Um caso clínico raro chamou a atenção de médicos e pesquisadores na Europa: uma mulher relatou enxergar rostos humanos como se fossem dragões, com traços reptilianos e cores irreais. O diagnóstico, registrado em literatura médica, revelou uma condição pouco conhecida que afeta diretamente a forma como o cérebro processa as feições das pessoas. A seguir, você entenderá o que causa essa distorção, como ela foi diagnosticada e quais tratamentos foram aplicados para reduzir os sintomas.
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O caso da paciente
Alterações visuais desde a infância
A mulher, hoje com pouco mais de 50 anos, relatou perceber distorções faciais desde criança. No entanto, com o passar dos anos, as transformações ficaram mais intensas: ao olhar para outras pessoas, os rostos se transformavam em figuras com pele escamosa, focinho alongado e olhos brilhantes de cores vibrantes.
Percepções além das pessoas
As visões não se restringiam a rostos humanos. Ela também relatava enxergar essas figuras em objetos do cotidiano, como tomadas e telas. Até mesmo no escuro, os “dragões” surgiam diante de seus olhos.
O diagnóstico médico
Após uma bateria de exames clínicos e neurológicos, os especialistas identificaram que a paciente sofria de prosopometamorfopsia (PMO), um distúrbio que provoca distorções específicas no reconhecimento de rostos.
O que é prosopometamorfopsia?

Definição
A prosopometamorfopsia é uma condição neurológica rara em que o cérebro interpreta de maneira distorcida as feições faciais. Isso pode fazer com que os rostos pareçam deformados, monstruosos ou com características que não existem na realidade.
Tipos de manifestações
- Distorção total: o rosto inteiro aparece transformado.
- Distorção parcial: apenas parte do rosto — como olhos ou boca — apresenta alterações.
Possíveis causas
A literatura médica aponta que a PMO pode estar associada a lesões cerebrais decorrentes de falta de oxigenação no nascimento, acidentes vasculares cerebrais, crises epilépticas, enxaquecas intensas, tumores ou infecções que afetam áreas ligadas ao reconhecimento facial.
Diferença para outras condições
É importante distinguir a PMO da prosopagnosia, conhecida como “cegueira para rostos”. Enquanto a prosopagnosia impede o reconhecimento de pessoas conhecidas, a prosopometamorfopsia altera visualmente a forma como os rostos são percebidos.
Como os médicos chegaram ao diagnóstico
Exames iniciais
A paciente foi submetida a análises de sangue, testes neurológicos e eletroencefalograma. Nenhum apresentou alterações significativas.
Achados em neuroimagem
Uma ressonância magnética revelou lesões antigas na substância branca cerebral, próximas ao núcleo lentiforme — região ligada a processos cognitivos e visuais. Esse achado reforçou a hipótese de que as distorções eram resultado de danos neurológicos ocorridos ainda no início da vida.
O tratamento aplicado
Primeira medicação
O tratamento inicial envolveu o uso de valproato de sódio, normalmente prescrito em casos de epilepsia. O medicamento reduziu parte das distorções visuais, mas trouxe efeitos colaterais indesejados, como alucinações auditivas.
Ajuste terapêutico
Com a substituição para rivastigmina, os resultados foram mais positivos: as imagens de “dragões” se tornaram menos frequentes, e os sintomas auditivos desapareceram.
Melhora da qualidade de vida
Após três anos em acompanhamento médico, a paciente relatou significativa melhora na vida social e profissional, conseguindo retomar atividades que antes eram difíceis por conta das alucinações visuais.
Impactos emocionais e sociais
Convivência com a distorção
Viver décadas com a percepção de rostos transformados em criaturas irreais causou isolamento e estranhamento. Muitos ao redor não entendiam a gravidade da situação, o que intensificou o desafio emocional da paciente.
Desafios de diagnóstico
Casos como esse demonstram como doenças raras podem ser mal compreendidas, muitas vezes sendo confundidas com transtornos psiquiátricos. Foi somente com a análise de imagens cerebrais que a explicação neurológica foi confirmada.
Contribuição científica
O caso adiciona informações valiosas ao estudo de como o cérebro humano processa rostos e imagens visuais. Para a ciência, cada novo diagnóstico ajuda a construir caminhos para futuros tratamentos e para o reconhecimento de pacientes com sintomas semelhantes.
O cérebro e a percepção dos rostos
O papel do giro fusiforme
Localizado no lobo temporal, o giro fusiforme é a região do cérebro mais associada ao reconhecimento de rostos. Alterações nessa área podem provocar distorções significativas.
Reconhecimento e emoção
Os rostos não são apenas imagens visuais: carregam informação emocional. Alterações neurológicas que distorcem feições também afetam a maneira como o paciente percebe expressões e interações sociais.
Estudos futuros
Pesquisadores acreditam que novos estudos de imagem e terapias personalizadas podem abrir caminhos para melhorar ainda mais a vida de pessoas que sofrem com PMO.
Considerações finais
O caso da mulher que via dragões no lugar de rostos humanos mostra como o cérebro pode transformar percepções em experiências completamente irreais. Embora rara, a prosopometamorfopsia desafia médicos e cientistas a compreenderem melhor os mecanismos da visão e da cognição. Graças ao diagnóstico correto e ao tratamento adequado, foi possível reduzir os sintomas e devolver qualidade de vida à paciente. Esse relato reforça a importância de olhar com seriedade para condições raras, que, mesmo incomuns, revelam muito sobre o funcionamento complexo do cérebro humano.


