A violência que o Brasil e o mundo enfrentam segue fazendo mais vitimais inocentes, que em meio ao caos, são as que mais sofrem. A exemplo do Rio de Janeiro, que há anos trava uma intensa batalha contra o tráfico de drogas e a violência e em meio aos confrontos de policiais e traficantes, os moradores das regiões afetadas são os que mais pagam por isso.
Claudineia dos Santos Melo, paraibana, de 29 anos, resolveu ir ao mercado perto de sua casa, na Favela do Lixão, em Duque de Caxias, RJ. No caminho, ela não esperava que se depararia com um intenso tiroteio. Foi atingida por uma bala perdida no seu quadril, que chegou ao útero. O problema maior? Ela esperava seu primeiro filho, Arthur, e estava no nono mês de gestação.
Nesse momento, uma corrida pelas duas vidas começou. Claudineia foi levada ao Hospital Moacyr do Carmo, em Caxias, e quando uma obstetra ouviu o coração da criança, percebeu que ela apresentava um batimento irregular e logo a gravidez foi interrompida, com uma cesariana feita às pressas, numa tentativa de salvar o bebê.
Mãe e filho passaram a ser atendidos por equipes diferentes, mas a infraestrutura do hospital não estava preparada para tratar do caso de Arthur – não havia sequer uma UTI neonatal no local. Mais um obstáculo para salvar a criança, que nasceu com a orelha direita dilacerada, o tórax e a cabeça feridos, mas com os órgãos vitais intactos. Ele também contou com a ação rápida e o improviso dos médicos, que com apenas um dreno torácico e um tubo traqueal, drenaram seus pulmões, um com hemorragia pela perfuração da bala e o outro com ar fora.

Então, Polliny e Luiz Carlos Madriaga, que estavam encarregados das remoções na unidade, procuraram desesperadamente por alguma ambulância que pudesse levar o pequeno até um hospital preparado. Ele só teria mais duas ou três horas de vida caso não fosse transferido, então outra corrida contra o tempo começou.
Depois de alguns procedimentos para receber Arthur, o Hospital estadual Adão Pereira Nunes finalmente conseguiu atendê-lo. O médico Eduardo de Macedo Soares, de 35 anos, coordenador médico da UTI neonatal do hospital falou sobre o momento da chegada do bebê:
“Imediatamente trocamos o dreno que havia sido improvisado e já estava obstruído. Foi um trabalho incrível feito pela equipe do Moacyr do Carmo. Eles conseguiram estabilizar um recém-nascido sem os dois pulmões funcionando com grande rapidez, mesmo sem equipamento adequado”
Ele também contou que existe uma grande possibilidade dele ficar paraplégico, mas que para não prejudicar o estado de saúde da mãe, que se encontra internada, eles estão esperando para contá-la:
“Recém-nascidos às vezes nos assustam com rápida evolução do quadro. A lesão na vértebra é grande, mas só quando ele começar a melhorar saberemos se haverá atividade muscular nas pernas.”
Agora, o marido de Claudineia e pai de Arthur, Klebson da Silva, de 27 anos, segura a ultrassom de seu filho e relembra os momentos de expectativa, que trocou pela tensão, dividindo-se entre os dois hospitais.
Os dois ainda não possuem previsão de alta, mas desejamos que ambos se recuperem com muita saúde e que o pequeno Arthur, que já é um grande guerreiro, possa crescer forte e nos braços de sua família. Foto: Reprodução/Internet/Custódio Coimbra/Márcio Alves/Agência O Globo












