Otávio Azevedo: Como superou crises e prosperou
A trajetória de um dos nomes mais influentes da engenharia nacional
Otávio Marques de Azevedo é uma figura que representa tanto o auge quanto os desafios da engenharia e da gestão empresarial brasileira. Ex-presidente da Andrade Gutierrez, uma das maiores empreiteiras do país, ele viu sua carreira ser marcada por grandes obras, expansão internacional, crises institucionais e envolvimento no maior escândalo de corrupção já investigado no Brasil, a Operação Lava Jato. Este artigo traça um panorama de sua carreira, os momentos críticos que enfrentou e os caminhos que trilhou para reconstruir sua imagem e influência no setor.
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Formação e primeiros passos no setor de engenharia
Um executivo de formação técnica
Otávio Azevedo é engenheiro elétrico de formação e iniciou sua carreira na própria Andrade Gutierrez, uma das mais tradicionais construtoras do Brasil. Fundada em 1948, a empresa se tornou símbolo da engenharia nacional, atuando em grandes projetos de infraestrutura, energia e telecomunicações.
Sua formação técnica, combinada com um olhar estratégico para os negócios, o levou rapidamente a cargos de liderança. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Azevedo participou de importantes projetos de energia elétrica, ampliando sua experiência e desenvolvendo habilidades em gestão de contratos, logística e liderança de equipes multidisciplinares.
Ascensão à presidência da Andrade Gutierrez
Em 2001, foi nomeado presidente do Grupo Andrade Gutierrez. No cargo, liderou a expansão da empresa para novos setores, como telecomunicações, concessões de infraestrutura e operações internacionais. Sob sua liderança, a construtora esteve envolvida em obras emblemáticas, como a Usina de Belo Monte, o Aeroporto de Brasília e a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.
Um período de crescimento e diversificação

Atuação global e estratégia de conglomerado
Durante sua presidência, Otávio Azevedo liderou a estratégia de transformar a Andrade Gutierrez em um conglomerado com atuação diversificada. A empresa passou a atuar também em setores como saneamento, mobilidade urbana e petróleo, além de consolidar presença em países da América Latina, África e Europa.
O executivo acreditava que a diversificação era essencial para sustentar o crescimento da empresa frente à volatilidade do mercado de obras públicas no Brasil. Essa visão levou à criação de holdings e parcerias internacionais, como a AG Telecom e a Oi S.A., onde a Andrade Gutierrez era acionista.
Grandes obras e contratos bilionários
O período entre 2005 e 2013 foi de forte expansão. Azevedo assinou contratos com o setor público e privado, impulsionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelos investimentos em infraestrutura para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
A Andrade Gutierrez participou de dezenas de projetos estratégicos, consolidando-se como uma das maiores empreiteiras do Hemisfério Sul.
O colapso: Lava Jato e delação premiada
Prisão e denúncias
Em junho de 2015, Otávio Azevedo foi preso preventivamente no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de participar de um esquema de corrupção e pagamento de propinas envolvendo a Petrobras e outras estatais. A prisão marcou uma virada drástica em sua trajetória e representou o início da maior crise da história da Andrade Gutierrez.
Os investigadores apontaram que a empreiteira fazia parte de um cartel de empresas que combinavam preços e se revezavam em licitações públicas, com pagamento de propinas a políticos e agentes públicos.
A decisão pela colaboração
Após meses de prisão, Azevedo optou por firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Em seu depoimento, confirmou o envolvimento da empresa em práticas ilícitas e detalhou o funcionamento do esquema de corrupção, incluindo nomes de políticos, partidos e valores.
A colaboração com a Justiça foi decisiva para o andamento da Lava Jato e também para a redução de sua pena. No entanto, sua imagem pública ficou profundamente abalada, e ele se afastou das funções executivas da empresa.
A reconstrução da imagem e o novo papel de Azevedo
Afastamento e reflexão
Após a delação, Otávio Azevedo deixou o comando da Andrade Gutierrez e passou a atuar como consultor informal e conselheiro empresarial. Longe dos holofotes, ele se dedicou a refletir sobre os erros cometidos e as transformações necessárias para o setor de infraestrutura no Brasil.
Sua postura discreta, aliada à cooperação com as autoridades, contribuiu para uma reconstrução gradual da reputação entre agentes do mercado.
Participação em fóruns e debates
Nos anos seguintes, Azevedo começou a participar de fóruns privados sobre compliance, governança corporativa e reestruturação de grandes empresas. Seu discurso passou a enfatizar a importância de práticas éticas, transparência nas relações público-privadas e maturidade institucional.
Embora não tenha retornado oficialmente a cargos executivos, tornou-se figura de bastidor, influenciando estratégias e modelos de recuperação empresarial.
Lições aprendidas e legado no setor
A importância da governança
Um dos principais aprendizados extraídos da trajetória de Otávio Azevedo foi a necessidade de estruturas robustas de compliance nas grandes corporações. Em entrevistas e encontros com empresários, ele reforçou que a ausência de controles internos contribuiu para o colapso do setor de engenharia no Brasil.
A transição para novos modelos de negócio
Azevedo também passou a defender a reformulação do modelo de relacionamento entre empresas e o setor público, com ênfase em concorrência real, meritocracia e investimentos privados sustentáveis.
Suas falas indicam que o antigo modelo baseado em grandes contratos com o governo está esgotado, e que o futuro das empresas de infraestrutura passa por inovação, ESG (ambiental, social e governança) e parcerias internacionais.
Frases marcantes de Otávio Azevedo
“Não há mais espaço para conivência ou omissão no mundo empresarial.”
“A crise que vivemos foi moral, antes de ser econômica.”
“Empresas precisam escolher entre o atalho da corrupção e o caminho mais difícil, porém mais duradouro, da ética.”
Impacto no mercado e nos negócios
Reestruturação da Andrade Gutierrez
A crise resultou em um processo profundo de reestruturação dentro da Andrade Gutierrez. A empresa reduziu seu tamanho, vendeu ativos, renegociou dívidas e alterou sua estrutura de governança. Parte desse novo ciclo ainda carrega os efeitos das decisões tomadas durante a gestão de Azevedo.
Influência no ambiente regulatório
A atuação de Azevedo e de outros delatores ajudou a moldar novas normas de compliance, tanto no setor público quanto no privado. A Lei das Estatais, as mudanças na Lei de Licitações e a criação de sistemas internos de integridade têm origem em parte no aprendizado institucional decorrente da Lava Jato.
Considerações finais
A história de Otávio Azevedo é um retrato da complexidade do mundo empresarial brasileiro. Ao mesmo tempo em que liderou um dos maiores conglomerados do país e protagonizou uma fase de crescimento da engenharia nacional, também foi peça central em um dos maiores escândalos de corrupção da história recente.
A forma como enfrentou a crise, reconheceu os erros e optou pela colaboração com a Justiça mostra um caminho possível de reconstrução pessoal e profissional. Sua experiência oferece lições valiosas sobre liderança, ética e os riscos das escolhas feitas em nome do crescimento.
Otávio Azevedo é hoje uma figura que divide opiniões, mas que certamente entrou para a história dos negócios no Brasil — não apenas pelo que construiu, mas também por como enfrentou o que destruiu. E, acima de tudo, por mostrar que prosperar também passa por reconhecer e corrigir os próprios erros.

