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Temporada das cigarras: o som que anuncia o início das chuvas no Brasil

O som que marca a transição do clima

Com a chegada da primavera e a aproximação da estação chuvosa, o Brasil volta a ser tomado pelo barulho característico das cigarras. Em diversas cidades, especialmente no Centro-Oeste, o som estridente desses insetos anuncia a mudança de estação e desperta a curiosidade — e às vezes a impaciência — de quem convive com ele.

O som intenso, que pode ultrapassar 120 decibéis, não é coincidência: ele marca o período reprodutivo das cigarras, um dos fenômenos naturais mais antigos e fascinantes do Cerrado. O canto, que pode ser ouvido durante todo o dia, simboliza o fim da seca e o renascimento da vida vegetal e animal que acompanha as chuvas.

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Por que as cigarras cantam?

O chamado da reprodução

O som das cigarras tem um propósito essencial: atrair parceiros para o acasalamento. Apenas os machos produzem o canto, emitido por meio de uma estrutura corporal chamada tímpano (ou tímbalo). Essa membrana vibra em alta frequência, gerando o som que serve de convite às fêmeas.

Cada espécie de cigarra possui um “canto” próprio, uma espécie de assinatura sonora que ajuda as fêmeas a identificar machos compatíveis. Essa comunicação acústica é vital para a sobrevivência da espécie e ocorre apenas durante a fase adulta — o momento mais curto, porém mais ativo, do ciclo de vida desses insetos.

Calor e umidade: o gatilho natural

As cigarras passam anos vivendo debaixo da terra como ninfas, alimentando-se da seiva das raízes. Elas aguardam as condições ideais de temperatura e umidade para emergir e completar seu ciclo. Quando o calor se intensifica e as primeiras chuvas umedecem o solo, elas sobem à superfície, ganham asas e começam a cantar.

Essa sincronia com o clima explica por que o fenômeno ocorre quase sempre entre setembro e novembro — o período de transição entre a seca e o início das chuvas.

Como o som é produzido

O corpo como instrumento

O canto da cigarra é resultado de um mecanismo biológico sofisticado. No abdome do macho há duas membranas rígidas chamadas tímbalos, conectadas a músculos que vibram rapidamente. Essas vibrações são amplificadas por uma cavidade de ressonância dentro do corpo, funcionando como uma caixa acústica natural.

O resultado é um som tão potente que pode ser ouvido a centenas de metros de distância. Algumas espécies chegam a emitir ruídos comparáveis aos de motosserras ou aviões de pequeno porte.

Coordenação em coro

Em locais com muitas cigarras, os machos formam verdadeiros “corais”, ajustando seus sons em intervalos alternados. O canto coletivo cria uma parede sonora impressionante, projetada para dominar o ambiente e maximizar as chances de atrair fêmeas.

Ciclo de vida: da terra ao topo das árvores

A longa espera subterrânea

A maior parte da vida de uma cigarra é invisível aos olhos humanos. Durante a fase de ninfa, o inseto vive enterrado, onde se alimenta da seiva das plantas por três a cinco anos, dependendo da espécie.

Nesse período, ela cresce lentamente até o momento da metamorfose. Quando as condições climáticas mudam, a ninfa sobe à superfície, escala uma árvore ou muro e rompe sua casca, revelando o corpo adulto com asas translúcidas e estrutura acústica completa.

Vida curta, propósito definido

Depois de emergir, a cigarra adulta vive por poucas semanas. Seu único objetivo é acasalar e garantir a continuidade da espécie. As fêmeas colocam os ovos em galhos ou folhas e, após a eclosão, as novas ninfas caem no solo e recomeçam o ciclo.

A importância ecológica das cigarras

Indicadores de ambiente saudável

Embora muitas pessoas associem o som das cigarras ao incômodo, esses insetos desempenham um papel importante no equilíbrio ecológico. Sua presença indica solo vivo e vegetação preservada, já que dependem de raízes e umidade para sobreviver.

Além disso, ao emergirem do solo, ajudam a aerar e fertilizar a terra, favorecendo a infiltração da água das chuvas. As ninfas também servem de alimento para aves, répteis e pequenos mamíferos, integrando a cadeia alimentar do ecossistema.

