Mulher da à luz após 10 meses de gestação e compartilha sua história única
Geralmente são 9 meses que uma mulher precisa para uma gestação bem sucedida. Com tantos casos de nascimento prematuro, fica a dúvida: E o contrário? Também acontece?
A resposta é sim. Uma mulher pode dar à luz depois de 10 meses, como é o caso dessa história abaixo. Esta moça – que não teve seu nome divulgado – casou em 2012 e sempre teve o desejo de ser mãe. Quando começou a pesquisar e estudar sobre o assunto, por conta de diversas violências obstétricas e cesáreas realizadas, acabou entendendo sobre parto humanizado e sendo referência para outras pessoas. Então, finalmente decidiu ir além e ficou grávida.
Por conta de suas pesquisas, a futura mãe estava certa de queria ter um parto domiciliar. Obteve a ajuda da assessoria do Grupo Luar, a doula Talia e a fotógrafa Amanda para registrar o momento. Como estava atrás de um cantinho para ela e o marido, ficou em pânico com a ideia de dar à luz sem ter uma residência fixa. Mas tudo deu certo e conseguiram a casa quando estava com suas 37 semanas de gestação. Até antes do parto, o casal sempre mantinha encontros com o Grupo Luar, com quem cada vez mais ganhavam confiança.

As semanas se passaram… 37, 38, 39, 40. Aquele deveria ser o momento, a mãe estava completamente ansiosa. O Grupo a encontrava de 3 em 3 dias e o bebê poderia querer nascer a qualquer instante. E eis o surpreendente: Isso não aconteceu. A mãe chegou em suas 41 semanas e o Grupo passou a alertá-la de que não poderiam atendê-la se ela permanecesse assim na semana seguinte pelos riscos de um pós-datismo.
E assim aconteceu. Com 42 semanas, o contrato com o Grupo estava cancelado e suas únicas visitas ainda eram da doula e da fotógrafa. Com tudo o que houve a mãe acabou ficando sensível ao contato, deixando assim seu marido encarregado de conversar com quem quer que fosse. A ideia de estar em um hospital sendo submetida ao sofrimento como as outras mulheres era algo que atormentava sua mente.
43 semanas. Ela já havia desistido até das consultas médicas, das quais havia começado na semana anterior. Estava somente tentando não se desesperar com sua situação. Quando completou a 43ª semana sentiu algumas cólicas à noite. Nos dias seguintes as dores foram constante e os intervalos foram diminuindo. Ela concluiu que estava em trabalho de parto. A fotógrafa e a doula foram acionadas pelo marido, porém somente a fotógrafa compareceu naquele momento, a doula chegaria somente mais tarde.
Confira o relato do nascimento:

