Ser mãe é abdicar de inúmeras coisas ao longo da vida. É ter seu mundo totalmente transformado com a chegada das crianças. É se dedicar de corpo e alma e mesmo assim, ainda ouvir que não está bom. Que não é suficiente.
Essas críticas que as mulheres recebem diariamente sobre a ‘não perfeição’ nos cuidados com os filhos, dói. Fernanda Monteiro é advogada e estudante de psicologia. Ela é mãe de Dhiogo, 14 anos, e Enrico, 6, e mora em São Paulo. Ela fez um desabafo nas redes sociais ao passar por uma situação nada agradável.
Recebe bilhete:
Fernanda conta que saiu para jantar com o marido, Caio, e o filho mais novo. O pequeno estava com sono e já tinha comido, por isso, o casal levou um tablet para ele se distrair durante o passeio. Mas, a tática não deu certo e Enrico acabou pegando no sono nas cadeiras do restaurante. Enquanto comiam, a mãe foi surpreendida por uma senhora que estava no mesmo restaurante. Ela deixou um bilhete na mesa escrito “Você é uma péssima mãe”.
“Na verdade não sei o que pegou para ela e o que a motivou para escrever isso. Não sei se foi o tablet ou a questão do meu filho não ter jantado, já que ele tinha comido em casa, ou se foi porque ele estava dormindo nas cadeiras.”, disse Fernanda. Ela continuou, falando sobre como é difícil receber comentários como esse, apenas direcionados para a mãe:
“Achei péssimo não apenas pelo bilhete, mas por que veio direcionado somente para mim? Por que eu sou a péssima? Os dois (pai e mãe) têm a função de criar, certo?” .

Além disso, Fernanda cita esse certo machismo por parte das mulheres também, que não veem os esforços que muitas mães fazem diariamente pelos seus filhos:
“As mulheres são as maiores machistas que tem na sociedade, ficam perpetuando o assunto com atitudes assim. Não acho justo mães que trabalham o dia todo escutarem coisas desse tipo”. Ela falou sobre como esse tipo de pensamento ainda está presente em muitas pessoas.
Veja seu relato na íntegra:
“Hoje saí pra jantar com meu marido e meu filho caçula. Restaurante do lado de casa, fomos a pé. Eram 20:00 quando meu marido chegou do trabalho, momento em que meu filho estaria se preparando pra dormir, pois já tinha brincado, jantado, tomado banho…enfim, só que eu tive a “ousadia” de sair pra jantar com meu marido e uma criança com sono.
Levamos um tablet, que não surtiu muito efeito pois meu filho logo dormiu em 3 cadeiras que ajeitei ao meu lado pra ele. Uma senhora loira, que jantava sozinha, ao sair, me deixou esse recadinho agressivo que vocês leem na imagem: “Você é uma péssima mãe”.
Graças aos céus a vítima dela fui eu, porque ela mal me conhece, então não sabe de todo o sacrifício que fiz durante minha vida para ser a tal “boa mãe”, quantos sonhos não abdiquei pra ser a “boa mãe”. Culpa não é meu problema. Sabe o que pegou? Ela escreveu que eu sou uma péssima mãe…e meu marido? Ele não tem nada a ver com isso? Não estou aqui pra defender posturas feministas.
Mas não é estranho que não esteja escrito: “Vocês são péssimos pais”? Porque cargas d’água só eu sou a responsável por deixar uma pobre criança indefesa, feita de porcelana, dormir na cadeira do restaurante? Que “mãe” é essa que a sociedade espera das mulheres? Talvez seja a mesma mãe que faz duplas e triplas jornadas e ainda assim nunca está bom…a mãe que abdica da carreira profissional, a mãe que não tem tempo hábil pra incrementar sua renda, a mãe que apanha calada dentro de casa…a mãe, a virgem, a pura, a santa.
Pessoal, são por esses atos que mantemos um modo de ser que tá enlouquecendo homens e mulheres. Estamos esgotados, cansados, deprimidos. É muita maldade julgar a vida alheia. É muita maldade menosprezar os homens enquanto pais – acredito que meu marido e tantos outros são tão responsáveis quanto eu na criação dos nossos filhos – e se orgulham disso.
É muita maldade idealizar a maternidade baseada em matérias de Facebook, matérias baseadas em ideais de vida incompatíveis com a de seres humanos comuns como eu e vocês que estão lendo este post. Desabafei…não costumo fazer isso, aliás mal visito o Facebook, mas senti que precisava compartilhar essa ignorância, essa violência que sofri, porque não estou sozinha – somos inúmeras as mulheres vítimas de outras mulheres que nos puxam de volta à um passado de submissão.”
Foto: Reprodução/ Facebook
Fonte: Revista Crescer












