Um novo capítulo para o comércio eletrônico global
As compras internacionais ganharam espaço entre os consumidores brasileiros nos últimos anos, especialmente com a ascensão de plataformas como Shein, Shopee, AliExpress e Temu. Os preços atrativos, variedade de produtos e frete acessível transformaram a experiência de consumo digital. No entanto, novas regras tributárias implementadas pelo governo brasileiro estão modificando esse cenário. A chamada “taxa das blusinhas” pode afetar diretamente os valores cobrados e o comportamento de compra de milhões de consumidores.
Neste artigo, explicamos o que muda com essa taxação, por que ela foi criada, como afeta grandes players do mercado e o que esperar daqui para frente.
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O que é a chamada “taxa das blusinhas”?
Surgimento do apelido
O termo “taxa das blusinhas” ganhou popularidade por causa do foco da medida em compras de roupas, acessórios e itens de moda de baixo valor, normalmente adquiridos em plataformas internacionais por jovens brasileiros. Blusas e camisetas baratas tornaram-se o símbolo das compras sem imposto — até agora.
Qual era a regra anterior?
Antes da mudança, compras feitas por pessoas físicas no exterior com valor inferior a 50 dólares estavam isentas do Imposto de Importação, desde que o remetente também fosse pessoa física. Na prática, muitas empresas se aproveitaram da brecha para oferecer produtos com preços mais baixos sem a incidência de tributos, o que gerava insatisfação entre lojistas brasileiros.
O que mudou?
A partir de agosto de 2024, todas as compras feitas em sites internacionais passaram a ser taxadas, independentemente do valor. A isenção de até US$ 50 deixou de existir para remessas feitas por empresas, mesmo que registradas como pessoas físicas. Com isso, até mesmo uma compra de R$ 30 pode ter impostos incluídos no momento da finalização do pedido.
Como funcionam as novas cobranças?
Imposto de Importação
O governo estabeleceu uma alíquota fixa de 20% sobre o valor da compra para remessas de até 50 dólares. Se a encomenda ultrapassar esse valor, o imposto sobe para 60% sobre o montante total (produto + frete). Além disso, há um desconto padrão de US$ 20 para essas compras de maior valor.
ICMS estadual
Além do imposto federal, incide também o ICMS — tributo estadual sobre circulação de mercadorias. A alíquota varia de estado para estado, mas muitos governos já aumentaram o percentual para 20%. Isso significa que o consumidor pagará, além do Imposto de Importação, o ICMS sobre o valor total da compra.
Exemplo prático
Imagine uma compra de R$ 200 em um site internacional. Com a nova regra:
- Imposto de Importação (20%): R$ 40
- ICMS (20%): R$ 48 (aplicado sobre R$ 240)
- Valor total: R$ 288
Ou seja, um item que custava R$ 200 pode acabar saindo quase 45% mais caro.
Por que o governo mudou as regras?
Concorrência desleal
Lojistas e varejistas brasileiros vinham reclamando de uma competição considerada injusta. Enquanto empresas nacionais precisam lidar com carga tributária elevada, encargos trabalhistas e logística interna, vendedores estrangeiros conseguiam driblar impostos e vender com preços bem mais baixos.
Reforço na arrecadação
O aumento no número de compras internacionais, somado à ausência de cobrança adequada de impostos, levou o governo federal a buscar formas de aumentar a arrecadação. A nova política visa tapar brechas e formalizar esse tipo de comércio, que já movimenta bilhões de reais ao ano.
O que é o programa Remessa Conforme?
Uma tentativa de organização
Para organizar esse novo modelo, a Receita Federal lançou o programa Remessa Conforme. Trata-se de um sistema no qual as empresas estrangeiras que vendem ao Brasil se comprometem a recolher os impostos já no momento da compra.
Como funciona?
Plataformas como Shein, Shopee e AliExpress, ao aderirem ao programa, passam a calcular e embutir os tributos de forma automática no valor final pago pelo consumidor. Isso evita surpresas na chegada do produto e agiliza o processo de desembaraço na alfândega.
Vantagens para o consumidor
- Pagamento antecipado dos tributos
- Redução no tempo de entrega
- Mais transparência nos custos
- Menor chance de retenção de produtos na Receita Federal
Impacto nas vendas das gigantes do e-commerce

Queda no volume de compras
Nos primeiros meses após a nova taxação, já foi possível observar uma queda nas compras em sites internacionais. O custo final mais alto afastou parte dos consumidores que buscavam economia.
Segundo dados de mercado, a Shein teve uma queda de 23% nas vendas no final de abril de 2025. A redução está associada à aplicação da nova tributação e à menor atratividade de seus preços diante da concorrência com varejistas locais.
Reação das plataformas
Para tentar conter o impacto, empresas como Shein e Shopee estão investindo na instalação de centros de distribuição no Brasil. Além disso, algumas plataformas estão negociando com fornecedores locais e ampliando a logística interna, para reduzir prazos e custos de entrega.
Como o consumidor pode se adaptar?
Verifique se a loja participa do Remessa Conforme
Antes de realizar uma compra internacional, confira se a loja ou plataforma participa do programa oficial da Receita. Isso garante que os tributos serão cobrados corretamente e evita transtornos no recebimento da encomenda.
Compare preços com o varejo nacional
Com a nova tributação, muitas vezes o preço final de uma compra internacional se aproxima ou até ultrapassa o de produtos similares vendidos por empresas brasileiras. Vale a pena pesquisar e considerar prazos e garantias oferecidas localmente.
Acompanhe alterações estaduais
Alguns estados ainda mantêm alíquotas de ICMS inferiores a 20%. Dependendo da sua localização, o impacto da nova regra pode variar. Acompanhar as decisões do seu governo estadual é essencial.
O futuro das compras internacionais no Brasil
A nova fase da taxação marca um esforço do governo para regularizar o comércio eletrônico internacional e proteger o setor produtivo nacional. Apesar das críticas, a medida sinaliza uma tendência de maior controle e arrecadação sobre esse tipo de transação.
Empresas estrangeiras terão que se adaptar rapidamente, seja por meio de operações locais, seja oferecendo benefícios logísticos. Já os consumidores precisarão mudar hábitos, repensar o que vale a pena importar e como equilibrar custo, prazo e qualidade.
Considerações finais
A “taxa das blusinhas” é mais do que um apelido curioso: ela representa uma transformação nas regras do jogo para o comércio eletrônico internacional. Com as novas cobranças, comprar no exterior ficou mais caro — mas também mais transparente. Caberá ao consumidor avaliar se ainda compensa importar ou se é hora de redescobrir o mercado nacional.
Para as plataformas como Shein, Shopee e AliExpress, o desafio é manter competitividade em um novo ambiente regulatório. As mudanças vieram para ficar, e entender cada etapa dessa nova política tributária é essencial para quem não quer surpresas desagradáveis na próxima compra.













