Vítima de uma tragédia, o menino Nicholas Green, de apenas 7 anos, deixou um verdadeiro legado na Itália. Após ser assassinado a tiros em 1994, durante viagem da família ao país, seus pais, Reg e Maggie, decidiram doar os seus órgãos. E sua decisão fez com que as doações de órgãos em território italiano triplicassem em uma década, o que desencadeou o chamado “efeito Nicholas”.
A noite da morte do garoto repousa tristemente no coração dos pais. De acordo com seu relato, não houve qualquer explicação para o ato cruel. O casal se recorda que assim que um carro escuro se aproximou de maneira suspeita, seu primeiro instinto foi fugir. E de repente, o som do vidro de seu carro se quebrando após um tiro os deixou sem chão. A bala encontrou um alvo.
Ao olharem para trás, Reg e Maggie se depararam com Nicholas deitado no banco do passageiro ao lado de seu irmão. Um olhar desavisado faria parecer que ele estava dormindo, mas na verdade, a bala o atingiu em cheio na cabeça. E após o momento tão assustador, o carro escuro desapareceu por entre as ruas italianas.
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Nicholas nos alpes Suíços poucos dias antes de sua morte – Foto: Reg Green
Afinal, o que os homens dentro daquele veículo preto queriam? A pergunta provavelmente permanecerá para sempre no ar. Foi um assalto? Um engano? Ninguém sabe! O fato é que na Itália, matar crianças é algo muito raro, pois as autoridades se mobilizam de maneira intensa para buscar os culpados. E o dito foi feito. Dois homens, Francisco Mesiano e Michele Iannello foram condenados à prisão.
“Eu parei e desci do carro. A luz interior acendeu, mas Nicholas não se mexeu. Eu olhei mais perto e vi que sua língua estava um pouco para fora e que havia um pouco de vômito no seu queixo”, relatou o pai em um livro – ‘O Efeito Nicholas’ – no qual ele fala sobre a terrível experiência. “O choque de vê-lo daquele jeito foi o momento mais sombrio da minha vida. Eu olhei para ele baleado e meu mundo inteiro mudou”, completou Reg.
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Reg Green com seus filhos, Eleanor e Nicholas – Foto: Red Green
Após o pesadelo que tomou as suas férias, mesmo em meio a toda a dor, os pais decidiram que o melhor a fazer era doar os órgãos do menino. E assim, sua córnea, seus rins, seu fígado, sua córnea, seu pâncreas e seu coração encontraram novos corpos: “Naquele momento, essas pessoas eram meras abstrações. Você não sabia que tipo de pessoas elas eram. Foi como dar dinheiro à caridade sem saber como isso vai ajudar. Quatro meses depois, fomos convidados a conhecê-los na Sicília, onde quatro deles [que receberam os órgãos] moravam”.
E a ação e sua repercussão fizeram uma enorme diferença. Até 1993, um ano antes da morte do garoto, a média de doadores era de 6,2 para cada um milhão de pessoas. Em 2006, uma nova estatística mostrou que o número subiu para 20 a cada milhão. Um país que estava entre os últimos em termos de doação de órgãos no continente europeu hoje figura no topo.
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A praça Nicholas Green, situada na cidade de Cassino, é um dos vários lugares do país que levam o nome do menino – Foto: Reg Green
O caso do menino britânico deixou marcas no país italiano. Para se ter uma ideia, existem mais de 120 lugares batizados em sua homenagem: 50 parques e ruas; 27 escolas; 27 parques e jardins; 16 outros monumentos e instalações, incluindo uma ponte e um teatro.
“Nicholas era um menino gentil que sempre olhava o lado bom das coisas, então quando você estava com ele, você sempre queria dar o seu melhor”, afirma o pai. “Eu sei que com 7 anos ele provavelmente não seria capaz de entender, mas quando crescesse, seria isso o que ele teria gostado que fizéssemos. Não tenho dúvidas”.
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Andrea Mongiardo (no centro à esquerda), o homem que recebeu o coração de Nicholas, em uma foto de 1987 – Foto: Família Mongiardo
Agora em 2017, Andrea Mongiardo, o homem que recebeu o coração de Nicholas faleceu. O menino pode ter morrido em 1994, mas seu coração só parou de bater agora”.


Nicholas nos alpes Suíços poucos dias antes de sua
Reg Green com seus
A praça Nicholas Green, situada na cidade de Cassino, é um dos vários
Andrea Mongiardo (no centro à esquerda), o homem que recebeu o coração de Nicholas, em uma foto de 1987 – Foto: 









