Menina russa que sobreviveu 11 dias na floresta com sua cadela hoje quer ser médica
O desaparecimento da menina que parou a república de Sakha
Karina morava com a mãe em uma aldeia da República de Sakha (Iacútia), uma das regiões mais frias e isoladas da Rússia. Em julho de 2014, ela saiu de casa acompanhada apenas por Naida, a cadela da família, com o objetivo de visitar o pai que vivia em uma vila próxima. A jornada parecia curta, mas se tornou um pesadelo quando Karina se perdeu entre trilhas e vegetações densas da floresta siberiana.
A família só percebeu a ausência dias depois, devido à dificuldade de comunicação entre as localidades. Quando as autoridades foram acionadas, o tempo já havia avançado consideravelmente, o que tornava as chances de encontrar a menina com vida cada vez mais remotas.
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Uma floresta implacável
A floresta onde Karina se perdeu é conhecida por sua fauna selvagem — incluindo ursos e lobos — e por temperaturas severas, mesmo no verão. Durante o dia, o calor pode ser escaldante, enquanto à noite, a queda brusca de temperatura representa um risco real de hipotermia. Além disso, o terreno irregular, com muitos pântanos e matas fechadas, dificultava a movimentação e aumentava o perigo.
Ainda assim, Karina sobreviveu. Sem comida adequada, sem abrigo e com roupas leves, ela resistiu como pôde, bebendo água de riachos, alimentando-se com pequenas frutas e dormindo enrolada na cadela Naida, que ficou ao seu lado na maior parte do tempo.
A atitude decisiva da cadela
Depois de vários dias desaparecida, a cadela voltou sozinha para casa. A princípio, os familiares temeram o pior, imaginando que Karina não havia resistido. Mas o retorno de Naida foi o que salvou a menina: os rastros do animal foram usados como pista para as buscas. A partir desse momento, as equipes de resgate concentraram seus esforços nas regiões próximas de onde a cadela surgiu.
Dois dias depois, Karina foi finalmente localizada. Desnutrida, fraca, coberta de picadas de insetos e arranhões, mas viva. O resgate foi considerado um milagre.
Um resgate que comoveu o país

A imagem da menina sendo retirada da floresta e recebendo atendimento médico percorreu os noticiários russos e internacionais. O caso ganhou grande repercussão e foi celebrado como uma história de coragem, sobrevivência e laço animal-humano.
Ela foi levada a um hospital da região, onde passou por avaliação médica. Apesar de apresentar quadro clínico delicado, sem ferimentos graves, Karina se recuperou surpreendentemente bem. Médicos classificaram sua sobrevivência como um caso raro e inspirador.
Reconhecimento nacional
A imprensa russa apelidou Karina de “a Mowgli da Sibéria”, em referência ao personagem do “Livro da Selva” que cresceu entre animais. Ela recebeu homenagens do governo local, ganhou presentes e teve até uma estátua instalada em sua cidade natal, representando ela e a cadela Naida, como símbolo de resiliência e fidelidade.
A história virou tema de programas de televisão, reportagens especiais e campanhas de conscientização sobre os perigos nas áreas rurais e o poder do vínculo com os animais.
Os anos depois da tragédia
Passado o tempo, Karina cresceu longe dos holofotes. Sua família optou por manter a discrição, protegendo-a da exposição excessiva. Contudo, recentemente, agora com 14 anos, ela concedeu uma entrevista à imprensa russa e revelou um novo capítulo de sua história.
Segundo Karina, a experiência na floresta foi aterrorizante, mas também despertou nela um profundo desejo de ajudar os outros. Inspirada pelos médicos que cuidaram de sua recuperação e pelo apoio emocional que recebeu, a adolescente expressou a vontade de se tornar médica.
“Quero salvar vidas como salvaram a minha”
Com voz tímida, mas determinada, Karina disse que se lembra de tudo. “Foram dias muito difíceis. Eu tive muito medo, sentia frio e fome. Mas a Naida ficou comigo, me protegeu e me manteve aquecida. E depois, quando os médicos me cuidaram, decidi que queria fazer isso também: cuidar das pessoas.”
A menina estuda em uma escola da região e, segundo seus professores, é dedicada, gentil e determinada. A família afirma que ela ainda convive com lembranças difíceis, mas está em constante evolução emocional.
A importância dos animais nas relações humanas
A história de Karina e Naida reforça a importância do vínculo entre humanos e animais, especialmente cães, cuja lealdade é constantemente comprovada. Naida não apenas protegeu a menina, mas foi peça fundamental para o desfecho positivo da história.
Estudos mostram que a presença de um animal de estimação pode aumentar a sensação de segurança, diminuir o estresse e até melhorar o sistema imunológico em situações extremas. O caso de Karina é um exemplo vivo desses efeitos, que ultrapassam fronteiras emocionais e biológicas.
Símbolo de superação e esperança
Mais do que uma história de sobrevivência, o caso de Karina representa esperança. Em tempos de incerteza e tragédias constantes, a trajetória dessa menina que enfrentou sozinha os perigos da floresta com a ajuda de uma companheira de quatro patas serve como lembrete da força humana, da conexão com os animais e da capacidade de transformar sofrimento em propósito.
Considerações finais
A jornada de Karina Chikitova continua a inspirar. Sua infância marcada por um evento traumático não foi capaz de apagar sua esperança no futuro. Hoje, ela transforma a dor em motivação, sonhando em salvar vidas como a sua foi salva. Ao seu lado, a memória de Naida permanece como símbolo eterno de amizade verdadeira e amor incondicional.
Essa é uma história que merece ser contada e recontada, não apenas pelo heroísmo envolvido, mas pela mensagem universal de que, mesmo nas piores circunstâncias, o instinto de sobrevivência e a presença de um amigo — mesmo que de quatro patas — podem mudar tudo.


