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MPT investiga denúncias contra a Cacau Show

Gigante do chocolate entra na mira do Ministério Público do Trabalho

O Ministério Público do Trabalho (MPT) deu início a uma investigação formal contra a Cacau Show, uma das maiores marcas de chocolates do Brasil, após denúncias envolvendo supostas práticas abusivas no ambiente de trabalho. Funcionários e ex-funcionários da empresa começaram a ser ouvidos neste mês, com o objetivo de apurar a veracidade das alegações que incluem assédio moral, excesso de jornada, metas abusivas e pressões psicológicas.

A empresa, fundada em 1988 e com mais de 3 mil lojas franqueadas no Brasil, é conhecida por sua trajetória de crescimento acelerado e por uma imagem pública pautada em valores como inovação, qualidade e proximidade com os consumidores. As denúncias, no entanto, colocam em xeque a gestão interna da marca e reacendem o debate sobre as condições de trabalho no varejo nacional.

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Como começaram as investigações?

Denúncias encaminhadas ao MPT

As investigações foram iniciadas a partir de denúncias anônimas recebidas via canais oficiais do MPT, segundo nota divulgada pelo órgão. As primeiras alegações apontam para um ambiente considerado “opressor” em unidades da empresa, tanto na rede de franquias quanto em setores administrativos e operacionais.

Entre os principais relatos estão:

  • Metas consideradas inalcançáveis, com pressão constante para ampliar vendas;
  • Relatos de gestores que utilizavam ameaças e humilhações públicas como forma de “motivação”;
  • Casos de funcionários com jornadas superiores a 10 horas sem o devido pagamento de horas extras;
  • Registros de impedimento de pausas e restrição ao uso de banheiros durante o expediente.

Foco em unidades próprias e franqueadas

O MPT informou que a apuração abrange tanto lojas próprias da Cacau Show quanto unidades franqueadas, uma vez que a responsabilidade solidária pode ser aplicada dependendo do grau de controle e exigência que a marca exerce sobre os franqueados.

Etapas da investigação

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Divulgação: Cacau Show

Coleta de depoimentos

Funcionários e ex-funcionários estão sendo chamados para prestar depoimentos presenciais ou virtuais, com garantia de sigilo. Até agora, mais de 40 pessoas já teriam sido ouvidas em diferentes estados brasileiros. O objetivo do MPT é cruzar os relatos para identificar padrões de comportamento e possíveis práticas institucionais lesivas.

Solicitação de documentos

A empresa foi notificada para entregar documentos internos como:

  • Relatórios de jornada;
  • Registros de ponto;
  • Planilhas de metas e bonificações;
  • Códigos de conduta;
  • Registros de auditorias internas e treinamentos corporativos.

Caso o MPT identifique indícios consistentes de violação trabalhista, o processo pode evoluir para um inquérito civil público, com possibilidade de ação judicial e aplicação de multas.

Vistorias nas unidades

Além dos depoimentos e documentos, estão previstas vistorias presenciais em lojas e centros de distribuição, especialmente na sede da empresa, localizada em Itapevi (SP). A equipe do MPT poderá avaliar in loco as condições de trabalho e conversar com funcionários durante o expediente.

O que dizem os trabalhadores?

Relatos de ex-funcionários

Em redes sociais e fóruns como o Glassdoor e o Reclame Aqui, diversos ex-funcionários da Cacau Show relatam ambiente altamente competitivo, com “pressão desumana” para o cumprimento de metas e liderança “centralizadora”. Há também menções a ações punitivas internas para quem não atinge os objetivos — como transferência forçada, exclusão de grupos corporativos e “boicote” a promoções.

Um ex-supervisor afirmou, sob anonimato, que “as metas vinham de cima sem nenhuma flexibilidade, e quem não cumpria era descartado”.

Denúncias de assédio moral

Parte dos relatos trazem indícios de assédio moral contínuo, com frases como “você não serve para estar aqui”, “se não vender, não volta amanhã”, e “funcionário que chora não tem vaga”.

Segundo o MPT, esse tipo de prática fere diretamente os princípios constitucionais da dignidade do trabalhador e pode configurar violação grave, com responsabilização cível e penal.

A resposta da Cacau Show

Nota oficial da empresa

Em comunicado enviado à imprensa, a Cacau Show afirmou que:

“Repudia qualquer prática que vá contra os direitos trabalhistas e a dignidade de seus colaboradores. A empresa está colaborando com o Ministério Público do Trabalho, fornecendo todas as informações solicitadas e reforçando seu compromisso com a ética, o respeito e a valorização de sua equipe.”

A empresa destacou que investe constantemente em programas de treinamento, bem-estar e compliance, e que irá investigar internamente os casos reportados.

Possível revisão de práticas internas

Fontes ligadas ao setor de RH da empresa indicam que um comitê de crise foi criado internamente para avaliar os processos de gestão de pessoas e reforçar os canais de escuta dos colaboradores. Há expectativa de que a empresa anuncie, nas próximas semanas, medidas adicionais para melhorar a cultura interna, incluindo novas ações de ouvidoria e compliance ativo.

Impacto no mercado e na imagem da marca

Abalo na reputação

A Cacau Show sempre se posicionou como marca nacional que alia qualidade de produto com responsabilidade social. Com campanhas publicitárias emocionais e presença em eventos sociais e culturais, construiu uma imagem positiva e de valorização do brasileiro empreendedor.

As denúncias e a investigação do MPT, no entanto, colocam essa reputação sob risco. Em tempos de redes sociais e alta vigilância pública sobre empresas, a gestão de crises será fundamental para mitigar os danos à imagem institucional.

Reflexo nas franquias

Franqueados da marca demonstraram preocupação com os impactos da investigação. Para muitos, a credibilidade da rede é essencial para atrair e fidelizar clientes. Associações regionais de franqueados também aguardam posicionamento mais direto da diretoria executiva.

O que pode acontecer a seguir?

Multas, termos de ajuste e ações judiciais

Caso o MPT comprove irregularidades estruturais, a empresa poderá:

  • Firmar Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com compromissos de correção e pagamento de indenizações coletivas;
  • Ser alvo de ação civil pública com pedidos de indenização por danos morais coletivos;
  • Receber multas administrativas relacionadas à jornada de trabalho, pagamento de horas extras e assédio.

Compromissos com cultura organizacional

Além das medidas jurídicas, empresas envolvidas em denúncias desse tipo costumam ser pressionadas a assumir compromissos públicos com a reformulação de suas práticas internas. Isso pode incluir:

  • Reformulação de políticas de metas e bônus;
  • Treinamento obrigatório de líderes;
  • Canais de escuta e denúncia independentes;
  • Programas de saúde mental no ambiente de trabalho.

Considerações finais: um alerta sobre a realidade do varejo brasileiro

A investigação do MPT contra a Cacau Show expõe um problema estrutural que vai além de uma única empresa. Pressões abusivas, metas inatingíveis e assédio moral ainda são realidades em diversos segmentos do varejo brasileiro, especialmente em redes que crescem aceleradamente sem o devido cuidado com a gestão humana.

Para a Cacau Show, o momento é de reflexão e ação. A forma como a empresa responderá a essas denúncias — tanto institucional quanto juridicamente — determinará não apenas os próximos passos do processo legal, mas também a confiança do público, dos franqueados e dos trabalhadores.

Enquanto o caso avança, o setor empresarial brasileiro é chamado a repensar sua cultura organizacional. Crescimento econômico não pode acontecer às custas da dignidade dos trabalhadores.

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