Pelos últimos três anos, mulher tem bebês abandonados na porta de sua casa. E sempre no mesmo período
Maio, definitivamente, se tornou um mês bem agitado para a professora aposentada Rosa Maria Aguiar, de 46 anos. Pelo terceiro ano seguido, a professora é pega de surpresa ao encontrar um recém-nascido deixado na varanda de sua casa, em Laguna, Sul de Santa Catarina – e as três vezes ocorreram em maio dos respectivos anos.
No último dos casos, Rosa encontrou uma menina enrolada em uma blusa de lã. Ela ainda estava com seu cordão umbilical e foi conduzida para um abrigo, onde será encaminhada para adoção.
A primeira vez que a professora deu de cara com um bebê abandonado em sua porta foi em 2010. Ela se recorda de que era uma quinta-feira, por volta de 14h30, quando vizinhos flagraram um homem deixando uma sacola em sua varanda. “Era uma sacola de compras do Paraguai e dentro havia um menino”, disse ela ao Diário Catarinense.
O mistério intriga a vizinhança e a aposentada, que brinca ao dizer que em seu lar “funciona o postinho dos Correios e agora também o ‘posto da cegonha'”.
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O município de Laguna, em Santa Catarina – Foto: Felippe Lopes
Outro fator que chama a atenção é que dos três últimos bebês abandonados no local, todos portavam algum objeto religioso. O primeiro estava com uma fita de pulso do Senhor Bom Jesus dos Passos, o segundo tinha um rosário e o terceiro um escapulário.
Rosa, que não é casada e não tem filhos, revela que há 15 cogitou adotar uma criança, mas não deu sequência na ideia por precisar cuidar da mãe doente. Mas isso não é um problema para ela, que sempre opta por levar os bebês a um abrigo para que eles sejam adotados. Dona Rosinha, como é carinhosamente conhecida no bairro, revela que seus catequizandos, sobrinhos e afiliados “preenchem esse vazio de nunca ter sido mãe”.
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A professora aposentada Rosa Maria Aguiar – Foto: Diário Catarinense
Curiosamente, a criança que foi deixada na varanda de Rosa em 2016 continua na família. Era uma menina, que foi adotada pela sobrinha Edna de Souza Santos, que também atua como professora. Edna conta que ela e o marido, Jucemar, decidiram trazer uma menina para sua vida após o filho Murilo, hoje com 24 anos, sofrer um grave acidente de moto e quase perder a vida quando tinha 17. “Aí pensamos como a vida é tão pequena e decidimos que poderíamos ter uma menina”, disse a mãe.
A garotinha adotada recebeu o nome de Maria Paula, em homenagem a Maria, mãe de Jesus, e Madre Paulina. O dia de nascimento foi registrado como 29 de maio.
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Foto: Reprodução
De acordo com o delegado e responsável por investigar o caso de abandono, José David Machado, da Polícia Civil de Laguna, a repetição do episódio não é coincidência: “Os autores dos abandonos com certeza são as mesmas pessoas”. Machado comenta que o intervalo de um ano entre os abandonos pode sugerir que as crianças sejam todas da mesma mulher. E os próprios membros da família de Rosa admitem que as crianças são todas muito parecidas.
“Investigamos toda a região, mas pode ser alguém de um município vizinho. Uma possibilidade é que a gestante seja de alguma casa de prostituição”, explica Machado. E na vizinhança, a conversa que corre pelas bocas é a de que todos os nascimentos tenham ocorrido com o auxílio de uma parteira.
Que mistério, não é mesmo? Felizmente, todas as crianças puderam ser salvas a tempo por dona Rosa, afinal, houve casos em que o abandono se concretizou à noite e o frio poderia ter trazido sérias consequências aos bebês.


O município de Laguna, em Santa Catarina – Foto: Felippe Lopes
A professora aposentada Rosa Maria Aguiar – Foto: Diário Catarinense
Foto: Reprodução