A busca por respostas sobre quem foram os primeiros animais da Terra é uma das maiores jornadas científicas da história. Entender como a vida passou de organismos unicelulares microscópicos para formas complexas e multicelulares é desvendar o início da nossa própria linhagem evolutiva.
Pesquisas recentes vêm oferecendo novas pistas e mudando o que se sabia sobre o nascimento dos metazoários — os primeiros animais multicelulares. Um estudo publicado recentemente sugere que a vida animal pode ter surgido centenas de milhões de anos antes do que se imaginava, em um período no qual a Terra ainda era dominada por mares rasos e microrganismos.
Neste artigo, você vai descobrir o que dizem as evidências fósseis, quais animais podem ter sido os primeiros e por que o debate sobre a origem da vida complexa ainda está longe de terminar.
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A transição do simples para o complexo
Durante boa parte da história do planeta, a vida foi formada apenas por organismos unicelulares, como bactérias e arqueias. Esses seres já existiam há cerca de 3,5 bilhões de anos. Com o passar do tempo, surgiram os eucariotos, células com núcleo e estruturas internas mais elaboradas.
Essa complexificação biológica permitiu o surgimento de organismos multicelulares, capazes de formar tecidos e desenvolver novas funções. O desafio da ciência é identificar quando e como ocorreu essa transição, que deu origem aos primeiros animais.
Os fósseis mais antigos que podem ser classificados como animais datam de aproximadamente 635 milhões de anos, no período Ediacarano. No entanto, evidências mais recentes sugerem que a vida animal pode ter começado muito antes disso, desafiando o que se conhecia até agora.
O estudo que muda o cronograma da vida
Um estudo recente chamou a atenção da comunidade científica ao identificar estruturas fósseis em rochas de 890 milhões de anos no Canadá. Esses fósseis, segundo os pesquisadores, apresentam semelhanças com esponjas modernas, considerados os animais mais simples existentes.
Se essa hipótese for confirmada, isso significaria que a vida animal já existia quase 300 milhões de anos antes da explosão cambriana, evento que marcou a grande diversificação dos seres vivos no planeta.
Esses fósseis não se parecem com animais complexos. São pequenas formações microscópicas em rochas de recifes antigos, interpretadas como vestígios de organismos filtradores, que viviam fixos e se alimentavam de partículas na água — um comportamento típico das esponjas atuais.
Esponjas: os candidatos mais prováveis
As esponjas são apontadas por muitos cientistas como os primeiros animais a surgir na Terra. Elas não possuem órgãos, tecidos nervosos nem sistemas digestivos, mas apresentam uma organização celular que permite funções coletivas, como filtragem de água e absorção de nutrientes.
A estrutura de uma esponja é simples, porém eficiente. Ela é composta por um conjunto de células especializadas que trabalham em conjunto, formando canais e poros que movimentam a água por todo o corpo. Essa simplicidade biológica, combinada à capacidade de reprodução tanto sexual quanto assexuada, pode ter sido fundamental para a adaptação e sobrevivência dos primeiros animais.
Além disso, estudos de biologia molecular indicam que as esponjas compartilham genes semelhantes aos de organismos mais complexos, sugerindo que elas podem representar a base da árvore evolutiva dos animais modernos.
O ambiente dos primeiros animais
Durante o Período Proterozoico, quando esses seres podem ter surgido, a Terra era um lugar muito diferente do atual. A atmosfera ainda tinha pouco oxigênio, e os oceanos eram dominados por colônias microbianas.
Por muito tempo, acreditava-se que os primeiros animais teriam surgido apenas nos oceanos profundos, onde havia estabilidade ambiental. Porém, descobertas recentes indicam que lagos e ambientes rasos continentais também poderiam ter sido o berço da vida multicelular.
Pesquisadores chineses encontraram microfósseis em sedimentos de lagos antigos, o que indica que a vida animal pode ter se originado em ambientes de água doce, e não apenas marinhos. Essa hipótese amplia a compreensão sobre os diferentes ecossistemas que favoreceram o surgimento dos animais.