“Quando a noite chegou, as cólicas aumentaram e fui percebendo que o trabalho de parto ativo estava plenamente acontecendo. Nessa hora chegou o momento de pedir ajuda e ficar isolada com meu esposo. Enquanto à tarde eu preferi ficar no quintal brincando com as cadelas – enquanto meu esposo montava um varal e saía correndo pra me acudir quando chamava o seu nome -, à noite, preferi o fogo. Pedi para Luciana, minha vizinha e amiga, para queimar umas ervas. Meu marido acendeu a lareira e eu me entreguei a cada contração. Interessante que percebia nas contrações a oportunidade de experimentar algo novo. A cada contração eu queria tentar uma posição, uma vocalização, uma massagem, uma música, uma dança, um cheiro… E nisso percebia o que me agradava, o que me dava alívio, o que me deixava mais forte, o que me ajudava a estar mais concentrada. Por fim, percebi que alguns elementos foram essenciais: pouca luz, muito calor, vocalizações extremas, massagens fortes, música pulsante, e o toque e a força física de meu esposo – e bota força neste moço! Joguei todo o peso do meu corpo sobre o dele diversas vezes; apertei, esmaguei sua mão e estiquei seu braço sem piedade, além de puxar sua camisa, cabelos, etc.
Passado algumas horas, pedi a banheira – iria utilizar a banheira dos meu vizinhos, Luciana e Adriano, que neste processo todo do parto estavam mais que pró-ativos. Quando estava a caminho da banheira, me lembrei vagamente do hospital e pensei: “Bom, a água quente vai relaxar minha musculatura e aí terei forças para ir ao hospital “– para deixar claro, o hospital fica a 2, 3 minutos de carro da minha casa, logo, sempre me senti à vontade para viver o trabalho de parto em casa e só ir ao hospital no processo de transição ou expulsivo. Ah, desde o início eu imaginava que ou meu marido ou minha doula me avisariam sobre o momento de ir ao hospital. Eu sabia que não teria condições de falar isso no meio do trabalho de parto.
Bom, continuando, fomos para a banheira e lá me surpreendo com meu corpo: a água quente não trouxe qualquer alívio! As contrações só aumentavam e aumentavam ao ponto que senti os repuxos – uma sensação bem estranha de fazer força. Nessa hora esqueci completamente o hospital. Na verdade, eu esqueci até o fato de que um bebê estava saindo de mim! Neste momento a Talia chegou e pensei rapidamente em pedir a ela que fizesse um exame de toque pra saber o quanto eu estava de dilatação (isso foi algo que me surpreendeu: não soube em nenhum momento do parto o quanto eu tinha de dilatação, nem sabia se o bebê estava bem, porém, nada disso se passava na minha mente naquela hora. Na verdade, ainda permanecia em mim a ideia de que aquele parto ainda iria demorar muito e que essas coisas seriam vistas depois, no hospital).

Antes que eu tentasse abrir a boca pra chamar a Talia, senti um repuxo forte e uma explosão entre minhas pernas: era muco e sangue que começavam a descer, escorrendo pela minha coxa. Não entendi nada daquilo e perguntei se era normal. Talia respondeu: “Sim. É um sinal de que seu colo de útero está dilatando”. Ok, podia ficar tranquila e antes que eu cogitasse de novo chamar a Talia, mais um repuxo e um sensação estranha: a bolsa estava na entrada da minha vagina! E num instante bum! Explodiu, espalhando todo líquido pela banheira. Nessa hora, só me veio na mente: Mecônio, mecônio! Pedi para alguém ver se tinha mecônio. A Talia acendeu as luzes e verificou. Não achou nada. Porém, para ter certeza, pediu um pedaço de papel para passar no líquido.
Enquanto isso acontecia, um novo repuxo e algo está novamente entre minhas pernas: “A cabeça, a cabeça!”, gritei com a voz rouca e trêmula, e, antes que a Talia terminasse de ver o líquido, um novo repuxo e o bebê sai feito um vulcão! Talia largou tudo e tentou pegá-lo. Ele escorregou da mão dela, caiu na água e ela rapidamente o segura e me dá. Eram 22h51. Lembro de agarrá-lo com força e gritar: “Não acredito! Não acredito!” Um mistura de emoção, alegria, alívio, cansaço tomou conta de mim e fiquei lá, na beira da banheira meio chorando, meio rindo, meio gritando.

Ah, e claro, a emoção de saber o sexo! Queríamos essa surpresa no parto. Sentia que era um menino, mas nunca quis comentar com ninguém sobre o assunto e para minha surpresa, era um meninão! Grande, lindo, cabeludo, com um rosto tão, tão perfeito que me assusto toda vez que lembro da sua face nesta hora. Por algum motivo eu achava que iria ver um rosto enrrugado, ou um bebê chorando e gritando, mas, de repente, me aparece esse menino lindo, com a cara mais calma do mundo, com o olhão aberto, com traços perfeito, com a pele vistosa e rosada. Pedi pra meu esposo pra ligar para minha mãe – ela mora na Bahia. Mais emoção, mais choro.”

O processo durou cerca de 1h30. Após o nascimento do menino, a mãe ainda sentiu a placenta cair, mas sem nenhuma dor. Ambos estavam saudáveis ao final do parto e tudo ocorreu bem.
Definitivamente é uma história única e com um final surpreendente. Além disso, serve como um grande incentivo para as mães que também estão em uma situação parecida.
Fotos: Reprodução / Arquivo Pessoal

