O Ministério da Saúde iniciou neste mês de julho uma campanha nacional com foco no diagnóstico precoce das hepatites virais. Intitulada “Um teste pode mudar tudo”, a ação integra o movimento do Julho Amarelo, dedicado à conscientização, prevenção e combate às hepatites, em especial os tipos B e C, que frequentemente evoluem de forma silenciosa.
Com materiais educativos, mobilização de profissionais de saúde e reforço no acesso a testes rápidos, a campanha busca fortalecer o controle das hepatites virais no Brasil e reduzir a taxa de mortalidade associada a essas doenças.
Leia Mais:
SUS do Brasil vira referência para modelo comunitário no Reino Unido
Objetivos da nova campanha do Ministério da Saúde
A iniciativa do governo federal tem como meta central incentivar a testagem gratuita nas unidades do SUS, ampliar o diagnóstico precoce, oferecer tratamento adequado aos pacientes infectados e conscientizar sobre a importância da vacinação contra a hepatite B.
Segundo o Ministério, a ideia é atingir especialmente pessoas adultas, com mais de 20 anos, faixa etária em que muitas vezes a infecção passa despercebida. A campanha também busca promover o uso de ferramentas de monitoramento nacional, permitindo que gestores de saúde acompanhem dados em tempo real sobre casos diagnosticados e tratamentos iniciados.
Quadro atual das hepatites virais no Brasil
Redução na mortalidade nos últimos anos
Dados atualizados indicam que o Brasil tem conseguido avanços importantes no enfrentamento das hepatites. Entre 2014 e 2024, a mortalidade por hepatite C caiu cerca de 60%, e por hepatite B, 50%. Esses resultados refletem a ampliação da oferta de tratamento pelo SUS, a vacinação em larga escala e o uso de testes rápidos nas unidades básicas de saúde.
Mesmo com esses avanços, o Ministério da Saúde alerta que milhares de brasileiros ainda convivem com a doença sem saber, o que reforça a urgência de campanhas educativas e do acesso facilitado ao diagnóstico.
Estimativas e casos subnotificados
Estima-se que mais de 750 mil pessoas tenham sido diagnosticadas com algum tipo de hepatite viral no Brasil entre 2000 e 2022. Desses, mais de 70% dos casos referem-se às hepatites B e C. Especialistas acreditam, no entanto, que o número real pode ser ainda maior, dado o caráter assintomático das infecções nas fases iniciais.
Como funcionam os testes e onde fazer

A campanha “Um teste pode mudar tudo” destaca que qualquer pessoa pode procurar a unidade de saúde mais próxima para realizar o exame gratuitamente. Há dois tipos principais de testes: os rápidos, com resultado em até 30 minutos, e os laboratoriais, que oferecem maior detalhamento em caso de infecção.
A recomendação oficial é que toda pessoa adulta faça pelo menos um teste ao longo da vida, especialmente em situações de risco, como:
- Histórico de transfusão antes de 1993
- Compartilhamento de objetos perfurocortantes
- Relações sexuais sem preservativo
- Uso de drogas injetáveis ou inaláveis
Tratamento gratuito e eficaz pelo SUS
Hepatite C: cura superior a 95%
O tratamento da hepatite C avançou significativamente nos últimos anos. O SUS disponibiliza antivirais de ação direta, capazes de curar a doença em mais de 95% dos casos. O esquema de tratamento dura de 8 a 12 semanas e é oferecido gratuitamente a pacientes diagnosticados.
Em 2024, mais de 9 mil pessoas iniciaram tratamento para hepatite C no Brasil. A meta do governo é expandir esse número nos próximos anos, garantindo cobertura nacional e continuidade do tratamento.
Hepatite B: controle ao longo da vida
Já a hepatite B, embora não tenha cura definitiva, pode ser controlada com medicamentos como o tenofovir e o entecavir, disponíveis na rede pública. O uso contínuo dos antivirais reduz significativamente a carga viral e impede a progressão da doença para cirrose ou câncer hepático.