O papel da explosão cambriana
Apesar de esses primeiros animais terem surgido muito antes, foi apenas cerca de 540 milhões de anos atrás, no Período Cambriano, que a vida animal passou por uma transformação impressionante. Esse evento, conhecido como Explosão Cambriana, marcou a rápida diversificação das espécies, com o aparecimento de organismos dotados de olhos, membros articulados, exoesqueletos e sistemas nervosos complexos.
O registro fóssil do Cambriano mostra o surgimento de quase todos os principais grupos de animais conhecidos hoje — incluindo artrópodes, moluscos e vertebrados primitivos. No entanto, o estudo dos fósseis de 890 milhões de anos sugere que o processo de diversificação já havia começado lentamente muito antes, em escalas invisíveis para o registro fóssil.
Métodos usados para descobrir os primeiros animais

Análise de fósseis microscópicos
Como os primeiros animais eram minúsculos e sem partes duras, seus fósseis são extremamente raros. Os cientistas utilizam microscópios de alta resolução e técnicas químicas para identificar estruturas celulares fossilizadas, como paredes porosas e microtúbulos.
Biomarcadores químicos
Outra ferramenta essencial são os biomarcadores, moléculas específicas que indicam a presença de determinados tipos de vida. Por exemplo, o colesterol é uma substância produzida apenas por organismos animais. Quando encontrado em rochas antigas, ele pode servir como sinal de que animais já existiam naquela época.
Relógio molecular
Além das evidências fósseis, os cientistas comparam sequências genéticas de diferentes espécies vivas para estimar quando seus ancestrais comuns teriam surgido. Essa técnica, conhecida como relógio molecular, tem indicado que os primeiros animais podem ter aparecido entre 800 e 900 milhões de anos atrás, o que coincide com o estudo canadense.
Desafios e controvérsias
Apesar das evidências promissoras, a origem dos primeiros animais ainda é motivo de intenso debate científico. Parte da comunidade questiona se os fósseis identificados realmente pertencem a seres animais ou se seriam colônias de algas ou bactérias complexas.
Além disso, muitos desses fósseis são difíceis de preservar, o que torna a interpretação incerta. As condições de pressão, temperatura e mineralização ao longo de centenas de milhões de anos podem alterar completamente a estrutura original das rochas, criando formas ambíguas.
Outro desafio é a falta de registros contínuos. Entre os fósseis do Ediacarano e os da Explosão Cambriana existe um intervalo ainda pouco compreendido, um verdadeiro “buraco negro” na linha do tempo da vida animal.
Por que essa descoberta é importante
A identificação de organismos animais tão antigos muda o modo como compreendemos a evolução da complexidade biológica. Ela mostra que a vida não evoluiu em saltos bruscos, mas em uma progressão lenta e constante, marcada por adaptações ambientais e genéticas.
Essas descobertas também ajudam a responder uma questão filosófica: o que significa ser um animal? Mesmo seres simples como as esponjas já apresentavam coordenação celular, alimentação ativa e reprodução complexa — características que hoje definem a base da vida animal.
Além disso, compreender as condições em que esses organismos surgiram pode orientar a busca por vida em outros planetas, já que ajuda a identificar quais ambientes são propícios ao surgimento de formas de vida multicelulares.
Considerações finais
As novas evidências sugerem que os primeiros animais da Terra podem ter surgido há quase 900 milhões de anos, muito antes do que se acreditava. Tudo indica que as esponjas primitivas foram as pioneiras, abrindo caminho para a incrível diversidade que surgiria no Cambriano.
Embora ainda existam dúvidas sobre a exata origem desses seres, uma coisa é certa: compreender como a vida começou é também compreender nossa própria história evolutiva. Cada nova descoberta nos aproxima das origens da consciência, da biologia e da própria vida como a conhecemos.
O passado profundo da Terra guarda segredos que, pouco a pouco, começam a ser revelados — e, entre eles, está o extraordinário nascimento dos primeiros animais do planeta.
