70 anos —eu tinha 48.
A descoberta
Ele perguntou se eu estava tratando alguma doença, contei dos problemas nos seios e, mesmo não tendo um diagnóstico de câncer de mama, o médico disse que eu poderia estar com metástase nos ossos. Eu não sabia o que era metástase, mas ao pesquisar sobre o assunto, fiquei preocupada e resolvi pagar uma nova consulta particular com uma mastologista.
A pedido dela, fiz uma ressonância das mamas que apontou BIRADS 5, isto é, a lesão era compatível com câncer, mas só uma biópsia poderia confirmar o diagnóstico. Fui encaminhada para o Hospital de Base do Distrito Federal, onde foi solicitada uma nova biópsia e exames complementares e pré-operatórios. A ideia era que eu já fosse adiantando os exames para fazer a cirurgia de retirada da mama assim que a biópsia ficasse pronta.
No dia 30 de março de 2020, fui diagnosticada com câncer na mama direita e com metástase óssea, aos 49 anos de idade, após 1 ano e 9 meses do início dos primeiros sintomas. O câncer já tinha se espalhado para os ossos na coluna cervical e na bacia.
Perguntei para a médica se eu tinha chances de ser curada, ela disse que infelizmente não e que eu teria de fazer acompanhamento para sempre. Foi um baque, minha vida iria mudar completamente.

Primeira reação
Na primeira noite, chorei tudo o que podia chorar, me culpei e me perguntei o que tinha feito de errado para aquilo acontecer comigo. De manhã, acordei renovada, todos os meus porquês desapareceram e passei a meditar no versículo bíblico: ‘Tudo posso naquele que me fortalece’ (Filipenses 4:13). Sabia que ia passar por muita coisa, mas tinha certeza que Deus iria me sustentar.
Meu estado piorou rapidamente e fiquei debilitada, sentia muitas dores nos ossos, no braço direito, nas pernas, quase não conseguia andar, andava mancando. No dia 8 de maio fui internada, fiquei 45 dias no hospital.
Como tenho um câncer metastático, os médicos descartaram retirar a mama porque não iria resolver o problema, só iria me gerar mais sofrimento. Desde então, tenho feito o tratamento com hormonioterapia, já fiz cinco sessões de radioterapia e passo com o oncologista uma vez por mês.
Tenho aprendido a viver com as limitações da doença, hoje não posso mais dirigir, pegar peso, tomo 12 comprimidos por dia, sinto dores diariamente, mas a morfina torna as dores suportáveis.

Sem perder a fé
Apesar das dificuldades e de nos momentos mais difíceis achar que será meu último dia, não perco a fé, a esperança e o sorriso no rosto. A vida continua. Após o diagnóstico, fiz uma segunda graduação, em matemática —já sou formada em pedagogia.
Como as dores me deixam com aspecto de doente, fiz um curso de maquiagem e vou trabalhar todos os dias maquiada, isso ajuda na minha autoestima. O apoio e o amor do meu marido, do Rodrigo, da minha família, amigos, professores e alunos, que me veem como um exemplo de força e superação, também é fundamental nessa jornada.
Lá no Hospital de Base do Distrito Federal tem um sino que os pacientes tocam ao terminar o tratamento. Toda vez que eu passo por ele, eu passo a mão e digo que um dia vou tocá-lo também. Creio que Deus fará um milagre e que eu serei curada para que todos conheçam o amor e o poder dele”.
Outubro Rosa
Outubro é o mês para alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
O câncer de mama é o de maior incidência em mulheres no Brasil (excluindo o de pele não melanoma). É uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, formando um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, a maioria dos casos apresenta um bom prognóstico.

Segundo estatísticas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), cerca de 66.280 novos casos são diagnosticados por ano no país. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. Nas mulheres, corresponde a 29,7% do total de cânceres no público feminino.
Certas mutações genéticas herdadas de um dos pais podem estar por trás do câncer de mama, mas isso não é tão frequente quanto se imagina —apenas 5% a 10% dos casos de câncer de mama são hereditários. A maior parte das mutações no DNA das células são adquiridas ao longo da vida.
Cuidar-se!
É importante que as mulheres consultem o ginecologista ao menos uma vez por ano, ou mais, se necessário, para que o profissional realize a palpação da mama e solicite exames de imagem, se necessário. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica que a mamografia seja feita regularmente a partir dos 40 anos.
Já o Inca e o Ministério da Saúde recomendam a realização do exame apenas a partir dos 50 anos, para evitar o risco de falsos-positivos e cirurgias desnecessárias.
Fonte: Viva bem UOL












