O início da corrida
A disputa brasileira pelo Oscar 2026 na categoria de Melhor Filme Internacional começa com um favoritismo evidente. “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, sai na frente após sua recepção calorosa no Festival de Cannes, onde recebeu prêmios de direção e interpretação. A produção, protagonizada por Wagner Moura, tem estreia nacional programada para novembro e acumula boas credenciais internacionais, fator que reforça seu peso junto à comissão que fará a escolha do representante oficial do Brasil.
Apesar da dianteira, a lista de 16 filmes inscritos mostra que o cenário está longe de ser definido. Há títulos sociais, dramas intimistas, produções de forte apelo popular e obras experimentais. Todos oferecem caminhos alternativos que podem conquistar os membros da comissão responsável pela decisão.
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Como a comissão avalia os candidatos
A seleção do representante brasileiro costuma levar em consideração não apenas a qualidade artística do filme, mas também seu potencial de circulação internacional. Para isso, são analisados fatores como:
- Participação em festivais de prestígio (Cannes, Berlim, Veneza, Toronto).
- Distribuição garantida em mercados-chave.
- Clareza e universalidade dos temas tratados.
- Capacidade de engajar imprensa e público estrangeiro.
- Viabilidade de campanha nos Estados Unidos.
Nem sempre o filme mais comentado internamente é o escolhido. O histórico mostra que a comissão muitas vezes privilegia obras que equilibram originalidade com comunicação clara para públicos internacionais.
O favorito: “O Agente Secreto”
Por que larga na frente
A narrativa política ambientada nos anos 1970 coloca em evidência um período de repressão no Brasil, usando a tensão do gênero thriller para dialogar com a memória coletiva. Além dos prêmios conquistados em Cannes, o filme conta com a força do nome de Kleber Mendonça Filho, já reconhecido no circuito internacional por “Aquarius” e “Bacurau”.
O peso de Wagner Moura
Outro trunfo é a atuação de Wagner Moura, elogiada por veículos internacionais e mencionada em listas de possíveis candidatos ao Oscar de Melhor Ator. Sua presença ajuda a ampliar a repercussão do longa e fortalece as chances de visibilidade global.
Fragilidades possíveis
O favoritismo pode ser relativizado se a comissão optar por uma obra de temática social direta, por uma produção com maior diversidade regional ou ainda por um título com alcance garantido em plataformas de streaming internacionais.
Principais concorrentes que podem surpreender

“Vitória”, de Andrucha Waddington
O que apresenta
Inspirado em uma história real, acompanha uma senhora de mais de 80 anos que ajuda a desmontar um esquema de tráfico em Copacabana. O drama aposta no carisma da protagonista e em uma narrativa de superação.
Pontos fortes
- História conhecida e facilmente compreensível pelo público internacional.
- Protagonismo feminino em idade avançada, algo raro no cinema.
- Potencial de bilheteria doméstica, que pode gerar repercussão.
Fragilidades
A ausência de passagens em festivais de grande porte pode pesar contra sua candidatura.
“O Último Azul”, de Gabriel Mascaro
O que apresenta
Uma distopia social estrelada por Rodrigo Santoro, explorando temas de controle e resistência. Gabriel Mascaro, diretor de “Boi Neon”, tem prestígio consolidado no circuito internacional.
Pontos fortes
- Autor com trajetória reconhecida em festivais.
- Elenco com projeção internacional.
- Temas contemporâneos de alcance global.
Fragilidades
Pode ser visto como excessivamente experimental para uma campanha competitiva em Hollywood.
“A Melhor Mãe do Mundo”, de Anna Muylaert
O que apresenta
A história de uma mulher que tenta reconstruir a vida com os filhos após fugir de um contexto de violência doméstica.
Pontos fortes
- Passagem pela Berlinale, importante credencial de prestígio.
- Tema social universal e com forte potencial de comoção.
- Diretora já conhecida da Academia pelo sucesso de “Que Horas Ela Volta?”.
Fragilidades
A competição interna com um título tão forte quanto “O Agente Secreto” pode limitar suas chances.
“Os Enforcados”, de Fernando Coimbra
O que apresenta
Um mergulho no submundo do jogo do bicho no Rio de Janeiro, em uma trama de crime e violência com ecos de Shakespeare.
Pontos fortes
- Elenco de peso, com Leandra Leal e Irandhir Santos.
- Estética de thriller que pode dialogar bem com públicos estrangeiros.
Fragilidades
O tom mais duro e a violência explícita podem afastar parte da comissão.
“Oeste Outra Vez”, de Érico Rassi
O que apresenta
Um western sertanejo que aborda masculinidades frágeis e a violência em regiões rurais.
Pontos fortes
- Estilo reconhecível do gênero western, mas adaptado ao contexto brasileiro.
- Boa recepção crítica em festivais nacionais.
Fragilidades
Pode ser considerado demasiado local diante de concorrentes com maior circulação internacional.
“Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes
O que apresenta
Adaptação de Milton Hatoum, conta a saga de imigrantes libaneses na Amazônia.
Pontos fortes
- Tema universal: imigração e identidade cultural.
- Estilo visual refinado, fotografado em preto e branco.
Fragilidades
A distância temporal de sua estreia pode enfraquecer o impacto.
“Um Lobo Entre os Cisnes”, de Marcos Schechtman
O que apresenta
História de ascensão do bailarino Thiago Soares, da periferia carioca ao Royal Ballet de Londres.
Pontos fortes
- Narrativa inspiradora de superação.
- Linguagem artística acessível.
Fragilidades
Aposta emocional pode não se sustentar diante da força política de outros concorrentes.
“Baby”, de Marcelo Caetano
O que apresenta
Drama sobre juventude, afetos e sobrevivência em meio à vulnerabilidade social.
Pontos fortes
- Temas contemporâneos, com destaque para diversidade sexual.
- Sensibilidade na abordagem de relações humanas.
Fragilidades
Campanha internacional menos robusta.
“Kasa Branca”, de Luciano Vidigal
O que apresenta
Retrato de juventude periférica na Baixada Fluminense, explorando afeto e cuidado familiar.
Pontos fortes
- Olhar comunitário e humanista.
- Força em festivais nacionais.
Fragilidades
Pouca circulação fora do país.
Outros nomes
Produções como “Malu”, “Manas”, “A Praia do Fim do Mundo”, “O Filho de Mil Homens” e o documentário “Milton Bituca Nascimento” também figuram na lista, cada qual com potenciais de impacto, seja pelo recorte social, pela força autoral ou pela visibilidade internacional de plataformas como a Netflix.
Três cenários possíveis
- Vitória do favorito: se a comissão privilegiar prestígio internacional e autoralidade, “O Agente Secreto” tem tudo para ser escolhido.
- Ênfase social: se a prioridade for dar voz a questões urgentes, “A Melhor Mãe do Mundo” e “Baby” ganham espaço.
- Foco em alcance global: caso o objetivo seja garantir circulação ampla, produções como “O Filho de Mil Homens”, distribuído pela Netflix, podem ser beneficiadas.
Considerações finais
A corrida brasileira pelo Oscar 2026 é marcada pela diversidade. “O Agente Secreto” aparece como favorito natural, mas o campo de inscritos revela uma safra variada e competitiva, que vai de dramas sociais intensos a distopias experimentais. Independentemente da escolha, a seleção demonstra a vitalidade e a pluralidade do cinema brasileiro contemporâneo.













