Papagaios expõe a busca pela fama: crítica do suspense nacional no Festival de Gramado 2025
O cinema brasileiro ganhou um novo título para discutir a obsessão pela visibilidade. “Papagaios”, dirigido por Douglas Soares e estrelado por Gero Camilo e Ruan Aguiar, foi exibido na competição do 53º Festival de Gramado e surpreendeu a plateia ao transformar em drama psicológico uma figura típica da cultura popular: o “papagaio de pirata”, aquele que aparece de propósito atrás de repórteres e celebridades para conquistar alguns segundos de atenção. A sessão em Gramado, realizada entre 13 e 23 de agosto de 2025, gerou aplausos e debates, reforçando o potencial do longa em provocar reflexão sobre fama, desejo e limites éticos.
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Estreia e bastidores
O lançamento em Gramado
A primeira exibição de “Papagaios” ocorreu dentro da Mostra Competitiva de Longas Brasileiros, consolidando a entrada de Douglas Soares na ficção após trabalhos no campo do documentário. O filme foi destacado por sua atmosfera sombria, pela direção de arte cuidadosa e pelo envolvimento imediato do público no clima de mistério.
Elenco central
O longa traz Gero Camilo como Tunico, personagem que vive para aparecer nas câmeras de TV, e Ruan Aguiar como Beto, o jovem aprendiz que observa em silêncio. Há ainda a participação especial de Leo Jaime, interpretando a si mesmo, recurso que aproxima a narrativa do universo real da mídia brasileira.
Classificação e lançamento comercial
Com indicação para maiores de 14 anos, “Papagaios” ainda não tem data oficial de estreia nos cinemas. Por enquanto, circula apenas no circuito de festivais, onde coleciona elogios e cria expectativa para sua distribuição comercial.
O enredo

Tunico, especialista em aparecer
Tunico é um homem de Curicica que domina como ninguém a arte de se posicionar atrás das câmeras em transmissões de TV. Ele vive para o prazer de ser visto, transformando essa habilidade em uma forma de reconhecimento social, mesmo que efêmero.
Beto, o observador misterioso
Na trama surge Beto, jovem de poucas palavras que encontra em Tunico uma inspiração. No entanto, o interesse do rapaz é ambíguo: ao mesmo tempo que demonstra admiração, sua postura silenciosa sugere intenções ocultas. O suspense cresce a cada cena, intensificado pelo fato de o personagem quase não falar durante o filme, deixando o público em constante dúvida sobre suas motivações.
Temas centrais
A televisão como vitrine da fama
O longa se passa em um Brasil ainda guiado pela televisão como principal meio de visibilidade. “Papagaios” questiona o que as pessoas estão dispostas a fazer para conquistar notoriedade, mesmo que por segundos em uma tela.
Ambição e ética em jogo
Ao retratar o comportamento de Tunico e Beto, o roteiro revela um microcosmo de alpinismo social, no qual a busca por atenção pode levar a atitudes inesperadas. O filme não entrega respostas prontas, preferindo deixar ao espectador a tarefa de interpretar as intenções dos personagens.
Erotização do poder e do enquadramento
Algumas cenas destacam o poder dos corpos e dos olhares. Em determinados momentos, a proximidade entre Tunico e Beto se transforma em um jogo de dominação, refletido no simples ato de ocupar ou não o quadro da câmera.
Estilo e linguagem
Suspense pela sugestão
Douglas Soares adota uma narrativa que privilegia elipses e lacunas. Em vez de mostrar tudo, prefere insinuar, deixando a imaginação do público trabalhar. Essa opção estética reforça a atmosfera incômoda e mantém o mistério até os minutos finais.
Ritmo e montagem
O ritmo é pausado, criando uma tensão que se acumula lentamente. A montagem acompanha diferentes pontos de vista, sugerindo que, embora Tunico pareça ser o protagonista, é Beto quem “conduz” silenciosamente a narrativa.
Atuação
Gero Camilo como Tunico
Camilo oferece uma interpretação marcada pela ternura e pela melancolia. Seu Tunico é engraçado e ao mesmo tempo triste, retratando um homem que vive dividido entre a euforia de aparecer na TV e a sensação de que isso não basta para preencher sua vida.
Ruan Aguiar como Beto
Aguiar interpreta Beto de forma minimalista, transmitindo inquietação por meio de gestos e olhares. A ausência de falas dá ao personagem uma aura enigmática que sustenta o suspense.
Participação de Leo Jaime
O músico e ator surge como ele mesmo, reforçando a ponte entre a ficção e o universo da cultura pop brasileira. Sua presença confere autenticidade ao retrato do ambiente televisivo.
Aspectos técnicos
Fotografia e direção de arte
A fotografia cria uma atmosfera densa, explorando contrastes entre espaços urbanos e o ambiente da TV. A direção de arte se destaca ao retratar os cenários populares do Rio de Janeiro, como ruas, estúdios e casas modestas, que funcionam como pano de fundo para a obsessão de Tunico.
Som e ambientação
O desenho de som explora ruídos urbanos, vozes de repórteres e sons de bastidores televisivos. Esse mosaico sonoro mergulha o público na cacofonia de um espaço onde todos querem ser vistos e ouvidos.
Recepção em Gramado
Aplausos do público
Após a exibição, o filme foi recebido com aplausos calorosos. Muitos espectadores destacaram as atuações e a originalidade da proposta, ressaltando que “Papagaios” consegue equilibrar sátira social com suspense psicológico.
Olhar da crítica
A crítica especializada enalteceu a subjetividade do longa, apontando que ele desafia o público a preencher as lacunas da narrativa. O uso da ambiguidade foi considerado um dos pontos altos da obra.
Para quem o filme é indicado
Vai agradar a quem gosta de:
- Suspenses psicológicos que trabalham com sutileza.
- Personagens ambíguos, que fogem de estereótipos.
- Narrativas que refletem sobre a cultura midiática e a busca pela fama.
Pode causar estranhamento em quem:
- Prefere explicações claras e desfechos fechados.
- Espera ação constante em vez de tensão gradual.
Considerações finais
“Papagaios” transforma uma prática popular em matéria de cinema, explorando a obsessão pela visibilidade e os dilemas que surgem quando a necessidade de ser visto ultrapassa limites. Com direção precisa de Douglas Soares e interpretações marcantes de Gero Camilo e Ruan Aguiar, o filme se firma como um suspense de atmosfera densa e provocadora. Ainda sem data de estreia no circuito comercial, já se consolidou como uma das obras mais comentadas de Gramado em 2025, confirmando que o suspense psicológico tem espaço renovado no cinema brasileiro.


