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Mulher paga a faculdade trabalhando como sucateira e leva latinhas para sua formatura: “Quem reclama não sai da lama”

By Bruno Piai

April 05, 2017

Sabe esta foto usada na capa? Seu significado é imenso! A imagem, que diz mais do que mil palavras, representa fé, superação, garra, coragem, a vontade de lutar e de vencer em meio a uma realidade difícil.

Em sua formatura após concluir faculdade em Serviço Social, a paraibana Luciene Gonçalves fez questão de simbolizar o momento com aquilo que a fez chegar tão longe: as latinhas. Aos 35 anos, a vida como sucateira ao lado do marido, Pedro, que exerce a mesma profissão, nunca a fez desistir de seu sonho de concluir o ensino superior.

É bem verdade que sua meta precisou ser interrompida e foi traçada em um caminho incerto. Aos 20, a moradora de Sousa, sertão da Paraíba, concluiu o ensino fundamental, mas precisou parar de estudar quando a necessidade falou mais alto. Ela precisava trabalhar para garantir o sustento de sua família. E no ano seguinte, ela se tornaria mãe de sua primeira filha, que hoje tem 14 anos – ela também é mãe de uma menina de 12.

  1. Foto: Repórter Algaoas – Reprodução

Recolher latinhas e outros objetos pelas ruas se tornou sua opção de renda. O avô do marido ainda trabalhava como sucateiro e tinha um depósito de reciclagem. “Com o tempo a gente percebeu que ele [o avô] já estava ficando cansado, por causa da idade, e decidimos começar a entrar no negócio”, conta a recém-formada em entrevista ao portal de notícias do G1.

Ainda assim, Luciene buscou equilibrar seu tempo e rotina e, mesmo com o cansaço que enfrentava, conseguiu concluir o ensino médio. E se passaram quase dez anos até que ela voltasse para a sala de aula e decidisse qual carreira seguir: “Serviço Social foi feito pra mim. Eu gosto muito de ajudar as pessoas. E depois que entrei no curso e fiz estágios, tive a certeza de que aquilo foi feito pra mim”, diz a paraibana.

  1. Foto: David Silva / Alian Eventos

Durante todo o período de graduação, Luciene pôde contar com o apoio de sua família. E mais do que isso, ela conseguiu incentivar o marido a estudar também. Pedro escolheu administração e os dois foram aprovados no mesmo processo seletivo. “Minha família me estimulou e eu também incentivei meu marido. Passamos noites e noites estudando e treinando redação. Não foi fácil, depois de tanto tempo voltar a estudar”, disse ela ao G1.

Os quatro anos de estudos exigiram muito sacrifício. O dinheiro precisava ser contado para arcar com os custos do curso e com as despesas da casa. Não era fácil para o casal conseguir bancar tudo com o serviço de sucateiro, mas não era hora de desistir.

Além disso, era necessário planejamento e tempo para Luciene levar seu pai a sessões de hemodiálise após ele começar a ter problemas renais. “Às vezes chegava na sala de aula chorando, mas também encontrei amigas que foram como irmãs, que me apoiaram. Essa foi a época mais difícil, pois ocorreu quando eu já estava fazendo meu trabalho de conclusão de curso”, revela.

  1. Foto: David Silva / Alian Eventos

E todo o esforço e luta de Luciene não poderia ter valido mais a pena. Ela e o marido se formaram e ambos se tornaram grandes inspirações dentro e fora de casa. E agora, o objetivo dos dois é o de atuarem em suas áreas de formação.

“Eu sempre digo ao meu marido que não reclame, pois quem reclama não sai da lama. Eu tinha que ser alguém na vida, não ser só sucateira, mas ter um curso superior pra dar exemplo para as minhas filhas. Tem gente que trabalha em escritório e diz que não tem tempo para estudar. Eu trabalho dentro da sujeira e pra mim não faltou garra pra terminar meu estudos. Tem gente que reclama de barriga cheia”, completa a paraibana guerreira.