A violência contra a mulher é um problema estrutural no Brasil. Segundo o Datafolha, uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de agressão em 2016. Os números são ainda mais alarmantes quando se trata de violência física: 503 brasileiras são vítimas a cada hora.
Muitas mulheres não sobrevivem para contar sua história, mas Danila Areal sobreviveu com a ajuda massiva que recebeu após expor seus ferimentos e sua agressão nas redes sociais. Após ser negligenciada pelas autoridades, ela conseguiu ser ouvida em sua última súplica por socorro.
No dia 29 de maio, a consultora de 28 anos começou uma transmissão ao vivo pelo Facebook para denunciar o que lhe tinha acontecido. Na madrugada de sábado, ela sofreu uma tentativa de homicídio pelo pai de sua filha, com quem morou por 8 anos.
A agressão
No sábado (27), suas amigas a chamaram para uma balada de Volta Redonda, sua cidade. Ao chegar ao local, avistou seu ex-namorado, Douglas William Santos Morais, que não a incomodou até o final da noite, quando se ofereceu para acompanhá-la de carro até a sua casa.
“Minhas amigas acharam necessário que ele viesse me proteger, para que eu não dirigisse sozinha de madrugada, disse ela ao Best of Web. O homem permaneceu no banco do passageiro até a casa de Raila Almeida, a amiga que a abrigou após o término.
Ao chegar, Douglas tentou uma aproximação física. Danila se afastou e disse não querer mais nada com ele. Nesse momento as agressões começaram – ele apertou seu braço e a mulher disse que ele não podia fazer isso, porque ela tinha uma medida protetiva contra ele. “Eu achei que tinha”, comentou.

Quando seu ex-namorado começou a agredi-la, quatro rapazes passaram na rua e interromperam a agressão. “Ele é tão doente que dizia que eu era a mulher dele e que ele estava resolvendo comigo”, diz a moça. Mas os rapazes interviram e disseram que ele não bateria nela ali. Douglas fugiu, e Danila e Raila chamaram a polícia.
As amigas sentaram na calçada para esperar a polícia. Ela pretendia entrar no carro da polícia e ir à casa dele e prendê-lo em flagrante, mas não foi o que aconteceu, pois seu carro chegou antes do da polícia.
Danila ficou apavorada – apesar de não ter porte de arma, ele andava com uma – e pediu à amiga que levasse seus filhos para dentro, sem a possibilidade de ir também, pois ele já estava a segurando. Eles conseguiram fugir, mas Douglas começou a espancá-la.

“Eu fiquei agarrada à roda enquanto ele me puxava pela perna tentando me colocar no carro. Eu não deixava porque ele ia me matar”, narra a mulher. “Ele conseguiu me colocar em pé e me dava socos, dizendo que eu era uma puta, se isso era roupa de se sair de casa.”
Após isso, ela só se lembra de ter acordado tendo sua roupa trocada pelo SAMU. Uma vizinha interveio para tirá-la do meio da rua, pois ele pretendia atropelá-la. “Ele não parou de me bater. Não me deixaram registrar queixa por tentativa de homicídio, mas ele queria me matar.”
Negligenciada pelos órgãos públicos

No dia 28 de abril, Danila foi à delegacia prestar queixa sobre outra agressão cometida pelo homem, que se exibia como violento. A medida protetiva solicitada foi negada. “O juiz permitiu que ele fizesse isso aqui comigo.”
Durante a tentativa de homicídio, Raila ligou para a polícia 17 vezes, e os vizinhos, que observavam atônitos, também chamaram as autoridades mais de 20 vezes. Mesmo assim, nenhuma viatura apareceu.
No dia seguinte, após ter alta do hospital, ela foi à delegacia, onde ouviu que a polícia não podia fazer nada por ela. Apesar das testemunhas e do exame de corpo de delito, eles alegaram que não podiam prendê-lo por falta de provas.
Repercussão da transmissão ao vivo
“Eu fiz essa transmissão no intuito de me proteger, para que alguém visse e não deixasse que ele chegasse mais perto de mim”, diz a consultora. O vídeo já tem mais de 7 milhões de visualizações e 200 mil reações no facebook. Você pode conferir o apelo por aqui:

Com a enorme repercussão, Danila agora está sendo acompanhada por dois advogados particulares e psicólogos para ela, sua filha e sua amiga. A postura das autoridades também mudou completamente. “O mesmo delegado que falou que não podia fazer nada por mim me disse ontem que era questão de honra prendê-lo”, alegou.
Ela conta também que a delegada que acompanhava seu caso perguntou se foi realmente necessário que ela fizesse a live, pois “atrapalhou as investigações”. Danila acredita só estar viva por conta da transmissão e de sua repercussão.
Apoio a outras sobreviventes
Agora que a situação está tomando rumo, ela se preocupa com as outras mulheres que passam por isso. “Eu não quero ser uma privilegiada. Eles deviam ver como questão de honra o caso de todas as mulheres agredidas, e não só o meu.”
Ela quer usar sua experiência para ajudar mulheres do Brasil inteiro a superarem a violência doméstica. “A gente vem de uma criação onde isso é normal. Minha mãe apanhava, a mãe dele apanhava. Mas não é. A gente não merece isso.
Ela aconselha outras mulheres que passam por isso. “Larga no primeiro grito, no primeiro tapa, no primeiro xingamento”, suplica. “Corre no primeiro sinal, porque se no namoro ele se mostra agressivo, daí para frente só piora. Esse foi meu erro.”
Danila é uma sobrevivente da violência estrutural que ocorre contra as mulheres no Brasil inteiro – nem todas conseguem ser salvas. Caso você testemunhe alguma agressão, faça sua parte e denuncie ligando para 180. As vidas das mulheres está em jogo.
Fotos: Reprodução/Facebook













