Uma nova pesquisa científica está chamando a atenção de médicos e especialistas em saúde pública: o ácido linoleico, substância presente em óleos vegetais amplamente utilizados no Brasil — como os de soja, milho e girassol — pode estar envolvido no crescimento de tumores agressivos de mama, especialmente do tipo triplo-negativo, uma das formas mais difíceis de tratar da doença.
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O que é o ácido linoleico e onde ele está presente?
A composição dos óleos vegetais
O ácido linoleico é um tipo de gordura poli-insaturada da família dos ácidos graxos ômega-6. Ele está naturalmente presente em diversos óleos vegetais, que são muito comuns na culinária brasileira, principalmente por seu custo acessível e versatilidade no preparo de alimentos fritos e assados.
Embora seja considerado essencial para o funcionamento do organismo, pois não é produzido naturalmente pelo corpo humano, o consumo excessivo pode gerar um desequilíbrio inflamatório, especialmente quando não é compensado com fontes de ômega-3 — um ácido graxo com propriedades anti-inflamatórias.
Uma dieta desequilibrada
A alimentação moderna tende a conter proporções muito maiores de ômega-6 em relação ao ômega-3. Essa desproporção pode favorecer inflamações crônicas, que por sua vez estão ligadas ao surgimento de várias doenças, incluindo alguns tipos de câncer.
Câncer de mama triplo-negativo: um desafio clínico
Um tipo mais agressivo e menos responsivo
O câncer de mama triplo-negativo representa cerca de 10% a 15% dos casos diagnosticados e é considerado um dos mais difíceis de tratar. Ele recebe esse nome porque as células tumorais não apresentam receptores para estrogênio, progesterona nem HER2 — o que torna ineficazes muitos dos tratamentos hormonais e biológicos disponíveis atualmente.
Por ser mais agressivo, esse tipo tende a crescer rapidamente, tem maior chance de se espalhar para outras partes do corpo e costuma afetar mulheres mais jovens e com menor acesso a serviços de saúde.
Novas descobertas sobre o impacto da dieta
Pesquisadores da Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, identificaram que o ácido linoleico pode ativar uma proteína chamada FABP5, que está presente em altos níveis justamente nas células do câncer triplo-negativo. A partir disso, essa substância pode desencadear a ativação de uma via metabólica chamada mTORC1, relacionada à multiplicação celular.
Essa cadeia de reações ajuda a explicar como a dieta, especialmente o consumo excessivo de certos óleos, pode influenciar o desenvolvimento e a progressão de tumores mamários mais agressivos.
Os efeitos do ácido linoleico: como age no organismo

A relação com a inflamação
Em quantidades moderadas, o ácido linoleico não representa risco — ele é usado pelo corpo em processos de reparo celular, formação de membranas e síntese de hormônios. O problema surge quando o consumo é excessivo e contínuo, como ocorre com o uso indiscriminado de óleos de soja, milho e girassol.
Esses óleos são frequentemente utilizados em alimentos ultraprocessados e preparações domésticas, elevando o consumo diário da população muito além do recomendado.
Ativação de vias tumorais
A pesquisa destacou que o ácido linoleico não é um agente cancerígeno isolado, mas pode funcionar como um “combustível” para tipos específicos de câncer, como o triplo-negativo, quando há predisposição genética ou desequilíbrio metabólico.
Esse achado não significa que o óleo vegetal causa câncer diretamente, mas sim que pode acelerar ou agravar o desenvolvimento da doença quando há outros fatores envolvidos.
Como equilibrar a alimentação e reduzir riscos
Substituições saudáveis
Um dos caminhos mais eficientes para reduzir a exposição ao ácido linoleico é optar por fontes de gordura mais equilibradas. O azeite de oliva, por exemplo, é rico em gorduras monoinsaturadas e tem comprovado efeito protetor sobre a saúde cardiovascular e metabólica.
Outras opções incluem o óleo de coco, usado com moderação, e o óleo de abacate. Além disso, evitar frituras frequentes e preferir métodos como grelhado, assado ou cozido também ajuda a reduzir o consumo de gordura prejudicial.
Aumentar o consumo de ômega-3
Para equilibrar a proporção de ácidos graxos na dieta, é fundamental incluir fontes de ômega-3, como:
- Peixes de água fria (salmão, sardinha, cavala)
- Sementes de linhaça e chia
- Nozes e castanhas
- Óleo de peixe (em cápsulas, sob orientação médica)
Esse equilíbrio contribui para reduzir a inflamação e melhorar o funcionamento geral do sistema imunológico.
O que dizem os especialistas
Médicos e nutricionistas concordam que o mais importante é a moderação. Nenhum alimento deve ser visto isoladamente como vilão ou salvador, mas o padrão alimentar como um todo é o que define os riscos reais.
Além disso, os pesquisadores recomendam que novas diretrizes alimentares sejam consideradas para populações com alta ingestão de óleos ricos em ácido linoleico, como é o caso do Brasil.
Considerações finais
As evidências científicas continuam a reforçar o papel central da alimentação na prevenção de doenças crônicas e complexas como o câncer. O estudo recente sobre o ácido linoleico traz uma contribuição importante ao demonstrar que o excesso de determinados tipos de gordura pode influenciar negativamente a saúde feminina, principalmente no caso de tumores de mama mais agressivos.
Adotar uma dieta variada, com equilíbrio entre gorduras boas e alimentos naturais, é uma medida preventiva poderosa e acessível. Ao repensar o tipo de óleo que usamos todos os dias na cozinha, estamos dando um passo concreto em direção a uma vida mais longa e saudável.