Segundo dados recentes, 58 mil brasileiros iniciaram o tratamento para hepatite B em 2024, embora outros 50 mil pacientes elegíveis ainda não tenham acesso ao protocolo completo.
Ferramentas digitais para gestores estaduais e municipais
Além das ações voltadas à população, o Ministério da Saúde lançou uma plataforma de monitoramento de hepatites para auxiliar os gestores de saúde pública. A ferramenta permite o acompanhamento de:
- Casos diagnosticados por município
- Início e interrupção de tratamentos
- Taxa de cobertura vacinal
- Indicadores de abandono de tratamento
Com essa base de dados, os profissionais da área conseguem planejar melhor as ações locais, identificar falhas e tomar decisões mais rápidas para conter a disseminação das hepatites.
Ações nos estados e municípios
Diversas cidades e estados já estão mobilizados com atividades relacionadas ao Julho Amarelo, como:
- Testagens em massa em praças públicas
- Iluminação de prédios públicos com a cor amarela
- Campanhas em escolas e universidades
- Palestras em centros de saúde e abrigos
Em estados como Goiás, Espírito Santo, Paraná e Ceará, as secretarias de saúde vêm realizando mutirões de testagem e distribuição de material informativo.
Prevenção ainda é o melhor caminho
Vacinação contra hepatite B
A vacina contra a hepatite B é uma das principais formas de prevenção da doença. Disponível gratuitamente no SUS, o esquema vacinal é composto por três doses, iniciando ao nascer e sendo recomendada para qualquer pessoa que não tenha comprovação de imunização anterior.
Crianças, adolescentes, adultos e profissionais da saúde devem verificar a situação vacinal e atualizar as doses, caso necessário. Também é recomendada para gestantes, pessoas com doenças crônicas e indivíduos que fazem uso de PrEP.
Medidas de prevenção adicionais
Além da vacinação, outras formas de prevenir o contágio por hepatites incluem:
- Uso de preservativos em todas as relações sexuais
- Não compartilhar seringas, agulhas, alicates ou escovas de dente
- Cuidados com procedimentos estéticos, como tatuagens e piercings
- Higienização correta dos alimentos e das mãos
Essas medidas ajudam a reduzir não só a transmissão das hepatites, como também de outras doenças virais e bacterianas.
Riscos do diagnóstico tardio
O principal perigo das hepatites B e C é a evolução silenciosa da doença, que pode levar à falência do fígado, cirrose e até câncer hepático sem apresentar sintomas evidentes. Muitas vezes, os pacientes só descobrem a infecção em estágios avançados, quando o tratamento se torna mais complexo e menos eficaz.
Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental. Detectar a infecção nos primeiros estágios permite iniciar o tratamento rapidamente, evitar complicações e quebrar a cadeia de transmissão.
Metas da OMS e o compromisso brasileiro
A Organização Mundial da Saúde estabeleceu como meta a eliminação das hepatites virais como problema de saúde pública até 2030. Isso inclui:
- Redução de 90% dos casos novos
- Redução de 65% da mortalidade
- Acesso universal ao diagnóstico
- Tratamento para pelo menos 80% dos pacientes elegíveis
O Brasil está comprometido com esses objetivos e, segundo o Ministério da Saúde, vem avançando nos indicadores, especialmente com a ampliação de acesso ao tratamento e a intensificação de campanhas como a do Julho Amarelo.
Considerações finais
A nova campanha do Ministério da Saúde reforça a importância de agir agora contra as hepatites virais, especialmente os tipos B e C, que podem passar anos sem apresentar sintomas. Com exames gratuitos, vacinação disponível, medicamentos eficazes e ações educativas em todo o país, o Brasil está mais preparado para enfrentar a doença.
O recado da campanha é simples e direto: “Um teste pode mudar tudo”. A conscientização é o primeiro passo para salvar vidas, e a população tem papel fundamental nesse processo. Vacine-se, proteja-se e, principalmente, faça o teste.













