Um novo capítulo das investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) revela uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro, que vai muito além dos métodos tradicionais ligados ao tráfico de drogas. A facção criminosa tem recorrido a fintechs, igrejas, casas de apostas e até criptomoedas para movimentar e ocultar valores bilionários no Brasil e no exterior, segundo autoridades envolvidas no combate ao crime organizado.
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Estrutura empresarial do PCC avança sobre a economia formal
O PCC tem se consolidado como uma organização criminosa com estrutura empresarial, com atuação nos mais variados setores econômicos. O objetivo é claro: transformar dinheiro obtido ilegalmente em capital com aparência de licitude, inserido em mercados formais.
Expansão para atividades legais
Para isso, a facção passou a investir ou controlar indiretamente negócios como:
- Igrejas e templos religiosos
- Plataformas financeiras digitais (fintechs)
- Sites de apostas e jogos online
- Empresas de transporte e logística
- Imobiliárias, postos de gasolina e supermercados
Em muitos casos, os recursos ilícitos são fracionados e distribuídos em pequenas operações que dificultam a detecção pelas autoridades. A tática permite que o dinheiro “sujo” seja reinserido no mercado com aparência de legalidade.
Fintechs são usadas para transferências disfarçadas
Brechas regulatórias favorecem o crime
As fintechs, que ganharam espaço no Brasil nos últimos anos, oferecem serviços como contas digitais, cartões de crédito e transferências instantâneas. Muitas dessas empresas não são supervisionadas com o mesmo rigor dos bancos tradicionais, o que cria vulnerabilidades no sistema financeiro.
O PCC tem aproveitado essas brechas para movimentar altos valores por meio de CPFs falsos, contas de laranjas e empresas de fachada. Em algumas operações, como a “Operação Hydra”, a Polícia Federal identificou movimentações superiores a R$ 6 bilhões por meio dessas plataformas.
Criptomoedas ampliam o alcance
O uso de criptomoedas também é uma prática em expansão. A conversão de dinheiro vivo em ativos digitais, e o posterior envio para carteiras internacionais, dificulta ainda mais o rastreamento pelas autoridades, principalmente quando feitas por exchanges não reguladas.
Igrejas funcionam como escudo moral e jurídico
Doações simuladas para encobrir o dinheiro ilícito
Um dos aspectos mais surpreendentes da nova estratégia do PCC é a infiltração em igrejas. Por meio da criação de templos religiosos ou da associação com líderes religiosos coniventes, a facção consegue simular doações voluntárias, que servem para justificar grandes entradas de dinheiro em contas bancárias.
Essas igrejas também podem comprar imóveis, veículos ou realizar obras com recursos cuja origem não é questionada publicamente, devido à imagem de respeitabilidade associada às instituições religiosas.
O fenômeno do “narcopentecostalismo”
Esse modelo tem sido chamado por estudiosos de narcopentecostalismo — a fusão entre práticas religiosas e organizações do crime, em que a fé é usada como ferramenta para blindar interesses ilícitos. Em diversos estados, especialmente no Norte e Nordeste, há investigações sobre pastores com ligação direta ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro.
Casas de apostas entram na mira do crime organizado

Apostas esportivas como instrumento de ocultação
Com a popularização das apostas online, a facção encontrou uma nova forma de disfarçar o dinheiro sujo. O esquema consiste em:
- Criar contas em sites de apostas;
- Inserir grandes quantias em dinheiro (aparentemente para jogos);
- Simular ganhos e retiradas “premiadas”, já com aparência legal.
Assim, a quantia lavada retorna ao sistema bancário como prêmio de apostas, com imposto recolhido e documentação válida, dificultando a sua contestação.
Sites criados pelo próprio crime
Há indícios de que o próprio PCC tenha criado plataformas de apostas com o objetivo exclusivo de realizar lavagem de dinheiro. Nesses casos, as apostas são apenas fachada para circulação financeira simulada.
Atuação internacional e redes transnacionais
Dinheiro enviado para diversos países
Além do território nacional, a organização possui ramificações em países como Paraguai, Bolívia, Colômbia, Espanha e Portugal. Parte do dinheiro movimentado por fintechs e criptomoedas é remetido para o exterior, onde é investido em imóveis, veículos de luxo e empresas.
As autoridades brasileiras têm solicitado cooperação internacional para rastrear esses fluxos e apreender bens adquiridos fora do país com dinheiro oriundo do crime.
Criação de empresas em paraísos fiscais
Outra tática utilizada é a abertura de empresas offshore em paraísos fiscais, em nome de laranjas. Os recursos depositados nessas contas passam a ser usados em operações legítimas, como importação e exportação, completando o ciclo de branqueamento.
Operações policiais tentam conter avanço
Ações em múltiplos estados
Diversas operações da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público têm desarticulado esquemas ligados ao PCC. Os principais focos incluem:
- Bloqueio de contas em fintechs
- Prisão de líderes religiosos envolvidos
- Suspensão de atividades de apostas
- Apreensão de criptoativos
- Encerramento de empresas suspeitas
Apesar disso, as autoridades reconhecem que o combate à lavagem de dinheiro exige constante atualização tecnológica e regulatória.
Projeto de lei antimáfia em discussão
Para conter o avanço da criminalidade financeira, está em discussão no Congresso Nacional um projeto de lei antimáfia, que visa criar uma legislação mais robusta para investigação e punição de facções, com foco na quebra de sigilos, bloqueio patrimonial ágil e cooperação internacional.
O papel da sociedade e das instituições
Fintechs e apostas devem reforçar compliance
Empresas que atuam com dinheiro — mesmo em ambiente digital — precisam adotar controles mais rígidos de compliance, identificação de clientes e monitoramento de transações. A ausência de regulamentação facilita o uso indevido por criminosos.
Apostadores, religiosos e investidores precisam ficar atentos a sinais de movimentação irregular, como grandes quantias em espécie, doações desproporcionais e contas de terceiros.
Igrejas devem prestar contas com transparência
A fé não pode ser usada como escudo para crime. É essencial que igrejas mantenham transparência contábil, auditorias internas e prestação de contas públicas, protegendo-se da infiltração de facções.
Considerações finais
A atuação do PCC na lavagem de dinheiro representa um avanço alarmante da criminalidade para dentro das estruturas legais da economia brasileira. Ao se utilizar de fintechs, igrejas e casas de apostas, a facção demonstra sofisticação, capacidade de adaptação e entendimento profundo das brechas legais e tecnológicas do sistema.
O desafio das autoridades é agir com inteligência, rapidez e cooperação global para desmantelar essa rede complexa que ameaça não apenas a segurança pública, mas também a credibilidade das instituições religiosas, financeiras e empresariais do país.