Sinal da chegada das chuvas

Em regiões como o Distrito Federal e o interior de Goiás, as cigarras são consideradas um símbolo natural do início da estação chuvosa. O aumento do barulho costuma preceder as primeiras tempestades, funcionando como um “termômetro biológico” do clima local.

O som das cigarras nas cidades

cigarrras
Imagem – Bestofweb/Freepik

Entre o incômodo e a nostalgia

Nas áreas urbanas, o som das cigarras divide opiniões. Para alguns moradores, o barulho constante é um lembrete do calor e causa desconforto — especialmente nas horas de pico, quando o coro é ensurdecedor.

Por outro lado, há quem encare o som com carinho e nostalgia. Muitos o associam às lembranças de infância, à chegada da chuva e à renovação da natureza. “Quando escuto o canto das cigarras, já sei que o ar vai mudar”, comenta uma moradora de Brasília.

O impacto do ambiente urbano

As cigarras também são afetadas pela urbanização. A redução de árvores e o aumento da poluição sonora alteram seu comportamento. Em locais com menos vegetação, o som parece mais alto, pois as ondas sonoras ecoam entre os prédios.

Mesmo assim, elas persistem: adaptam-se a praças, parques e jardins, mostrando que ainda há espaço para a natureza dentro das cidades.

Curiosidades sobre as cigarras

O som mais alto do reino dos insetos

Algumas espécies brasileiras produzem sons que ultrapassam 120 decibéis, o equivalente ao ruído de um show de rock. É o som mais alto entre todos os insetos conhecidos.

Elas não “sabem” que vai chover

É comum ouvir que cigarras cantam porque “sentem” a chuva chegando, mas isso é apenas coincidência. Elas aparecem no mesmo período em que as chuvas voltam, mas o canto está relacionado ao ciclo reprodutivo, não à previsão meteorológica.

Cada espécie tem seu próprio ritmo

O Brasil abriga mais de 150 espécies de cigarras, e cada uma possui um som específico. Essa variedade faz parte da biodiversidade sonora do país e ajuda os pesquisadores a identificar novas espécies pelo áudio.

A ciência por trás do fenômeno

Pesquisas recentes

Estudos de universidades brasileiras, como a UnB e a UFG, mostram que as cigarras são sensíveis às mudanças ambientais. Alterações no regime de chuvas e na temperatura podem interferir no tempo que passam subterrâneas e na intensidade do canto.

Risco de redução populacional

Com o avanço da urbanização e a perda de vegetação, populações de cigarras vêm diminuindo em algumas regiões. O desaparecimento desses insetos pode indicar desequilíbrio ecológico, pois eles dependem de solos úmidos e raízes vivas para completar seu ciclo.

Como conviver com o som das cigarras

Entendendo o ciclo

O canto das cigarras dura apenas algumas semanas por ano, geralmente no auge do calor e no início das chuvas. Saber que se trata de um fenômeno passageiro pode ajudar a encarar o barulho com mais naturalidade.

Evite atitudes nocivas

Eliminar árvores ou usar inseticidas é prejudicial e ineficaz. As cigarras são inofensivas, não picam nem transmitem doenças. O ideal é preservar a vegetação, que é o habitat natural desses insetos e de muitas outras espécies.

Aprecie a natureza

Ouvir o canto das cigarras pode ser uma experiência sensorial única. Ele marca a passagem do tempo e a conexão entre o ambiente urbano e o ciclo natural da vida.

Considerações finais

A temporada das cigarras é um dos fenômenos naturais mais emblemáticos do Brasil. O som alto que ecoa nas ruas e parques não é apenas barulho — é um sinal da renovação da natureza, do início das chuvas e da vitalidade dos ecossistemas.

Mais do que um incômodo sonoro, o canto das cigarras é o lembrete de que, mesmo nas cidades, a vida selvagem segue pulsando. Elas são o som da estação, um hino natural que anuncia que o ciclo da chuva — e da própria vida — está começando outra vez.


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