Por que a resposta não é tão simples
Quando falamos em “dia mais mortal da humanidade”, parece natural pensar em um único evento com milhões de mortos em 24 horas. Mas a história é mais complexa: há diferentes critérios, falhas nos registros e até divergência sobre o que deve ser contado como morte direta ou indireta. Ainda assim, alguns episódios se destacam como os maiores candidatos a esse triste título.
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O terremoto de Shaanxi (China, 1556)
O que aconteceu
Em 23 de janeiro de 1556, um terremoto devastador atingiu a província de Shaanxi, no norte da China. Estima-se que mais de 830 mil pessoas tenham morrido em decorrência do desastre, tornando-o o terremoto mais letal já documentado na história.
Por que matou tanta gente
O epicentro ocorreu em uma região de solos frágeis, onde milhares de famílias viviam em moradias escavadas chamadas yaodongs. Essas casas desmoronaram em massa, soterrando comunidades inteiras. Além das mortes imediatas, houve também perdas nos dias e meses seguintes por fome, doenças e falta de abrigo.
Contexto histórico
Na época da dinastia Ming, Shaanxi era uma região densamente povoada, com cidades muradas e povoados agrícolas. A falta de estrutura de resgate e de registros oficiais detalhados contribuiu para que grande parte do impacto permanecesse envolta em estimativas.
Linha do tempo resumida
- Madrugada: tremor principal provoca desabamentos em massa.
- Horas seguintes: réplicas e deslizamentos ampliam o estrago.
- Semanas seguintes: fome e doenças multiplicam o número de vítimas.
O tsunami do Oceano Índico (2004)
O que aconteceu
Em 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9,1 no fundo do mar gerou ondas gigantes que atingiram 14 países ao redor do Oceano Índico. Em poucas horas, cidades inteiras foram arrastadas, e mais de 225 mil pessoas morreram.
Diferença em relação a Shaanxi
O número total de vítimas foi menor do que em 1556, mas a maioria das mortes ocorreu no mesmo dia, tornando o tsunami um forte candidato ao título de dia mais mortal da era moderna.
Por que foi tão devastador
- Não havia sistema de alerta no Índico.
- Ondas avançaram quilômetros continente adentro.
- Milhares de turistas estavam em praias lotadas na alta temporada.
Países mais afetados
- Indonésia
- Sri Lanka
- Índia
- Tailândia
A gripe espanhola de 1918
Um desastre diferente
Enquanto terremotos e tsunamis são eventos súbitos, pandemias como a gripe espanhola de 1918 espalham-se por semanas ou meses. Calcula-se que entre 50 e 100 milhões de pessoas morreram em todo o mundo.
Por que não entra como “um único dia”
Embora tenha havido picos diários de mortalidade em várias cidades, os registros não permitem identificar um “dia global” com números que superem Shaanxi ou o tsunami. A pandemia é recordista em mortes acumuladas, mas não em um único dia.
Dificuldades na medição
- Registros incompletos e subnotificados.
- Óbitos espalhados em ondas sucessivas.
- Diferenças entre países e continentes.
Outros desastres de grande impacto

Além dos três principais, outros episódios também figuram entre os mais mortais da história.
Erupção do Monte Tambora (1815)
A maior erupção vulcânica registrada, que matou dezenas de milhares diretamente e provocou o “ano sem verão”, causando fome em várias partes do mundo.
Terremoto de Tangshan (1976)
Na China moderna, provocou cerca de 240 mil mortes, mas em um intervalo de dias.
Erupção do Krakatoa (1883)
Causou tsunamis e deixou cerca de 36 mil mortos na Indonésia.
Como a ciência define o “dia mais mortal”
Critérios básicos
- Mortes diretas: causadas imediatamente pelo evento (desabamentos, afogamentos).
- Mortes indiretas: fome, epidemias e ferimentos não tratados após o desastre.
- Excesso de mortalidade: diferença entre óbitos esperados e os observados.
Fontes usadas pelos pesquisadores
- Registros oficiais e administrativos.
- Relatos de cronistas e sobreviventes.
- Modelos estatísticos para corrigir falhas históricas.
Lições aprendidas
Com Shaanxi
A importância da arquitetura segura em áreas sísmicas. Moradias tradicionais aumentaram drasticamente o saldo de vítimas.
Com o tsunami de 2004
A criação de sistemas de alerta precoce para ondas gigantes, que hoje já estão ativos no Índico.
Com a gripe espanhola
A necessidade de vigilância epidemiológica e sistemas de saúde preparados para evitar que picos de mortalidade se repitam.
Perguntas frequentes
Qual foi o dia mais mortal da história?
Provavelmente 23 de janeiro de 1556, quando ocorreu o terremoto de Shaanxi, na China.
E na era moderna?
O dia 26 de dezembro de 2004, com o tsunami do Índico, é o principal candidato.
Pandemias entram na conta?
Sim, mas como os óbitos se espalham ao longo do tempo, é mais difícil falar em “um único dia” de pico global.
Considerações finais
O “dia mais mortal da humanidade” não é um título fácil de atribuir, mas os registros indicam que o terremoto de Shaanxi, em 1556, ainda ocupa esse lugar na história. O tsunami do Oceano Índico, em 2004, foi o equivalente moderno, com números impressionantes em apenas um dia. Já a gripe espanhola mostrou que pandemias podem ser mais devastadoras em termos de volume total de mortes, ainda que distribuídas ao longo de meses. Mais do que olhar para recordes trágicos, revisitar esses eventos é fundamental para reforçar o valor da prevenção, da ciência e da preparação frente a desastres.













