Há séculos, a crença de que a deusa hindu Kali possui o corpo de meninas é exaltada no Nepal. Para nós, brasileiros, criados dentro de uma religião cristã, esta ideia pode parecer absurda, mas a maioria dos nepaleses, seriamente acreditam nesta divindade que habita o corpo das garotas até que elas menstruem.
Para a escolha da menina que será idolatrada como encarnação da deusa, algumas característica são exigidas como: mapa astral, pertencer à comunidade indígena de Newar e à família Shakyater, ter entre dois e quatro anos, ter uma voz agradável, atributos físicos e psicológicos, dentes perfeitos, histórico médico impecável, olhos e cabelos escuros e o mesmo signo de zodíaco do presidente da república, acredita-se que a última garante prosperidade ao país. Além disso, as crianças são obrigadas a passar por testes de coragem. Para as famílias destas meninas, a escolha de das filhas costuma ser um motivo de grande orgulho e honra.
Entretanto, o reinado de uma “Kumari” (menina virgem) é curto, o status de menina deusa, somente dura até ocorrer sua menarca (primeira menstruação) que segundo as crenças, é o período em que a deusa deixa o corpo da menina e procura o corpo de outra virgem que ainda não tenha virado “mocinha”. E por mais estranho que pareça, elas são como celebridades no Nepal, frequentemente tendo sua imagem usada como atração turística.
No entanto, as meninas deusas assim que escolhidas, passam a viver em isolamento social. Não podem sair do templo em que vivem e são educadas dentro dele, somente visitando o exterior para marcar presença em festas religiosas. Então, após a deusa Kali deixar seus corpos, as meninas devem deixar o templo em que viveram durante anos e passar por um difícil período de ressocialização a fim de ter uma vida comum.
A atual Kumari foi escolhida nesta última quinta-feira, Trisnha Shakya tem apenas três anos de idade e foi levada para o Palácio Kumari Ghar de Katmandu, onde ficará reclusa por alguns anos. A pequena menina deusa esta sucedendo a ex-kumari que deixou o posto aos 12 anos de idade. Um dos membros do comitê que selecionou Trisnha, disse que a escolha se deu pelo mapa astral que era mais adequado que o das outras meninas.
Ao som de uma música tradicional, a nova reencarnação da deusa Kali, foi acompanhada de sua casa até o Palácio por centenas de pessoas que a reverenciavam.
