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Por que continuamos assistindo programas que odiamos? A psicologia por trás do “hate watching”

Você já se pegou reclamando de um programa, uma série ou um reality show, mas continuou assistindo mesmo assim? Esse comportamento, comum no dia a dia e nas redes sociais, tem uma explicação psicológica. Ele é conhecido como hate-watching — o hábito de consumir conteúdos que despertam irritação, raiva ou desprezo, mas que, paradoxalmente, nos mantêm presos à tela.

De acordo com uma análise publicada pela Revista Fórum, esse comportamento está relacionado à forma como o cérebro busca estímulos emocionais intensos. Mesmo quando negativos, eles ativam mecanismos de recompensa e curiosidade. O resultado é uma sensação ambígua: não gostamos do que vemos, mas também não conseguimos parar.

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O fenômeno do hate-watching

O prazer de odiar

O termo hate-watching descreve o ato de assistir algo que consideramos ruim, superficial ou irritante, apenas para poder criticar. É diferente de um “gosto culposo”, em que o prazer é escondido. Aqui, o prazer vem do julgamento: da sensação de se sentir mais inteligente, mais sensato ou moralmente superior em relação ao que está sendo exibido.

Para muitos, o ódio pelo conteúdo se mistura com o fascínio. É o mesmo impulso que leva alguém a ler comentários de uma discussão polêmica ou a assistir um vídeo de algo que considera absurdo. O cérebro busca estímulos que provoquem emoções intensas — mesmo que sejam negativas.

O papel das redes sociais

As redes sociais amplificaram esse tipo de comportamento. Quando um programa causa polêmica, ele rapidamente se torna assunto no X (antigo Twitter), no TikTok e em grupos de WhatsApp. As pessoas comentam, criticam e ironizam, mas continuam assistindo para “não ficar de fora” da conversa.

As próprias plataformas se beneficiam disso: quanto mais tempo o usuário passa engajado — mesmo que em tom negativo —, mais dados e visualizações são gerados. É o ciclo perfeito: o público odeia, comenta, compartilha e, sem perceber, ajuda a promover o conteúdo.

Por que continuamos assistindo o que odiamos

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Imagem – Bestofweb/Freepik

O efeito da reatância psicológica

A reatância psicológica é um fenômeno que ocorre quando sentimos que nossa liberdade de escolha está ameaçada. Quando alguém diz que “tal programa é horrível” ou que “ninguém deveria assistir”, surge um impulso de conferir por conta própria. É como uma resposta automática para reafirmar nossa autonomia: “vou ver para tirar minhas próprias conclusões”.

Essa curiosidade, somada à necessidade de se sentir no controle, faz com que acabemos assistindo justamente o que prometemos evitar.

O paradoxo da supressão de pensamentos

Quando tentamos não pensar em algo, o cérebro faz o oposto e passa a pensar ainda mais naquilo. Esse mecanismo, chamado de efeito rebote, explica por que é difícil parar de assistir o que nos irrita. Ao decidir “não vou mais ver esse programa”, criamos uma tensão mental que o torna ainda mais presente. O resultado é o oposto do desejado: voltamos a assistir, mesmo contrariados.

O impulso de confirmar nossas crenças

Assistir algo que odiamos também serve para confirmar o que já acreditamos. Ao acompanhar um programa que consideramos ruim, reforçamos nossa visão de mundo e sentimos prazer em validar nossas opiniões. É o chamado viés de confirmação, que nos leva a buscar provas de que estamos certos — mesmo que isso signifique consumir algo de que não gostamos.

A busca por controle emocional

Muitas vezes, o hate-watching é uma forma de lidar com emoções reprimidas. Ao sentir raiva ou indignação diante de um conteúdo, temos uma sensação de controle: podemos julgar, rir ou desabafar. O ato de assistir se transforma em uma catarse, um espaço seguro para descarregar frustrações cotidianas.

Em tempos de ansiedade e excesso de informação, essa dinâmica emocional se torna uma válvula de escape. Criticar algo em comum com outros espectadores também cria laços sociais, reforçando um sentimento de pertencimento — ainda que em torno do ódio compartilhado.

O papel das plataformas e do design digital

O algoritmo como cúmplice

Os algoritmos das plataformas de streaming e redes sociais são projetados para manter o usuário conectado pelo máximo de tempo possível. Eles não distinguem entre amor e ódio: o que importa é o engajamento. Se um programa desperta comentários intensos, ele é recomendado para mais pessoas — inclusive para quem já demonstrou não gostar dele.

A lógica é simples: emoção gera engajamento, e engajamento gera lucro. Assim, o sistema alimenta o ciclo do hate-watching, oferecendo constantemente novos conteúdos que provocam reações fortes.

A arquitetura viciante das plataformas

Além dos algoritmos, o próprio design das plataformas contribui para o comportamento compulsivo. A reprodução automática, as notificações de novos episódios e o formato de rolagem infinita são criados para estimular o consumo contínuo. O espectador não precisa decidir conscientemente continuar assistindo — o próximo vídeo já começa sozinho.

Esses mecanismos exploram vulnerabilidades cognitivas conhecidas, como a dificuldade de lidar com interrupções e a necessidade de fechamento: queremos ver “só mais um episódio” para entender como termina, mesmo que o conteúdo nos irrite.

A relação entre tédio, curiosidade e ódio

O tédio como gatilho

O tédio é um dos grandes responsáveis por nos manter assistindo o que não gostamos. Quando o cérebro busca estímulo e não o encontra em atividades prazerosas, ele aceita substitutos emocionais — como a raiva ou a indignação. Assim, o hate-watching se torna uma forma de quebrar a monotonia.

A curiosidade pelo desastre

Existe também um componente de curiosidade mórbida: queremos ver até onde o programa pode chegar. É o mesmo mecanismo que nos faz olhar para um acidente de trânsito mesmo sem querer. O desconforto desperta interesse, e o interesse mantém a atenção.

Como quebrar o ciclo

Reconhecer o padrão

O primeiro passo para interromper o hate-watching é perceber o comportamento. Pergunte-se: “estou assistindo porque gosto ou apenas para criticar?”. Ao tomar consciência, fica mais fácil interromper o ciclo automático de consumo.

Reduzir gatilhos e recomendações

Desativar a reprodução automática, limpar o histórico e evitar discutir o conteúdo nas redes são formas eficazes de cortar o estímulo. Assim, o algoritmo deixa de associar o interesse ao engajamento e o conteúdo desaparece das sugestões.

Substituir por prazer genuíno

A melhor forma de superar o hate-watching é redirecionar a atenção para o que realmente gera prazer. Mudar o foco para conteúdos educativos, inspiradores ou relaxantes ajuda a recondicionar o cérebro e diminuir a necessidade de estímulos negativos.

Considerações finais

Assistir a programas que odiamos é um comportamento mais comum do que parece. A psicologia mostra que, por trás disso, estão emoções complexas como curiosidade, tédio, raiva e necessidade de pertencimento. As plataformas digitais, por sua vez, aproveitam essas reações para manter o público engajado.

No fim, o hate-watching revela não apenas uma relação disfuncional com o entretenimento, mas também um espelho de como lidamos com nossas emoções na era digital. Saber reconhecer esse padrão é o primeiro passo para assistir de forma mais consciente — e escolher o que realmente vale o nosso tempo.

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