Papa Francisco poderá ser canonizado? Entenda como funciona o processo de santificação
A morte do Papa Francisco, em abril de 2025, reacendeu uma antiga curiosidade entre católicos e admiradores ao redor do mundo: seria possível que ele venha a ser declarado santo no futuro? Conhecido por seu carisma, sua postura reformista e sua dedicação aos mais vulneráveis, Francisco deixou um legado admirado por milhões, o que naturalmente levanta essa possibilidade.
Mas, para além do reconhecimento popular, a canonização é um caminho formal, longo e cheio de etapas específicas dentro da Igreja Católica.
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O que é a canonização?
A canonização é o reconhecimento oficial da Igreja Católica de que uma pessoa viveu de maneira exemplar a fé cristã, praticando virtudes em grau heróico, e que, portanto, merece ser venerada publicamente como santo. Esse processo legitima que a pessoa está no céu e pode interceder pelos vivos.
Essa decisão não é tomada de forma simples ou emocional. Há regras muito claras para garantir que apenas aqueles que realmente demonstraram santidade sejam oficialmente reconhecidos.
Como se inicia o processo de canonização?
Abertura da causa
O processo geralmente só pode ser aberto cinco anos após a morte do candidato. Esse intervalo serve para permitir que a emoção causada pelo falecimento dê lugar a uma análise mais racional de sua vida e obra. No entanto, o Papa pode dispensar esse prazo em casos excepcionais, como ocorreu com João Paulo II.
A primeira etapa consiste na coleta de documentos, testemunhos e provas que atestem a vida virtuosa do falecido. O responsável por essa fase inicial é o bispo da diocese onde a pessoa morreu ou viveu a maior parte de sua vida.
Se tudo estiver de acordo, o candidato recebe o título de “Servo de Deus”.
As etapas formais da canonização

Fase do “Venerável”
Depois da abertura da causa, os documentos são enviados para análise no Vaticano, mais precisamente ao Dicastério para as Causas dos Santos. Uma equipe de teólogos e especialistas avalia se o Servo de Deus realmente praticou as virtudes cristãs em grau heróico.
Se for comprovado, o Papa declara o indivíduo como “Venerável”. Isso significa que ele é reconhecido como alguém que viveu a fé de maneira exemplar, mas ainda não pode ser cultuado publicamente como santo.
Beatificação
Para que o Venerável seja beatificado, é necessário que um milagre ocorrido por sua intercessão seja reconhecido. A lógica é simples: para a Igreja, o milagre comprova que a pessoa está junto de Deus e pode interceder pelos que estão na Terra.
Esse milagre passa por uma análise detalhada, envolvendo médicos e especialistas para eliminar qualquer explicação científica. Só após essa comprovação é que o Papa autoriza a beatificação, passando o título para “Beato”.
Beatos podem ser venerados publicamente, mas de forma restrita, geralmente em regiões específicas ligadas à sua história.
Canonização
Para que o Beato se torne santo, é preciso a comprovação de um segundo milagre ocorrido após sua beatificação. O processo de validação é semelhante ao primeiro.
Com a aprovação do segundo milagre, o Papa proclama o novo santo em uma celebração pública. A partir daí, ele pode ser venerado universalmente pela Igreja Católica.
O legado do Papa Francisco e seu possível caminho para a santidade
Um papado voltado para a inclusão
O Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, foi eleito em 2013 como o primeiro pontífice latino-americano da história. Seu papado ficou marcado por uma postura humilde e reformista.
Entre seus principais legados estão:
- Defesa enfática dos pobres e marginalizados
- Compromisso com a preservação do meio ambiente, como explicitado na encíclica Laudato Si’
- Reestruturação da Cúria Romana para torná-la mais eficiente e transparente
- Incentivo ao diálogo inter-religioso e aproximação de outras denominações cristãs
Francisco também ficou conhecido por sua linguagem simples e pela capacidade de aproximar a Igreja de pessoas que se sentiam excluídas.
Carisma e humildade
Diferente de seus predecessores imediatos, Francisco preferiu morar na Casa Santa Marta, uma residência simples no Vaticano, em vez do Palácio Apostólico. Também trocou o tradicional carro papal por veículos modestos e recusou privilégios de luxo.
Esse estilo de vida reforçou sua imagem de líder espiritual que praticava o que pregava.
O que pode acelerar ou dificultar a canonização de Francisco?
Popularidade e reconhecimento
A fama de santidade é um elemento importante no início de um processo de canonização. Francisco goza de grande respeito mundial, tanto dentro quanto fora da Igreja, o que poderia contribuir para a abertura rápida da sua causa.
Milagres atribuídos
A chave principal para a beatificação e canonização são os milagres. Ainda não há relatos oficiais de milagres atribuídos à intercessão do Papa Francisco após sua morte. Caso apareçam e sejam comprovados, o processo poderá avançar.
Possível dispensa de prazos
Dada a enorme influência e popularidade do Papa Francisco, não seria surpreendente se o Vaticano decidisse flexibilizar prazos e acelerar a abertura do processo, como já ocorreu em outros casos especiais.
Como é investigado um milagre?
Avaliação científica rigorosa
Quando uma cura ou evento extraordinário é relatado como possível milagre, ele passa por duas análises rigorosas:
- Análise médica: médicos independentes avaliam se há explicação científica possível para o ocorrido.
- Análise teológica: caso os médicos concluam que não há explicação, teólogos estudam se o milagre pode ser atribuído à intercessão do candidato.
Só após essas duas etapas, o milagre é considerado válido.
Exemplos de papas canonizados
A história recente mostra que papas podem ser canonizados:
- João Paulo II: canonizado em 2014, apenas nove anos após sua morte.
- João XXIII: canonizado no mesmo dia que João Paulo II, mesmo sem a necessidade de um segundo milagre.
Esses exemplos mostram que o caminho pode ser mais rápido para pontífices de grande impacto mundial.
Considerações finais
O Papa Francisco, por sua vida dedicada à fé, sua simplicidade e seu compromisso com as causas sociais, já reúne atributos que o colocam como forte candidato à santidade. No entanto, como exige a tradição da Igreja Católica, o processo será minucioso e dependerá da comprovação de milagres.
Independentemente da canonização, seu legado permanecerá como um dos mais transformadores da história moderna da Igreja, inspirando milhões de pessoas em todo o mundo a seguir valores de compaixão, humildade e justiça.


