Microplásticos podem desregular o relógio biológico e trazer riscos à saúde

O que são os microplásticos e como entram no organismo
Fragmentos de plástico microscópicos, conhecidos como microplásticos, estão presentes em praticamente todos os ecossistemas do planeta. Eles se originam tanto da degradação de itens maiores — como garrafas e sacolas — quanto da fabricação intencional, como em cosméticos, roupas sintéticas e produtos de limpeza.
Estudos recentes mostram que essas partículas não apenas contaminam o ar, a água e o solo, mas também chegam ao corpo humano por meio da respiração e da ingestão de alimentos e bebidas. O resultado é uma exposição contínua e inevitável, que levanta preocupações crescentes sobre seus efeitos na saúde.
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O papel do relógio biológico
O que é o ritmo circadiano
O corpo humano é regulado por um sistema interno chamado ritmo circadiano, popularmente conhecido como relógio biológico. Ele organiza processos vitais ao longo de 24 horas, como ciclos de sono, produção hormonal, digestão e temperatura corporal.
Quando esse sistema entra em descompasso — situação chamada cronodisrupção — há aumento no risco de doenças como obesidade, diabetes, depressão e distúrbios do sono.
Por que o tema preocupa os cientistas
O que torna os microplásticos especialmente perigosos é sua capacidade de liberar substâncias químicas que interagem com receptores e genes ligados à regulação do ritmo circadiano. Pesquisadores acreditam que a exposição contínua, mesmo em pequenas doses, pode causar atrasos cumulativos no ciclo sono-vigília, prejudicando a saúde a longo prazo.
Como os microplásticos afetam o corpo humano

Substâncias químicas liberadas
Polímeros comuns, como PVC e poliuretano, podem liberar compostos que atuam diretamente em receptores relacionados à adenosina, molécula crucial para induzir sono e controlar o estado de alerta. Experimentos laboratoriais mostraram que essa interferência provoca atrasos no ciclo diário, semelhantes a uma leve ingestão de cafeína.
Experimentos com animais
Em moscas da fruta, a exposição a microplásticos reduziu o tempo de sono, encurtou a expectativa de vida e afetou a fertilidade. Peixes expostos a polímeros biodegradáveis apresentaram alterações no desenvolvimento e passaram mais tempo em vigília. Já em ratos, os nanoplásticos prejudicaram o intestino e afetaram genes ligados ao relógio biológico, como Per1.
Esses resultados sugerem que os efeitos não se limitam a espécies específicas e podem ser extrapolados para a saúde humana.
Efeitos metabólicos
Pesquisas também indicam que microplásticos derivados de amido alteram o metabolismo da glicose e dos lipídios. A consequência é uma desregulação metabólica que pode favorecer doenças como diabetes tipo 2 e distúrbios cardiovasculares.
Relação entre microplásticos, sono e saúde mental
Impacto no ciclo sono-vigília
Se o corpo demora mais para sentir sono ou acorda de forma irregular, há desequilíbrio no ciclo circadiano. Isso pode gerar fadiga, irritabilidade e perda de concentração, além de reduzir a capacidade de memória e aprendizado.
Efeitos emocionais
A alteração do sono afeta a produção de hormônios como a serotonina e a melatonina, ligados ao humor. A longo prazo, a exposição constante a microplásticos pode se tornar um fator de risco adicional para quadros de ansiedade e depressão.
Por que a exposição é inevitável
Presença em alimentos e bebidas
Estudos já identificaram microplásticos em peixes, frutos do mar, sal, água potável, cerveja e até no ar atmosférico. Como resultado, todos os dias ingerimos e inalamos pequenas quantidades sem perceber.
Produtos de uso diário
Roupas sintéticas liberam microfibras a cada lavagem. Cosméticos esfoliantes e pastas de dente podem conter partículas plásticas microscópicas. Até garrafas PET liberam fragmentos ao longo do tempo.
Como reduzir a exposição
Medidas individuais
- Trocar descartáveis por reutilizáveis: evitar copos, talheres e sacolas de plástico.
- Preferir tecidos naturais: algodão, linho e lã reduzem a liberação de microfibras.
- Filtrar a água: alguns filtros já conseguem reter parte dos microplásticos.
- Optar por produtos livres de microesferas: ler rótulos ajuda a evitar cosméticos com partículas plásticas.
Medidas coletivas
Governos e indústrias precisam investir em alternativas ao plástico convencional, ampliar a reciclagem e incentivar o uso de biopolímeros seguros. Sem políticas públicas eficazes, a exposição da população continuará aumentando.
O que a ciência ainda precisa investigar
Apesar dos avanços, muitas perguntas permanecem sem resposta. Qual é a quantidade exata de microplásticos que o corpo humano acumula ao longo da vida? Há limites seguros de exposição? Como esses fragmentos interagem com diferentes tecidos e órgãos?
Pesquisadores também investigam se é possível reverter os danos causados, seja por meio de medicamentos, suplementos ou mudanças de estilo de vida.
O que está em jogo
Consequências individuais
O descompasso do relógio biológico provocado pelos microplásticos pode comprometer desde a qualidade do sono até funções metabólicas e cognitivas. A longo prazo, isso significa maior incidência de doenças crônicas.
Consequências globais
A contaminação por microplásticos não é apenas um problema de saúde individual, mas também uma ameaça coletiva. Com bilhões de pessoas expostas diariamente, os impactos podem sobrecarregar sistemas de saúde em todo o mundo.
Considerações finais
Os microplásticos deixaram de ser apenas uma preocupação ambiental para se tornarem uma questão de saúde pública. Evidências mostram que eles podem interferir no relógio biológico, alterando o sono, o metabolismo e até o humor.
Reduzir o uso de plásticos, pressionar por políticas mais rígidas e investir em alternativas sustentáveis são passos fundamentais para minimizar os riscos. A ciência ainda precisa de respostas mais detalhadas, mas já está claro que os microplásticos são um inimigo invisível que ameaça o equilíbrio natural do corpo humano.

